sábado, 13 de abril de 2013

EXAMES E ENSINO EXPERIMENTAL




Há mais de trinta anos escrevi alguns textos contra a realização de exames como forma de classificar os alunos. Entre as razões apontadas ainda é perfeitamente válida, do meu ponto de vista, a de ser profundamente injusto avaliar, em noventa minutos ou em pouco mais tempo, tudo o que uma pessoa aprendeu durante um, dois ou mesmo três anos letivos. Felizmente esta injustiça é minorada pelo facto da classificação interna ter, por enquanto, um peso bastante inferior à classificação do exame.

Virem dizer que a vida também não é justa, não é argumento que deva ser tido em consideração, pois nunca uma injustiça se combate com outra injustiça.

Os acérrimos defensores de exames para tudo e para nada consideram que pura e simplesmente deviam ser os exames a ditar a classificação final de todos os alunos, argumentando que os mesmos são a única forma de combater o facilitismo. Esquecem-se eles de mencionar que se o facilitismo está implantado entre nós não é por obra e graça do Espirito Santo, nem pela cabeça dos docentes dos mais diversos graus de ensino.

O facilitismo tem sido um objetivo nacional devidamente legislado e levado à prática por quem apenas se preocupa com o sucesso escolar estatístico.

Como já sei que haverá a tentação de me acusarem de muita coisa e sobretudo de ser fruto das facilidades introduzidas com o 25 de Abril, às más-línguas informo que fiz exame da quarta classe no tempo de Salazar, fiz exame do 2º ano do ciclo preparatório e do 5º ano dos liceus ainda no tempo de Marcelo Caetano e no Instituto Universitário dos Açores fiz poucos exames porque estudei para dispensar dos mesmos. Por último, já com mais de cinquenta anos de idade fiz frequências no âmbito de um mestrado que frequentei na Universidade dos Açores.

De toda esta minha experiência como examinando conclui que os exames apenas terão servido para me atribuírem uma classificação pois para mim para nada serviram, já que com eles não fiquei a saber mais do que já sabia.

O Dr. António Augusto da Mota Frazão, que era partidário dos exames escritos, já em 1932, levantava outra questão que é perfeitamente atual. Segundo ele, “um dos maiores defeitos que lhes aponte está em levarem muitos professores a ensinar para exame”.

O caso mais aberrante é o das ciências experimentais, onde nos exames é realizada apenas uma prova escrita, quando na avaliação interna a componente prática/experimental tem um peso de 30%. Concordo com João Paiva quando, no seu livro “O Fascínio de ser professor”, afirma que “ Para avaliar competências de trabalho laboratorial, justificam-se provas práticas. Está por confirmar se o esforço de incluir perguntas sobre atividades laboratoriais em exames nacionais de Química pressiona alunos e professores para valorizarem o laboratório ou se, por outro lado, incentiva à indesejável «teorização do laboratório» (um paradoxo...)”.

A associar ao paradoxo referido, a crise atual, que acabará por morrer solteira já que ninguém assume a responsabilidade pela sua existência, tem levado ao desinvestimento no apetrechamento dos laboratórios de tal modo que muita da Física e da Química que se faz não é experimental, mas de giz ou, modernamente, virtual, isto quando os projetores funcionam.
Se ninguém tiver coragem para dar a volta a isto, facilmente chegaremos à situação existente no início do século passado que foi descrita do seguinte modo, pelo já mencionado Dr. António Augusto Riley da Mota, numa dissertação apresentada em 1919:
“A educação secundária no nosso país é, toda ela, péssima. Mas o ensino das ciências físico-naturais é mais do que isso – é vergonhoso! Observação e experiência são letra morta. […] Pouco se recorre à intuição, quase nada aos conhecimentos da vida prática. Não se desperta o interesse nem se procura manter o natural espírito de investigação- carácter essencial do espírito científico. Estimula-se a abstração prematura e sem bases; hipertrofia-se a memória, que depois definha; leva-se à passividade mental, ao verbalismo; provoca-se a ignorância pretensiosa; favorece-se o pedantismo”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2770, 10 de Abril de 2013, p.16)

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