quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Energia não é Ambiente


13 Fevereiro 2013
No passado mês de Setembro, realizou-se mais um Encontro Regional de Educação Ambiental e Eco-Escolas que, segundo a comunicação social teve por objectivos o enquadramento do programa eco-escolas, o lançamento de material pedagógico e a formação às escolas e ecotecas na área do ambiente.
Embora não tenha estado presente, pelas informações colhidas junto dos meus colegas professores, o encontro, talvez por razões económicas, não teve a pompa e a circunstância que tinham os primeiros Encontros Regionais de Educação Ambiental, que se realizavam apenas num local (ilha) e em que os participantes de outras ilhas tinham viagens, alojamentos e refeições garantidas pela organização. Os tempos são outros, não só os dinheiros são mais escassos, mas as prioridades também são outras. Com efeito, as grandes apostas têm sido noutras áreas da governação ou na construção de infraestruturas (betão) ligadas às Áreas Protegidas.
De qualquer modo, o número de inscritos rondou uma centena de pessoas e para além destes, ainda, estiveram envolvidos mais 40 pessoas ligadas à organização, aos oradores e membros da Rede Regional de Ecotecas.
Há uns anos, quando a gestão das Ecotecas estava a cargo das ONGA – Organizações não-governamentais de ambiente, havia quem dizia que aquelas mais se pareciam com “ecotocas” pois as pessoas que lá trabalhavam estavam muito fechadas nos seus espaços e o que era necessário fazer era com que saíssem e trabalhassem fora das sedes, nomeadamente nas escolas e noutros espaços frequentados pelos jovens. Penso que tal desiderato foi conseguido e tal aconteceu até ao “despejo” das ONG e a passagem das ecotecas para o controlo (in)directo da Secretaria Regional que tutela o ambiente, através da empresa AZORINA. Com a mudança de gestão, acabaram-se as “ecotocas” e as ecotecas, se não acabaram na prática, passaram à semiclandestinidade, com grandes prejuízos para a educação ambiental, nos Açores.
Um facto que surpreendeu muita gente foi a não realização de uma actividade relacionada com a energia por falta de interessados. Com efeito, considero tal ocorrência perfeitamente normal pois para a esmagadora maioria das pessoas, ambiente é apenas resíduos sólidos, plantas e animais, excluindo os humanos que são os grandes corresponsáveis pelo que está bem e pelo que de mal existe neste planeta.
Habituados a viver permanentemente com o vector energético electricidade nas suas casas e locais de trabalho que é “limpinho” e ignorando os transportes, a maioria das pessoas desconhece que nos Açores o consumo de energia é essencialmente de fontes fósseis e que a queima de os combustíveis fósseis é responsável por problemas ambientais como a degradação da qualidade do ar em muitas cidades, as chuvas ácidas, o aquecimento global e a contaminação dos oceanos.
Este desconhecimento é potenciado pelo facto das notícias que os órgãos de comunicação social divulgam, propositadamente ou não, confundirem produção e consumo de energia com produção e consumo de energia elétrica. Assim sendo, no caso dos Açores, parece que vivemos no melhor dos mundos pelo que não temos de nos preocupar com a energia.
A situação era assim, pelo menos até há pouco tempo. Com efeito, não pela tomada de consciência de que se desperdiçava energia, a torto e a direito, sem a produção de qualquer riqueza, mas pelo facto das autarquias e das famílias estarem a passar por dificuldades financeiras, as primeiras porque esbanjaram em festas e festarolas e as segundas, a maioria, devido ao desemprego e a reduções salariais, começou a haver poupança no consumo de eletricidade.
No caso das autarquias, penso que na esmagadora maioria, se antes consumiam eletricidade como se todos os dias fossem Natal, passaram quase para o extremo oposto, isto é cegamente começaram por apagar tudo ou quase tudo o que iluminava. A sociedade, por sua vez (mal) habituada reagiu mal (e nalguns casos bem) e passou a responsabilizar a falta de luz pelos furtos e roubos que nunca pararam.
É tempo de se pensar a sério no assunto energia e ter em consideração que não basta encarar a poupança de energia como uma penitência a fazer apenas na quaresma, ou no período das vacas magras, para tudo voltar a estar como antes ultrapassado aquele período.
É tempo de se pensar em ultrapassar a crença de que, no caso da energia tal como noutros, as soluções técnicas e científicas são mais do que suficientes para resolver problemas, não sendo necessário alterar estilos de vida ou modelos de organização social.
Autor: Teófilo Braga
Fonte: Correio dos Açores

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