sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Chapéus e ambientalistas há muitos


Tal como “chapéus há muitos”, ecologistas e ambientalistas é “fauna” que anda muito longe de andar em vias de extinção. Do mesmo modo, são mais do que muitas as correntes de opinião existentes sob o guarda-chuva do ecologismo e do ambientalismo.
Nos últimos tempos, a corrente que mais adeptos têm granjeado é a ambientalista que tem proliferado sob a asa protetora dos governos ou das empresas que prezam muito a sua responsabilidade social e ambiental e que, segundo se diz, investem mais em publicidade para lavar a sua cara do que em projetos concretos.
Os ambientalistas encartados que se julgam parceiros sociais, mas que não passam de jarras para enfeitar as salas de reuniões, caracterizam-se por defenderem uma ecologia para “ricos”, que pinta de verde o selvagem capitalismo que comanda os destinos do mundo, mas que aos olhos da imprensa cor-de-rosa-alaranjada, como dizia o temido e destemido escritor e jornalista Manuel Ferreira, são portadores de um discurso modernaço e tranquilizador.
Se o seu discurso é capaz de fazer chorar as pedras de qualquer calçada, a prática é confrangedora e caraterizada pelo silêncio absoluto, ou quase, perante os mais abomináveis atentados ambientais, pela organização de encontros onde são apenas um apêndice ou são falsos promotores, já que se limitam a pagar as despesas com verbas que os governos transferem para as contas bancárias das suas organizações. São, também, atividades prediletas dos ambientalistas mencionados a promoção de atividades periódicas que nada resolvem, como campanhas de limpeza de praias, portos ou marinas, campanhas de erradicação de infestantes ou plantação de endémicas.
Para atestar o afirmado acima, basta ver a quantidade de lixos que são retirados, ano após ano, nos mesmos sítios.
No caso do trabalho voluntário e gratuito poderemos estar perante uma competição com todas as pessoas que perderam o seu emprego e que poderiam ser contratadas para realizar os trabalhos em questão em troca do pagamento de um salário justo. E não me venham com a conversa do costume, de que estamos em crise e não há verbas suficientes para mais contratações porque dinheiro para ser esbanjado em inutilidades há muito. Façam a conta ao dinheiro desbaratado em futebóis e outros desportos profissionais, com equipas onde mal entram os jovens açorianos ou em touradas ou vacadas onde os animais são mais ou menos vítimas de maus tratos, sofrem ou morrem inutilmente e alguns humanos aprendem a insensibilidade, outros são feridos e outros ainda acabam por morrer, ficando toda a gente tranquila e sem problemas de consciência pelo simples facto das vítimas se encontrarem, depois de ter sido dado o sinal costumeiro, dentro das linhas que delimitavam o percurso.
Outros ambientalistas, mais recatados, limitam-se a refletir não se sabe sobre o quê, reduzindo o seu raio de ação à área da sua casa e, por vezes, acrescentado àquela a do seu quintal.
Uns convenceram-se de que a ciência e a tecnologia são capazes de resolver os problemas do mundo e outros, munidos de outro tipo de fé, acreditam que se mudarem a si mesmos o mundo, por inércia, também fica melhor.
Ambos seguem a cartilha dos grandes grupos económicos que convenceram, os mais incautos ou os subservientes, que a responsabilidade pela situação de crise em que todos vivemos é dos indivíduos, desviando, assim, a atenção dos verdadeiros culpados que são eles próprios e os seus agentes nos diversos estados.
É baseado nesse falso pressuposto, que também considera que as alterações se conseguem se as pessoas mudarem os seus comportamentos, que funcionaram alguns projetos de educação ambiental dinamizados pelas antigas ecotecas e pelos clubes escolares ou que funcionam as eco-escolas que, com atividades rotineiras e circunscritas a um número limitado de alunos e com dinamizadores socialmente apáticos, são no meu entender uma grande farsa que se mantem apenas para enfeitar as estatísticas dos relatórios do estado do ambiente.
Esquecem-se, ou não querem ver, que os problemas ambientais têm as suas raízes em problemas sociais e que, como muito bem escreveu Récio “acreditar que as ações individuais são capazes de gerar mudanças estruturais é um mito” pelo que se torna imprescindível uma ação politica e social.
O pai da ecologia social, o americano Murray Bookchin também manifestou opinião idêntica, tendo afirmado que “nenhum dos problemas ecológicos que hoje defrontamos se pode resolver sem uma profunda mutação social”.
A grande falha do movimento ecológico está precisamente no facto de nunca ter assimilado aquela ideia.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 27341, 30 de Janeiro de 2013, p.13)

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