quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Lagoas, Lagoeiros e Charcos de Vila Franca do Campo



Lagoas, Lagoeiros e Charcos de Vila Franca do Campo

Não há consenso  acerca da classificação das diferentes massas de água, nomeadamente lagos, lagoas e charcos. Contudo, podemos dizer, citando a Campanha “Charcos com Vida”, que “os charcos diferenciam-se dos lagos e das lagoas pela sua baixa profundidade, penetração total da luz na água, possibilidade de ocorrência de plantas em toda a sua área e ausência de estratificação da temperatura da água e de formação de ondas”.

O concelho de Vila Franca do Campo é, não temos dúvidas, um dos mais ricos dos Açores no que diz respeito à presença de diferentes massas de água de dimensões diversas, às quais está associada a beleza paisagística e a riqueza em termos de fauna e flora.

A Lagoa do Fogo, implantada na caldeira de colapso do Vulcão do Fogo, é a única cuja área envolvente mantém, apesar de algumas introduções voluntárias ou não, muitos exemplares da flora primitiva dos Açores que a todo o custo devem ser preservados.

A Lagoa do Congro, assim denominada por ter pertencido a André Gonçalves, cognominado de “o congro”, de acordo com Gaspar Frutuoso, “por em seu tempo ser o mais rico homem da terra, como dizem ser o congro, entre os peixes que se comem, o maior peixe do mar”, está implantada numa cratera de explosão que se terá formado há cerca de 3 900 anos.

José do Canto (1820-1898), grande proprietário e intelectual açoriano, amante da jardinagem e distinto botânico amador, mandou plantar nos terrenos circundantes da lagoa matas de criptomérias, pinheiros, eucaliptos e acácias, tendo também ajardinado a parte sul da sua propriedade e construído uma casa de campo, recentemente demolida.

Durante muitos anos os seus proprietários mantiveram os acessos à lagoa em muito boas condições e procediam à manutenção de toda a área, nomeadamente da antiga mata ajardinada. Mais recentemente a área foi sendo progressivamente abandonada, tendo-se degradado quase por completo.

Depois de sete anos de espera, a proposta de classificação das Lagoas do Congro e dos Nenúfares por parte da Associação Ecológica Amigos dos Açores como área protegida foi aprovada. Assim, em 2007, a cratera do Congro foi classificada como Área Protegida para a gestão de habitats ou espécies (Decreto Legislativo nº15/06/2007) e no ano seguinte parte da bacia hidrográfica foi adquirida pelo Governo Regional dos Açores.

A Lagoa dos Nenúfares, também denominada Lagoa do Conde Botelho, localiza-se na mesma cratera da Lagoa do Congro e encontra-se neste momento bastante assoreada e as suas margens estão cobertas por plantas exóticas. Toda a área envolvente merecia ser alvo de trabalhos de recuperação, nomeadamente o trilho que a bordeja e o caminho de acesso.

Localizada numa cratera de explosão existente no Pico da Dona Guiomar, a Lagoa do Areeiro é de uma beleza paisagística invulgar. No lado sudoeste do pico existe um mato jovem de vegetação endémica que merecia a todo o custo ser conservado.

A Lagoinha, situada na cratera de explosão do Pico da Lagoa, localiza-se a norte da Lagoa do Congro. Como curiosidade regista-se a presença nas suas águas do peixe mosquito. Neste momento, é muito difícil o acesso à mesma já que toda a área envolvente foi replantada recentemente e encontra-se completamente coberta por vegetação, nomeadamente silvas.

Para além destas, há a registar outras massas de água mais pequenas como os lagoeiros do Pico do Frescão, do Pico d’El Rei e dos Espraiados, bem como alguns charcos que antes foram usados para bebedouros do gado bovino.

Para além do valor científico e educativo, do valor estético e paisagístico, as massas de água constituem um poderoso recurso turístico que não está a ser suficientemente explorado no concelho de Vila Franca do Campo.

 Há que por mãos à obra!
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 2963, 4 Dez de 2013, p.11)

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