quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O sindicalismo docente




Tal como em anteriores colaborações para o Correio dos Açores, com este texto não pretendo atacar, pessoalmente, ninguém. Limitar-me-ei a manifestar a minha opinião e como é habitual relatar um pouco da minha experiência enquanto membro integrante do movimento sindical, no caso em apreço do docente, sem nunca ter ocupado uma posição de destaque nem ter dado um contributo relevante para o mesmo.

No meu caso, nunca estive de acordo com as orientações gerais dos sindicatos a que pertenci, mas como defensor do pluralismo de opiniões dei o meu contributo na medida do que me permitiram as organizações ou as minhas disponibilidades. Assim, em virtude das circunstâncias e por ter optado por ser voluntário noutros movimentos sociais, estou de consciência tranquila e acho que cumpri com o que diz o provérbio: “quem dá o que tem, a mais não é obrigado”.

A minha participação ativa na vida sindical iniciou-se, nos primeiros anos da década de oitenta do século passado, na Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, integrado no SPRA – Sindicato dos Professores da Região Açores, onde pontificava uma direção, a nível da ilha Terceira, integrada por elementos do CDS.

Como a direção do sindicato preocupava-se mais (ou apenas?) com a ocupação de posições no aparelho e não manifestava qualquer interesse em dinamizar núcleos de base nas escolas (pelo menos naquela), foram alguns docentes da Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade que decidiram auto-organizar-se e promover a eleição dos delegados sindicais que, se não estou em erro, nunca foram convocados para reuniões de delegados por parte da referida direção.

Penso que terei sido eleito, pela primeira vez, delegado sindical no ano letivo 1981-1982 e na altura, para além colaborar com os meus colegas, que tinham mais experiência do que eu, na preparação das lutas sindicais então travadas, também participava na elaboração e divulgação de um boletim da nossa inteira responsabilidade que tratava de assuntos de carácter sindical e pedagógico.

Regressei a São Miguel e no ano letivo 1983-1984 terei feito a minha transferência e continuei filiado no SPRA, liderado pelo professor Francisco de Sousa. Neste sindicato, em São Miguel, nunca ocupei qualquer cargo, mas sempre fui um ativista sindical, participando em todas as lutas travadas que levaram a que, durante alguns anos, os professores tivessem um Estatuto da Carreira Docente que, se não era o ideal, era bom.

Lembro-me de, por diversas vezes, ter participado em enormes plenários onde era esmagadora a adesão dos docentes do primeiro ciclo do ensino básico e quase residual a dos do terceiro ciclo e secundário, os senhores doutores, que achavam e parece que ainda acham que não se deviam misturar com a “arraia-miúda” ou com a ralé.

Diziam eles ou sobretudo elas (doutores e doutoras), aquando da realização de plenários, a propósito das nossas colegas do primeiro ciclo: “as sopeiras, que não querem trabalhar e que passam o dia a fazer crochet, fecharam as escolas e vieram para a cidade fazer compras”.

Hoje, incapazes de lutar pelos seus direitos, sempre arranjando uma desculpa para nada fazerem, culpando mais os sindicalistas e os sindicatos, de que muitos são sócios, do que as políticas governamentais, muitos colegas meus continuam a acusar os mesmos de sempre. É o povo que não trabalha nem quer trabalhar, são os que recebem o “rendimento mínimo”, não distinguindo quem é pobre e honesto e quem sempre trabalhou toda a vida, dos que nada fazem e não merecem respirar o ar que respiram, e são os professores do primeiro ciclo que se reformaram muito cedo.

Embora, crítico da CGTP, sempre considerei que era nela que devíamos estar, lutando para que esta não fosse o que alguns dizem ser: uma correia de transmissão de um determinado partido político. De igual modo, sempre discordei da UGT que foi criada para dividir os trabalhadores, mas que curiosamente ninguém diz que é a correia de transmissão das posições de dois partidos políticos que à vez vão desgovernando o país, em conjunto, a sós ou com muletas.

Embora descontente com a atuação do SPRA, lá ia permanecendo, tendo participado numa reunião aberta realizada no auditório Luís de Camões, em Ponta Delgada, promovida por pessoas ligadas aos TSD-Trabalhadores Sociais-Democratas que pretendiam criar um sindicato ligado à UGT, o que veio a acontecer mais tarde. Nesta reunião, não me recordo se fui o único, manifestei a minha posição contrária àquela pretensão.

Apesar disso, hoje, sou filiado no SDPA- Sindicato Democrático dos Professores dos Açores, sindicato pertencente à UGT, onde nunca ninguém me perguntou a filiação partidária, a minha orientação religiosa ou que ideologia professava. Fui acolhido com simpatia, nunca me senti discriminado e, pelo menos até hoje, sempre fui muito bem tratado.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 24 de Outubro de 2012)

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