sexta-feira, 30 de junho de 2023

As plantas e a medicina popular no Pico da Pedra (2)


As plantas e a medicina popular no Pico da Pedra (2)

No número anterior da Voz Popular, escrevi sobre a arruda. Neste número a planta contemplada é o alecrim, também conhecido por alecrim-da-terra (Rosmarinus officinalis), que é originário da Região Mediterrânica.

O alecrim é um arbusto com caules lenhosos que pode atingir 1,5 m de altura. As suas folhas são opostas, verde-escuras, coriáceas e lanceoladas. As suas flores, muito perfumadas, são pequenas de cor azul-pálida, raramente rosadas ou brancas, havendo também cultivares com flores azul-escuras.

Hoje, o alecrim é cultivado como planta aromática, os apicultores cultivam-no como espécie cujas flores são muito apreciada pelas abelhas e também é usado como planta ornamental, como acontece, no Pico da Pedra, no Parque Pedagógico Recreativo Infantil Maria das Mercês Carreiro.

No passado, o alecrim era muito apreciado nas freguesias rurais da nossa ilha. Assim, no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 15, podemos ler: “Nas velhas habitações rurais de todas as povoações açorianas, quem ponha o pé fora da porta da cozinha e passe o páteo do porco, com a “cova do esterco” à ilharga, verá sempre, à beira do atalho, esse pequeno arbusto, sobre cuja copa, de minúscula folhagem, a lavadeira há-de pôr em estendedouro a roupa mais delicada para que a mesma, em secando sobre as chapadas de sol, absorva o seu aroma a um tempo delicado e activo”.

O Dr. Urbano Mendonça Dias, na obra “A Vila”, e o padre Ernesto Ferreira, no livro “A Alma do Povo Micaelense”, escrevem que o alecrim era usado para “tirar quebranto”. Para tal, com um galho de alecrim faziam três cruzes nas costas e no peito de uma pessoa e ao mesmo tempo diziam:

Galho de alecrim,

Meu galho de encanto,

Tira deste corpo

O ar ou o quebranto.

Em nome do Padre

Do Filho e do Espírito Santo.

O padre-mestre vila-franquense Manuel Ernesto Ferreira, no livro citado também menciona o uso do alecrim, juntamente com o rosmaninho e com folhas secas de alho nos “defumadoiros” para “curar o quebranto ou estado de morbidez causado pelo mau-olhado de certas pessoas invejosas e más”. Ainda segundo ele sempre que se tratava de uma criança, os dizeres eram:

Assim como a Virgem perfumou

Seu bendito Filho pr’a cheirar,

Assim eu perfumo este menino

Para seus males se curar

Sobre o uso na medicina popular, são vários os fins indicados, quer por diversos autores, quer através dos inquéritos efetuados.

O médico terceirense Acúrcio Garcia Ramos (1871) considerou o alecrim como “tónico e excitante, mas pouco usado” e Silvano Pereira (1953) afirmou que o alecrim, embora no passado fosse usado para tratar as mais diversas doenças, apenas era aconselhado como tónico e estimulante estomacal.

Em 1988, na Ribeira Seca da Ribeira Grande, o alecrim era usado contra os inchaços e na Ribeirinha para combater problemas intestinais.

No Pico da Pedra, em 1992, uma moradora da Avenida da Paz afirmou que usava o alecrim para combater os abcessos.
Pico da Pedra, 12 de maio de 2023

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