quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O caminho faz-se ao andar…



O caminho faz-se ao andar…

Quando há cerca de 40 anos comecei a participar em passeios pedestres, sobretudo nos concelhos da Ribeira Grande e de Vila Franca do Campo, estava longe de imaginar que o pedestrianismo viria a ser uma prática que hoje atrai cada vez mais pessoas que têm como objetivo quase único o desfrutar do meio envolvente.
Também estava longe de imaginar que viria a interessar-me não só pelo pedestrianismo, o desporto dos que andam a pé, mas também pela frequência de ações de formação, pela organização de caminhadas, pela elaboração de roteiros e finalmente pela dinamização de ações de formação em escolas e para agentes turísticos, no âmbito dos Amigos dos Açores- Associação Ecológica.
Mas, o pedestrianismo que é a atividade de percorrer grandes distâncias a pé, na natureza, normalmente por caminhos bem definidos e sinalizados, é para alguns considerado como situado entre o desporto e o turismo. Com efeito, ao fazer deslocar pessoas para as zonas rurais, o pedestrianismo poderá promover o desenvolvimento socioeconómico através da rentabilização da oferta hoteleira, da restauração, do alojamento rural, do turismo de habitação, etc.
Quando foi aprovado, em Dezembro de 2004, pela Comissão de Acompanhamento dos Percursos Pedestres da Região Autónoma dos Açores, a primeira “Lista de Percursos Pedestres Recomendados” passaram a existir em oito ilhas dos Açores (o Corvo ficou de fora) 36 trilhos recomendados, sendo a sua extensão aproximada de 283 km. Na altura, 12 dos 36 trilhos (30%) existentes localizavam-se na ilha de São Miguel, sendo a sua extensão sensivelmente igual a 31% da dos trilhos dos Açores.
A grande aposta no pedestrianismo como atividade/oferta turística foi feita, a nível governamental, pelo Prof. Doutor Duarte Ponte, na qualidade de Secretário Regional da Economia e pela Drª Isabel Barata, Diretora Regional do Turismo. A propósito, refira-se que, a 23 de Setembro do ano 2000, o referido Secretário Regional fez a abertura simbólica do primeiro percurso pedestre sinalizado dos Açores, o da Serra Devassa, localizado no concelho de Ponta Delgada.
A nível autárquico, o concelho que mais apostou no pedestrianismo foi o da Povoação durante a presidência do professor Francisco Álvares. Infelizmente, apesar de algum trabalho efetuado, o concelho de Vila Franca do Campo poderia ter ido muito mais longe no aproveitamento das suas potencialidades.
Mas se houve algum alheamento ou mesmo uma aposta errada no percurso urbano “Ponta Garça- Vila Franca”, por parte da Câmara Municipal, os Amigos dos Açores fizeram uma aposta forte no concelho. Com efeito, ao longo dos anos e desde 1994 foram editados milhares de roteiros de percursos pedestres com destaque para o do percurso “Praia-Lagoa do Fogo”, o qual é, a par com o da Serra Devassa, já mencionado, e com o do Salto do Prego-Sanguinho, no Faial da Terra, um dos três mais visitados da ilha de São Miguel.
Os Amigos dos Açores editaram cinco roteiros de percursos pedestres implantados, no todo ou em parte, no concelho de Vila Franca do Campo, a saber:
- Praia Lagoa do Fogo, com diversas edições, com mais de 6000 exemplares publicados no total e que está esgotado;
- Três Lagoas, com pelo menos uma edição de 1500 exemplares;
- Quatro Fábricas da Luz, com pelo menos uma edição de 1500 exemplares;
- Pico da Vela, com três edições, de 1500 exemplares cada;
- Ponta Garça – Ribeira Quente, com uma edição de 1500 exemplares.
Hoje, se queremos aproveitar todos os recursos que a natureza nos deu para dinamizar o concelho de Vila Franca do Campo há que fazer uma aposta no pedestrianismo, quer acompanhando o que é feito pelo Governo Regional dos Açores, quer tomando a iniciativa de dinamizar a atividade e de recuperar trilhos e fazer uma ampla divulgação dos que já existem.
Em jeito de conclusão, sugiro que seja estudada a hipótese da sinalização do percurso do Pico da Vela e do das Três Lagoas, com as necessárias alterações, que na impossibilidade da manutenção do trilho Ponta Garça-Ribeira Quente o mesmo seja transformado num percurso circular não saindo do concelho de Vila Franca e que seja averiguada a possibilidade da abertura de um percurso circular com inicio na Praça Bento de Gois, passagem pela Senhora da Paz e pela Quebrada e regresso pelo antigo caminho do Calço com passagem pela Rua da Cruz e rua da Palmeira na Ribeira Seca e regresso ao ponto de partida.
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 2976, 18 Dezembro de 2013, p.18)

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