Apontamentos
sobre José do Canto e o seu jardim
Em
texto anterior referi que José do Canto destacou-se entre os micaelenses que
foram responsáveis pela criação de jardins no século XIX. Neste divulgarei um
pouco da sua vida e obra.
José
do Canto nasceu, em Ponta Delgada, no dia 20 de Dezembro de 1820, sendo filho de
José Caetano Dias do Canto Medeiros e de Margarida Isabel Botelho. Faleceu a 10
de Julho de 1898, tendo sido sepultado na Ermida de Nossa Senhora das Vitórias,
edificada na margem da Lagoa das Furnas.
O
seu pai, o morgado José Caetano Dias do Canto e Medeiros (1786-1858) pai de
dezanove filhos de dois casamentos empenhou-se na criação dos filhos. De entres
estes, José do Canto distinguia-se pelo seu interesse, desde criança, pelos
livros.
Em
1838, depois de ter aprendido as primeiras letras e frequentado aulas régias no
Convento dos Gracianos, o seu pai revolveu matriculá-lo no Colégio de
Fontenay-aux-Roses, em Paris, com vista, pensa-se, a prosseguir estudos universitários
em França.
Pouco
tempo depois de estar em França, ainda antes do final do referido ano, as
saudades da família fizeram com que regressasse a São Miguel onde não terá
ficado muito tempo, pois volta ao continente para frequentar os preparatórios
da Universidade em Coimbra.
Ainda
não se havia adaptado à nova vida quando o pai ordena o seu regresso para se
casar com uma jovem morgada, sua prima, Maria Guilhermina Taveira Brum da
Silveira (1826-1887), que José do Canto não conhecia, mas cujo dote, no dizer
de Carlos Riley, “ofuscava todos os cursos universitários deste mundo”.
José
do Canto, com 22 anos, casou-se com Maria Guilhermina, de 16 anos, a 17 de
Agosto de 1842, passando a ser um dos maiores proprietários dos Açores, com
terrenos nas ilhas de São Miguel, Faial e Pico.
A
relação de José do Canto com a natureza caraterizou-se, segundo Carlos Riley,
“sempre por interesses bastante mais científicos e racionalistas: explorar os
campos segundo os princípios da emergente agronomia e ordenar, qual demiurgo do
novo século, a natureza em parques e jardins ao gosto de uma sensibilidade
estética caracteristicamente romântica.”
Para
poder executar o que sonhava, José do Canto na primavera de 1846 vai a Londres,
tendo aí visitado livrarias em busca das novidades sobre botânica e
agricultura, visita viveiristas para escolha de plantas e contatou o arquiteto David
Mocatta com vista ao desenho de um jardim e de um palacete que pretendia
construir em Ponta Delgada.
Foram
vários os jardineiros que estiveram ao serviço de José do Canto, tendo sido o
inglês George Brown o primeiro. Tendo chegado a São Miguel, em 1845, segundo
Isabel Albergaria, “já nesse ano
trabalha no delineamento das ruas, preparação dos solos e plantações”, seguindo
“grosso modo” as diretivas de Mocatta.
O
jardim, que foi sendo construído ao longo do tempo, em 1856, terá cerca de
“1028 géneros e aproximadamente 6000 espécies”, segundo uma nota de Ernesto do
Canto escrita numa página em branco do manuscrito “Enumeração das principais
plantas existentes no meu jardim de S.ta Ana, na primavera de 1856”, da autoria
de José do Canto.
Dez
anos depois, Edmond Goeze, diretor do Jardim Botânico de Coimbra, ao verificar
a “pobreza” botânica do seu jardim, vem a São Miguel com o objetivo de colmatar
aquela falha, levando de cá cerca de mil espécies, a maioria delas (mais de
800) do Jardim José do Canto.
Em
próximo texto, continuarei a dar a conhecer a obra de José do Canto, mas não me
limitarei ao jardim.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, nº 30342, 21 de Maio de 2014)
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