segunda-feira, 6 de maio de 2024

Virusaperiódico (1)


Foto de José Pedro Medeiros

Virusaperiódico (1)

Sem pompa nem circunstância, como é hábito, celebrou-se (pouco), o 1º de Maio nos Açores.

A propósito daquela data, as comemorações do 1º de Maio, em São Miguel, ocorreram pela primeira vez, em 1897, por iniciativa de Alfredo da Câmara, isto é, sete anos depois da primeira celebração em Lisboa (1890) e 11 anos depois da greve realizada, no 1º de Maio de 1886, nos Estados Unidos da América.

Na sexta-feira, 3 de maio, foi lançado publicamente, na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, o livro “A Família Miranda: resistência e multiculturalismo”. Com uma presença de meia centena de pessoas, foi uma sessão muito interessante, tendo apreciado muito a apresentação de Gilberta Rocha e a comunicação do Álvaro Miranda.

Como cheguei ao conhecimento dos vários membros daquela família?

Interessei-me por conhecer melhor Lúcio Miranda, depois de ler um seu texto sobre a vida e a obra de Ghandi publicado na revista Insulana, do Instituto Cultural de Ponta Delgada. Depois deste livro editado, aprofundei o meu conhecimento sobre a sua atividade cultural, entre 1945 e 1952, de que destaco a sua colaboração no jornal “Açores”, através da página “Educação e Ensino” que tinha como subtítulo “uma página a que o prof. Lúcio de Miranda dá orientação pedagógica”.

Cheguei ao conhecimento de Fédora Miranda, através das minhas pesquisas sobre Alice Moderno e a vida da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. Descobri que a primeira teve uma digna sucessora, Fédora Miranda, que foi presidente daquela associação entre 1947 e 1954. Também, posteriormente à edição do livro fiquei a saber que a SMPA, entre 1947 e 1949, manteve uma página no “Açores” em que Fédora Miranda deu a sua colaboração.

A Sacuntala de Miranda, cheguei, através da leitura de “O Ciclo da Laranja e os “gentlemen farmers” da ilha de São Miguel:1780-1880”. Depois desta primeira leitura, outras se seguiram, mas só li o seu livro de poesia, na fase de preparação deste livro.

Com Álvaro de Miranda a situação foi diferente, isto é, fui contatado por ele no dia 30 de abril de 2023, através de uma rede social, a dizer que vinha a São Miguel em outubro e que gostava de me conhecer.

Só recentemente li, com olhos de ler, a entrevista que João Bosco Mota Amaral, deu ao Açoriano Oriental no dia 25 de Abril deste ano. Nela há duas afirmações que poderão surpreender os mais distraídos: “Foi o 25 de Abril e não o 6 de junho que impulsionou a Autonomia” e “E, de um certo ponto de vista, até entendo que a própria revolução – o Processo Revolucionário em Curso – permitiu que houvesse determinados avanços sociais que de outra maneira não seriam feitos…”

Tenho continuado a estudar as abelhas, através de um livro que me foi oferecido pelos meus colegas quando me reformei e a fazer observações sobre as plantas que as abelhas procuram.

A última observação ocorreu a 1 de maio, perto do Centro de Saúde de Ponta Delgada. Vi por volta das 13h 30 min várias abelhas nas flores de papoilas-da-califórnia (Eschscholzia californica Cham.).

5 de maio de 2024

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Mil-folhas


Mil-folhas

O mil-folhas, milefólio, erva-dos-carpinteiros ou milenrama (Achillea millefolium) é planta nativa da Europa que pertencente à família Asteraceae.

Trata-se de uma planta herbácea perene, rizomatosa, ereta e aromática que pode atingir de 30-50 cm de altura. As suas folhas são compostas, atingindo de 5 a 8 cm de comprimento. As flores são brancas.

Da mesma espécie é possível encontrar várias variedades que apresentam flores de cores diversas que são cultivadas com fins ornamentais.

O mil-folhas é uma planta de muito fácil propagação, pois multiplica-se facilmente por estacas ou por divisão da touceira.

O uso do mil-folhas na medicina popular micaelense parece-nos ser mais recente, pois não encontramos qualquer referência a esta planta em toda a literatura que consultamos sobre o assunto e a mesma nunca foi referida nas centenas que questionários que fizemos, com a ajuda de alunos e professores, na ilha de São Miguel, nos anos de 1988, 1989, 1990 e 1992.

Na ilha da Madeira, por seu lado, a planta é referida por Fátima Freitas e Maria da Graça Mateus na sua publicação “Plantas e seus usos tradicionais-Freguesia Fajã da Ovelha”, publicado em 2013.

Segundo as autoras referidas a planta que vimos referindo, também conhecida por macela-da-venezuela, na Madeira é “cultivada em jardins e naturalizada em beiras de caminhos, terrenos abandonados e pastagens” e apresenta os seguintes usos: “chá das folhas para estomago, intestinos, reumatismo, chagas e “todas as dores” …”

De acordo com Cunha, Silva e Roque (2003) o uso desta planta apresenta várias contraindicações e efeitos secundários pelo que devem ser tomadas precauções. De qualquer modo autores citados apresentam como principais indicações “dificuldades digestivas, disfunção hepatobiliar, anorexia”.

domingo, 28 de abril de 2024

Canforeira


Canforeira

A canforeira (Cinnamomum camphora (L.) J. Presl) é uma planta pertencente à família Lauraceae oriunda do Japão, Taiwan e Malásia, cultivada em regiões tropicais e subtropicais.

A canforeira é uma árvore de folha perenifólia, com tronco com casca rugosa que pode atingir 10 metros de altura. As folhas são alternas, ovadas, bruscamente acuminadas, sendo a página superior luzidia e a inferior glauca, que cheiram a cânfora quando esmagadas. As flores, que aparecem em março e em abril, são muito pequenas e surgem em cachos e os frutos são bagas globosas negras.

A sua chegada aos Açores poderá ser devida a João Carlos Scholtz (1741-1823) que foi comerciante e cônsul da Rússia e da Prússia e possuiu uma casa numa Quinta na Arquinha, onde era possível encontrar uma grande variedade de plantas e que de acordo com Briant Barret, numa propriedade sua existente nas Socas introduziu “…as melhores flores da Europa, árvores de boa madeira, bem como outras plantas, ainda não existentes nas outras ilhas”.

Na publicação “Observações sobre a ilha de São Miguel recolhidas pela Comissão enviada à mesma ilha em agosto de 1825 e regressada em outubro do mesmo ano”, Luís Mouzinho da Silva Albuquerque e o seu ajudante Ignacio Menezes referem o seguinte:

“…A esta parte da cultura da ilha prestou importantes serviços o falecido prussiano João Carlos Scholtz, aclimatando nela diferentes árvores exóticas, propriíssimas para servirem de abrigo às laranjeiras, entre as quais se nota o Laurus camphora, que hoje é assaz comum na ilha, e cujo primeiro tronco se conserva na quinta…”

A Laurus camphora que atualmente é denominada de Cinnamomum camphora é a canforeira que não sendo muito comum pode ser encontrada em alguns jardins, como no Jardim José do Canto, no Jardim António Borges, no Pinhal da Paz e no Jardim Duque da Terceira, em Angra do Heroísmo.

O geógrafo madeirense Raimundo Quintal, num texto intitulado “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel-Proposta de classificação”, publicado em 2019, defendeu a classificação como de interesse público de dois exemplares existentes no Jardim Botânico José do Canto.

Saraiva (2020) refere que a sua multiplicação pode ser feita por “estacas semilenhosas” “e por sementes, as quais devem limpar-se da parte carnuda do fruto e semear-se quanto antes, pois o período durante o qual a semente é viável é curto.”

Sobre o seu uso, Saraiva (2020) menciona a sua utilização como planta ornamental e a sua madeira em marcenaria e através da sua destilação para a obtenção da cânfora.

Para além do seu uso, entre nós, como planta ornamental, Alfredo da Silva Sampaio, na sua “Memória sobre a Ilha Terceira”, publicada em 1904, inclui a canforeira numa lista de plantas empregadas em construções e em marcenaria.

Cunha, Sila e Roque, no livro “Plantas e produtos vegetais em fitoterapia”, publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 2003, sobre a cânfora escrevem que “o óleo essencial, devido à cânfora, é um estimulante respiratório, revulsivo e anti-séptico.”

Sobre os usos etnomédicos e médicos, os mesmos autores escreveram o seguinte:

“Internamente em gripes e tosse. Externamente, em fricções, como estimulante respiratório e anti-séptico em gripes e bronquites. Como revulsivo em mialgias e reumatismos.”

sexta-feira, 26 de abril de 2024

25 de Abril na Lagoa

Participação com um texto num painel.
25 de Abril de 2024

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Na RTPA a propósito do 25 de Abril

Durante a ditadura, foram presos mais de 30 mil antifascistas. Mais de 600 estiveram presos na ilha Terceira, entre eles meia centena de naturais ou residentes nos Açores - oito morreram por falta de assistência médica, má alimentação e maus tratos. Estes números resultam da investigação de Teófilo Braga e foram divulgados no seu livro 'Resistência e Liberdade, um dicionário de opositores ao Estado Novo nos e dos Açores'. #50anos25deAbril #25deAbril Aqui: https://fb.watch/rGrI_Hh-Zc/

quarta-feira, 24 de abril de 2024


Sobre o cravo

O craveiro ou cravo (Dianthus caryophyllus) é uma espécie, pertencente à família Caryophyllaceae, nativa do sul da Europa. O género Dianthus possui cerca de 300 espécies, existindo centenas de híbridos.

Introduzido há muitos anos para fins ornamentais, José do Canto, em 1856, no seu jardim em Ponta Delgada, possuía 4 espécies. Para além da mencionada, em Santana, existiam também o cravo-dos-poetas ou cravina-dos-jardins (Dianthus barbatus), o cravo-chinês ou cravina (Dianthus chinensis) e a grande-rosa (Dianthus superbus).

O cravo é uma planta herbácea perene, que pode atingir uma altura de 60 a 90 cm, com folhas opostas, longas e lineares de tonalidade azulada. As suas flores, de cores diversas, são grandes e muito perfumadas, sendo simples na espécie silvestre e dobradas nas variedades cultivadas. Os frutos são cápsulas ovoides alongadas.

A cada cor do cravo está associado um significado. Assim, o branco está ligado ao amor puro e à inocência, o vermelho ao respeito e à paixão, o amarelo à alegria e vivacidade e o roxo à criatividade.

O cravo vermelho foi, sobretudo para as mulheres progressistas o símbolo da igualdade, sendo por elas usados em várias manifestações públicas.

O cravo é cultivado em quintais e jardins, em bordaduras ou em conjuntos isolados, em locais de sol pleno ou meia-sombra e também como flor de corte.

O cravo também é usado como planta medicinal. Assim, no século XVII, Simon Paulli, médico e botânico alemão, menciona o uso das flores do cravo maceradas em vinagre evitava a peste e preservava de ares malignos e pestilentos. No século XVIII, José Quer, médico e botânico espanhol, refere o uso do cravo para combater várias doenças, entre as quais afeções da cabeça e dos nervos.

Na atualidade, as suas pétalas, muito aromáticas e picantes, são comestíveis e usadas medicinalmente. Fernanda Botelho, no seu livro “Flores que se Comem” escreve que as flores podem ser usadas “frescas, cristalizadas ou desidratadas” e segundo o Dr. José Lyon de Castro, o seu uso na medicina deve-se ao facto de possuírem as seguintes propriedades: tónicas, peitorais, excitantes e um pouco diaforéticas.

Várias espécies do género Dianthus são usadas medicinalmente, nomeadamente as conhecidas por cravinas.

Raimundo Quintal, no dia 24 de março de 2024, informou-me que num canteiro das plantas aromáticas e medicinais do Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra, na ilha da Madeira, existe um núcleo de cravos-chineses ou cravinas (Dianthus chinensis) que foram plantados pela Engª Fátima Freitas e que, segundo informação que lhe fora transmitida, as flores eram comestíveis e possuem propriedades antioxidantes.

O médico Oliveira Feijão sobre o assunto escreveu o seguinte: “planta da qual se cultivam diversas variedades em jardins. O povo usa as pétalas secas (sem as “unhas”) da variedade de flor rubra, em infuso ou xarope, como tónico, béquico e diaforético.”

Fernanda Botelho, por seu turno, sobre as propriedades das cravinas, escreveu o seguinte: “Há mais de 2 mil anos que é usada pela medicina tradicional oriental, no caso de disfunções dos sistemas digestivo e urinário, principalmente cistite, para tratamento de prisão de ventre, febres, cólicas menstruais, tosse e cálculos renais.”

Foi como flor de corte e fruto do acaso que, no dia 25 de Abril de 1974, Celeste Martins Caeiro ofereceu um cravo a um soldado que lhe havia pedido um cigarro e este colocou-o no cano da espingarda, gesto que foi seguido por outros. Tal gesto fez com que o cravo se tornasse o símbolo do golpe militar que derrubou a ditadura que oprimiu o povo português durante 48 anos, ficando o mesmo conhecido por Revolução dos Cravos.

O cravo surge na literatura portuguesa relacionado ou não com a Revolução dos Cravos.

Ary dos Santos, no seu poema “As portas que abril Abriu”, publicado em 1975, escreveu a seguinte quadra:

Contra tudo o que era velho

Levantado como um punho

Em Maio surgiu vermelho

O cravo do mês de Junho.”

José Fanha, em 1977, no seu poema “Contra um tanque”, publicado na brochura “Olho por Olho” incluiu a seguinte quadra:

“Cravo mole não fura a noite

da fome e das amarguras,

tu tens que estar armado

para as batalhas futuras.”

Pelo aniversário de Papiniano Carlos, Álvaro Martins, em 2008, ofereceu-lhe uma prenda especial:

“Para o teu aniversário

não vai peru nem coelho.

Vai uma flor- e só uma:

mando-te um cravo vermelho

e uma rosa de espuma.”

Emanuel Félix, no seu livro “A Viagem Possível (Poesia-1965/1981)”, publicado em 1984, dedica um poema à sua companheira Filomena:

“Flores para ti, Mena.

O seu perfume aquece e afaga

Como a brisa do Verão.

Cravos vermelhos como esta chaga

Que tu me abriste

No coração.

Pico da Pedra, 25 de abril de 2024

Teófilo Braga

terça-feira, 23 de abril de 2024

Uma flor revolucionária, o cravo vermelho


Uma flor revolucionária, o cravo vermelho

O cravo vermelho foi, sobretudo para as mulheres progressistas, o símbolo da igualdade, sendo por elas usado em várias manifestações públicas.

Neste texto, damos a conhcer a sua utilização por quatro mulheres que perfilharam ideais socialistas, embora de diferentes correntes.

A revolucionária francesa Louise Michel (1830-1905) foi professora, poetisa e escritora e uma das principais militantes da Comuna de Paris. Mulher corajosa, durante o movimento que levou ao poder os proletários franceses fez um pouco de tudo, desde enfermeira e condutora de ambulâncias até comandante de um batalhão feminino.

Com a derrota da Comuna (1871), vários dos participantes foram perseguidos e mortos., um deles foi o revolucionário blanquista Théophile Ferré (1846-1871) que acabou por ser condenado à morte e executado.

Em sua memória, Louise Michel escreveu o seguinte poema:

Os cravos rubros

Quando ao negro cemitério eu for,

Irmão, coloque sobre sua irmã,

Como uma última esperança,

Alguns 'cravos' rubros em flor.

Do Império nos últimos dias

Quando as pessoas acordavam,

Seus sorrisos eram rubros cravos

Nos dizendo que tudo renasceria.

Hoje, florescerão nas sombras

de negras e tristes prisões.

Vão e desabrochem junto ao preso sombrio

E lhe diga o quanto sinceramente o amamos.

Digam que, pelo tempo que é rápido,

Tudo pertence ao que está por vir

Que o dominador vil e pálido

Também pode morrer como o dominado
O cravo vermelho está também associado à revolucionária polaca Rosa Luxemburgo (1871-1919).
Rosa Luxemburgo, filosofa, economista, feminista e militante comunista, foi uma botânica dedicada, possuiu um genuíno interesse pela literatura, pela música e pela geologia, pintou com pormenor flores e paisagens e demonstrou um amor profundo pela natureza.

Após o seu assassinato, a 15 de janeiro de 1919, em Berlim, na Alemanha, a mando dos seus antigos camaradas social-democratas, todos os anos são colocados milhares de cravos vermelhos na sua campa no aniversário do seu assassinato e do seu nascimento, a 5 de março.

Alexandra Kollontai (1872-1952) foi uma revolucionária russa, membro do partido bolchevique, teórica do feminismo marxista.

Na sua militância em defesa dos direitos das mulheres, Alexandra Kollontai, em 1908, no Congresso das Mulheres de toda a Rússia, organizou um “grupo de mulheres trabalhadoras, todas com cravos vermelhos nos seus vestidos baratos, para defenderem reformas sociais” e não apenas o voto feminino.

O cravo vermelho também está associado a Clara Zetkin (1857-1933), uma professora, jornalista e política marxista alemã.

Clara Zetkin, foi quem, com Alexandra Kollontai, propôs a criação de um dia anual dedicado à celebração da luta das mulheres pela igualdade de direitos, entre os quais o voto feminino. Tal ocorreu, em 1910, em Copenhaga, na Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, onde ela subiu ao pódio com um cravo vermelho na mão.

Fontes:

https://www.marxists.org/history/france/paris-commune/michel-louise/1872/red-carnations.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Louise_Michel

https://www.rosalux.de/en/news/id/51751/rosa-luxemburgs-red-ecology

https://isj.org.uk/how-working-class-women-won-the-vote/

https://soviet-art.ru/red-carnation-revolutionary-flower/a-girl-with-carnation-flowers-usual-attribute-on-great-october-revolution-day-and-demonstration-of-7-november/