quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A Educação Integral de Bakunine


A Educação Integral de Bakunine

“Para ser perfeita, a educação deveria ser muito mais individualizada do que é hoje, individualizada no sentido da liberdade e unicamente pelo respeito à liberdade, mesmo entre as crianças” (Bakunine, 1869)

Nas minhas leituras sobre as questões do ensino deparei-me com um autor que nunca havia lido, o russo Mikhail Bakunine (1814-1876), e com o livro “Educação, Ciência e Revolução”, editado no Brasil, em 2016, pela Intermezzo Editorial, que reúne seis ensaios, entre os quais figura “A Instrução Integral”, no qual o autor apresenta as suas ideias sobre a educação.

Antes de me referir ao pensamento de Bakunine sobre a educação, refiro que o mesmo, de ascendência nobre, foi um anarquista que depois de passar pelo exército e estudar filosofia esteve envolvido em diversos movimentos revoltosos, tendo sido preso várias vezes e condenado à morte por duas vezes.

Bakunine reconhecia a importância da educação na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, por isso defendia que as massas operárias só podiam emancipar-se completamente se recebessem uma instrução que não fosse inferior à recebida pelos burgueses.

Apesar desta preocupação, a educação não era tarefa prioritária para Bakunine. Com efeito, segundo ele, a questão que deveria ser solucionada em primeiro lugar era a da “emancipação económica, que engendra necessariamente, logo e ao mesmo tempo, a sua emancipação política, e logo a seguir a sua emancipação intelectual e moral”. Numa outra passagem do texto “A instrução integral” que vimos citando o autor explica melhor o seu ponto de vista:

“Para que os homens sejam morais, isto é, homens completos no pleno sentido desse termo, são necessárias três coisas: um nascimento higiénico, uma instrução racional e integral acompanhada de uma educação fundada no respeito pelo trabalho, pela razão, pela igualdade e pela liberdade, e um meio social onde cada indivíduo humano, desfrutando de sua plena liberdade, seria realmente, de direito e de facto, igual a todos os outros.”

No que diz respeito à educação, Bakunine defendia que devia ser igual para ambos os sexos e constituida por uma componente teórica e uma prática. Para além do referido, também devia existir “o ensino prático, ou melhor, uma série sucessiva de experiências da moral, não divina, mas humana”. Segundo ele, a moral humana “não se funda senão no desprezo pela autoridade e no respeito à liberdade e à humanidade” e “só concede direitos àqueles que vivem de seu trabalho. Ela reconhece que só pelo trabalho o homem torna-se homem”.

Sobre os professores, que deviam ser os principais agentes das mudanças para uma sociedade nova que todos dizem pretender, em 1871, Bakunine escreveu o seguinte:

“Os professores da escola moderna, divinamente inspirados e titulados pelo Estado, tornar-se-ão necessariamente, uns sem sabê-lo, outros em pleno conhecimento de causa, os mestres da doutrina do sacrifício popular para o poder do Estado e para o benefício das classes privilegiadas.”


Hoje, sabemos que, quando os entraves não vêm de cima, as dificuldades postas às inovações, são colocadas pelos docentes que, por desmotivação, algumas vezes justificadas, ou por inércia, não se empenham ou deturpam as diretivas que deviam aplicar. Como exemplo, já quase esquecido, recordo a introdução da área escola e da área de projeto, que acabaram por ser um tremendo fracasso. Mais recente é a atual implementação do projeto de autonomia e flexibilidade curricular que segundo me dizem está a correr muito bem, mas apenas no papel.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31448, 7 de fevereiro de 2018, p. 17)

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