quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Resistência


Memórias da Resistência à Ditadura Militar e ao Estado Novo

Da autoria de António Ventura, Professor Catedrático de nomeação definitiva do Departamento de História da Faculdade de Letras de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa, presidida por João Soares, através do Museu da República e da Resistência editou, em 2001, o livro “Memórias da Resistência. Literatura Autobiográfica da Resistência ao Estado Novo”.

Para quem quer conhecer um pouco mais o que foi o nosso país, entre 28 de Maio de 1926 e 25 de abril de 1974, sugere-se a leitura do livro mencionado, onde o seu autor a par de apresentar uma breve biografia de alguns dos portugueses que, em condições muito difíceis, foram protagonistas do movimento de oposição à ditadura, dá a conhecer extratos de algumas das suas obras de carácter autobiográfico.
Dos resistentes ao Estado Novo mencionados neste livro dois são naturais dos Açores, Manuel Francisco Tavares Barbosa e Luís Cesariny Calafate.

Manuel Barbosa, natural de Ponta Delgada, na Ribeira Grande dirigiu durante muitos anos o Externato Ribeiragrandense, foi candidato pela oposição nas eleições de 1969 e participou no Congresso da Oposição Democrática de Aveiro, em 1973.
No livro que vimos referindo, é publicado um extrato da sua obra “Luta pela Democracia nos Açores”, onde Manuel Barbosa dá a conhecer um pouco do que foi a cooperativa livreira Sextante.

Luís Calafate, natural da Horta, na sequência da sua participação na Revolta da Sé esteve asilado na Embaixada da Venezuela, tendo depois continuado a sua luta pela democracia no exílio. Em 1975, publicou o livro “A liberdade tem um preço”, publicado na Póvoa de Varzim, em 1975.

Para além dos dois resistentes já mencionados, o livro contém “depoimentos” de vários opositores ao Estado Novo que estiveram na condição de deportados nos Açores, a maioria dos quais presos no Forte Militar de Angra do Heroísmo.

No Forte Militar, as condições onde estavam eram tão desumanas que, em Março de 1936, um grupo de “presos políticos e sociais de Angra do Heroísmo” denunciou publicamente a situação, tendo referido como exemplo o “Calejão”, antiga cavalariça que fora considerada, por veterinários, imprópria para o gado e a “Poterna”, gruta escavada na rocha e localizada a seis metros de profundidade, onde a humidade era só por si torturante.

Pelos Açores, passaram o anarco-sindicalista Acácio Tomás de Aquino, os militantes comunistas, Bento Gonçalves, José Gilberto de Oliveira, Joaquim Pires Jorge, José da Silva e Manuel da Silva, os militares Francisco Horta Catarino e João Varela Gomes, o monárquico José Hipólito Vaz Raposo e uma destacada personalidade da Primeira República, Francisco Pinto da Cunha Leal.

Acácio Tomás de Aquino, que esteve preso antes de ir para o Campo da Morte Lenta, o Tarrafal, em Cabo Verde, escreveu “O Segredo das Prisões Atlânticas”, onde relata a sua experiência de prisioneiro tanto em Angra do Heroísmo como no Tarrafal.

Bento Gonçalves, que foi Secretário-geral do PCP, entre 1929 e 1942, esteve preso no Forte Militar de Angra do Heroísmo e foi condenado pelo Tribunal Militar de Angra do Heroísmo a seis anos de desterro. Foi enviado para o Tarrafal, tendo acabado por morrer vítima de uma biliose.

Francisco Pinto da Cunha Leal, que foi presidente do Ministério (primeiro-ministro) de um dos governos da Primeira República, contestou a política colonial do Estado Novo, tendo sido preso em maio de 1930 e deportado para Ponta Delgada.

O monárquico José Hipólito Raposo foi detido e deportado para os Açores na sequência da publicação, em 1940, do seu livro “Amar e Servir”.
João Varela Gomes, militar que esteve envolvido no assalto ao Quartel de Beja, em 1962, esteve desterrado nos Açores durante seis meses.
Para quem se interessa em conhecer melhor o passado, o livro de António Ventura termina com a indicação ou sugestão de outras obras e autores que poderiam ter feito parte da coletânea que serviu de inspiração a este texto.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30511, 17 de Dezembro de 2014, p.18)

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