Jardins e Educação Ambiental
Em todo o mundo existem 2550 jardins botânicos que desempenham um papel
importante na conservação da biodiversidade ex situ, isto é fora do seu ambiente, e na sensibilização dos cidadãos para a
importância dos recursos naturais, nomeadamente acerca da premência da
conservação dos recursos vegetais.
Deve-se a Aristóteles (284-322), segundo Fernando Pessoa e Ricardo Silva,
a criação do ”embrião do que mais tarde viria a se constituir como Jardim
Botânico”, o qual servia para a observação das espécies e para o ensino da sua
classificação.
Em Portugal, o
Jardim Botânico da Ajuda, o primeiro jardim botânico português, desde meados do
século XVIII, é considerado como “a primeira e a mais importante instituição dedicada à cultura da história
natural do País”, dedicou-se a estudar o potencial
económico das plantas provenientes das colónias.
Na ilha de São
Miguel, foi pela vontade e ação de três ilustres micaelenses, António Borges,
José Jácome Correia e José do Canto que surgiram, no século XIX, os três mais
importantes jardins da cidade de Ponta Delgada.
Não
menosprezando o labor de ninguém, de entre os vultos referidos destacou-se José
do Canto que construiu um jardim que, no seu tempo, ombreava com muitos outros
a nível europeu, como se pode comprovar pelo seguinte texto da autoria de
Edmond Goeze, diretor do jardim Botânico de Coimbra, que visitou São Miguel, em
1866: “O jardim do Sr. José do Canto é inquestionavelmente o mais rico de
todos, possuindo talvez mais de 3000 espécies. Nenhum dos jardins particulares,
que tivemos ocasião de visitar na Europa lhe pode ser comparado…”.
Pouco conhecidos
pela maioria da população da ilha, os jardins referidos, para além de
constituírem espaços únicos que deveriam ser aproveitados pelos residentes nos
seus momentos de lazer, poderão constituir, se houver uma divulgação e uma
animação adequadas, um atrativo para quem nos visita.
Os jardins e em
especial os botânicos podem também desempenhar um papel fundamental na educação
ambiental não formal, pois, segundo Fernando
Pessoa e Ricardo Silva já referidos acima, o seu “espaço
diferenciado de lazer tem a capacidade de despertar a curiosidade sobre as
plantas, criando condições próprias à implementação de ações que promovam,
junto aos visitantes, grupos escolares e comunidades locais, a perceção dos
impactos da ação humana sobre o meio ambiente e a consciência sobre os efeitos
negativos da perda da biodiversidade, motivando-os a participarem de um ciclo
de desenvolvimento sustentável”.
De entre as
possibilidades referidas por Júlia Wilison no livro “Educação Ambiental em
Jardins Botânicos”, editado no Rio de Janeiro, em 2003, qualquer um dos jardins
micaelenses mencionados detém coleções de plantas suficientes de modo a
servirem para o ensino:
- da incrível diversidade do Reino Vegetal;
- das relações complexas que as plantas
desenvolvem com o ambiente;
- da importância das
plantas em nossas vidas, em termos económicos, culturais e estéticos;
- das principais
ameaças que a flora mundial enfrenta e das consequências da extinção das
plantas;
Com um pouco de boa
vontade e com a criação de programas educativos adaptados a cada um dos jardins
seria possível fazer com que os visitantes possam ter a possibilidade de “aprender
sobre o trabalho que está sendo realizado pelos jardins botânicos e ajudar a
salvar e conservar a flora mundial”, “apreciar a natureza como um todo”, “adquirir
habilidades práticas e conceitos teóricos para conservação, reprodução de plantas
e paisagismo” e “desenvolver atitudes, comportamentos e habilidades necessários
para solucionar problemas ambientais” (Wilison, 2003).
Teófilo Braga
(Correio dos
Açores, nº 30341, 14 de Maio de 2014, p.14)
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