domingo, 5 de novembro de 2023

A Conteira e o seu futuro


A Conteira e o seu futuro

A conteira (Hedychium gardnerianum Sheppard ex Ker Gawl.), também conhecida por roca-da-velha, cana-roca, choupa, roca-de-vénus, bananilha, roca-do-vento, rubim e flor-de-besouro, é uma herbácea, perene, rizomatosa que em média atinge de 1,5 a 2 m de altura com flores amarelas fragrantes.

Como terá chegado aos Açores a conteira que é nativa dos Himalaias?

Em meados do século XIX foi fundada em São Miguel a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, instituição que promoveu o incremento do movimento secular de introdução de plantas exóticas no nosso arquipélago para os mais diversos fins.

Foi num número do periódico daquela sociedade, “O Agricultor Michaelense” que alguém sugeriu a introdução da conteira para embelezar os nossos jardins, não se sabendo ao certo quem a introduziu e quando, embora seja provável que tenha sido José do Canto. Conhecida é a sua presença em São Miguel em 1851.

Dos jardins, a conteira escapou-se com muita facilidade para outras áreas, tornando-se uma terrível “praga” que integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).

Apesar do exposto, o açoriano sempre procurou tirar dela o máximo proveito, embora algumas tentativas do seu uso, para além do ornamental, não tenham até agora sido bem-sucedidas.

É conhecido o uso das suas folhas para envolver os queijos de cabra e para alimento do gado quando não há outra forragem mais nutritiva.

Já foi pensado o seu uso para a produção de álcool, mas tal não seria economicamente viável, tal como não terá sido uma experiência de fabrico de papel que era de boa qualidade.

Em 1946, o jornal Açores fazia referência à utilização da conteira nos seguintes termos: “Da sua raiz pode extrair-se uma bebida alcoólica; da sua flor um perfume suave e do seu caule a celulose.”

O mesmo jornal em dois números refere a presença em São Miguel de uma fábrica de papel.

Afonso de Miranda, que foi o principal entusiasta da ideia, em 1943 e que havia conseguido a desfibração perfeita da conteira, juntou-se a José Maria de Andrade Albuquerque Forjaz de Sampaio e os dois constituíram uma sociedade para exploração da pasta de conteira para fabrico de papel.

A fábrica Sampaio e Miranda. Lda. foi instalada no Vale das Furnas e produziu papel que foi muito bem aceite no mercado, tendo todo ele sido vendido pela firma Domingos Dias Machado, Sucr..

Na altura, o entusiasmo era tanto que o articulista do jornal “Açores” escreveu o seguinte:

“E se amanhã se tornar realidade a montagem de fábricas idênticas na Ribeira Grande e Sete Cidades, as populações respectivas e dos arredores acolherão a ideia com júbilo justificado, porque tomando por base o movimento de 1944, das Furnas, verificamos um activo diário de cerca de 600 pessoas. Ora numa região ainda mais rica de conteira, como as Sete Cidades, não é difícil de prever um maior número de pessoas com o seu salário assegurado”.

Em 2014, o empresário Roberto Amorim teve a ideia de utilizar a conteira para produzir recipientes que pudessem substituir o plástico. Será que a sua louvável iniciativa terá pernas para andar ou como tantas outras ficará pelo caminho?

Pico da Pedra, 4 de novembro de 2023

Teófilo Braga

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