sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Novelão

 


Novelão

 

O novelão ou hortênsia (Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser.) é uma planta da família Hydrangeaceae, nativa do Japão e da China que se encontra naturalizada em várias regiões do mundo, entre as quais os Açores, onde pode ser encontrada em todas as ilhas.

 

O novelão foi introduzido na Europa em 1775 e em 1790 já era usada como ornamental nos jardins ingleses.

 

A sua chegada aos Açores terá ocorrido no século XIX, desconhecendo-se a data precisa da sua introdução e o responsável pela mesma. Sabe-se, contudo, que a espécie constatava de uma lista das principais plantas existentes no Jardim Botânico José do Canto na primavera de 1856.

 

Em 1953, o novelão fazia parte de uma lista das “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores” elaborada pelo Regente Agrícola Silvano Pereira, publicada no nº 18 do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores. Sobre a planta pode ler-se o seguinte: “arbusto ornamental, cultivado.”

 

O novelão é um arbusto caducifólio lenhoso na base que pode atingir 3 m de altura. As suas folhas são simples, com os bordos serrilhados, ovais a elíptico-orbiculares e acuminadas. As flores vão do branco ao azul, passando pelo violeta e pelo róseo, dependendo do pH dos solos. Assim, nos solos ácidos as flores são azuis e nos básicos ou alcalinos cor-de-rosa.

 

O novelão escapou-se dos parques e jardins e colonizou pastagens abandonadas e outros locais onde a sua vegetação foi perturbada por um motivo qualquer, sendo considerada invasora sobretudo nas ilhas do Faial, das Flores e do Corvo. Apesar disso, é inegável que na altura da floração, de maio a outubro, a paisagem transforma-se ficando com tonalidades que vão do branco ao azul. Os frutos são cápsulas subglobosas.

 

A propagação do novelão faz-se por estacaria, colocando-se na terra, de preferência no inverno e na primavera, pedaços dos seus ramos.

 

Sobre as suas utilizações, Vieira, Moura e Silva (2020) mencionam o seguinte: “Ornamental. Medicinal (planta rica em compostos orgânicos fenólicos derivados da isocumarina; o extrato da folha é potencialmente benéfico no combate da malária e dos diabetes; tem efeitos psicotrópicos).

 

O novelão é também usado nas divisórias de propriedades e no artesanato, onde persiste a arte de trabalhar o seu miolo para criar composições florais em miniatura.

 

1 de março de 2025

 

Teófilo Braga (IRIS-Núcleo Regional dos Açores)

Verdades sobre a nuclear e os imaginários S.M.R.s

 


Verdades sobre a nuclear e os imaginários S.M.R.s

Nos últimos tempos os promotores da nuclear e os seus afiliados têm promovido muitas estórias sobre os S.M.R.s, pequenos reactores modulares. Mas esse conceito é uma fraude para criar a impressão que há algo de novo na indústria nuclear. Estes são indiscerníveis dos reactores dos anos 50 e 60 muito antes desse conceito ser usado. Não existem S.M.R.s nem sequer como conceito utilizável. Na actualidade há cerca de 70 desenhos pelo mundo, nenhum em construção e a profusão só aumenta a dificuldade prática.

Por outro lado, a tecnologia nuclear tem cerca de 80 anos, e continua a não ser capaz de inovar de forma significativa.

Há de facto um pequeno número de projectos de demonstração que se poderiam classificar como S.M.R.s. São e serão demasiado caros e levarão muito tempo a construir, e de facto são simplesmente novas versões de velhos reactores, com os seus fiascos, falhas e técnicas falhadas. Não há qualquer economia de escala comparando com reactores maiores. Já nos anos 60 a indústria nuclear descobriu que os projectados S.M.R.s não eram económicos e continuou a desenvolver os maiores (as centrais de segunda geração, a maioria das que ainda funcionam).

E embora se fale dessa alternativa que seria milagrosa: a dos pequenos reactores nucleares (S.M.R.s) que são apresentados como capazes de resolver pelo menos alguns dos problemas apontados ao nuclear. Uma característica que se indica para eles é o de poderem vir a ser fabricados em ambiente industrial e em série, algo que poderia reduzir custos de produção, custos de funcionamento e tempo de implementação. Mas essa massificação da produção não se compadeceria com o rigor que há que ter na produção de equipamentos, nomeadamente os que obrigam a soldaduras sofisticadas controladas a Raios X, com uma elevada taxa de rejeições.

Mas há muitas tecnologias diferentes que estão a ser desenvolvidas e aí começa o seu problema. Os S.M.R.s que recorrem à tecnologia convencional (neutrões lentos) das centrais convencionais de grande dimensão de hoje, dificilmente se imaginam que possam reduzir custos, já que as centrais convencionais são grandes precisamente para permitir reduzir custos! Por outro lado, os que recorrem a outras tecnologias, de neutrões rápidos, por exemplo, propõem soluções muito diferentes (com moderação a metais líquidos – sódio por exemplo e outras, soluções para as quais a experiência existente é baixíssima em comparação com a do nuclear convencional), com exigências de segurança diferentes, produzindo lixo radioactivo diferente e a exigir rondas morosas de licenciamento.

Reactores rápidos com sistema de arrefecimento a sódio e altas temperaturas foram construídos como protótipos nos anos 60 mas as tentativas para passar desse nível fracassaram totalmente e tiveram de ser encerrados, como foi o caso do ruinoso Superfénix, em França Hoje não é previsível que ressuscitem dados os fracos resultados de então.

Além de que os novos desenhos terão que passar por licenciamentos e se aprovados levarão muitos anos até que sejam construídos.

Neste domínio do licenciamento e da fiscalização é necessário lembrar que os respectivos técnicos são de formação muito demorada, de rigorosa selecção, inclusivé no domínio do perfil psicológico e político. Semelhante para os técnicos de condução e os de manutenção das centrais. A disseminação de reactores torna tudo muito mais complicado e de difícil controlo.

Nos U.S.A. só uma tecnologia/tipo de reactor foi licenciada até agora (NuScale Power), mas nenhum foi ainda concluído, por ser muito caro. Entretanto, surgem interesses e vozes a querer simplificar processos e saltar etapas nestes processos de certificação, inclusivé estão a tentar reduzir as medidas de segurança e os Planos de Emergência. Algo mesmo muito perigoso!

Quanto ao fabrico em série e o impacte potencial sobre os custos, nada aconteceu até agora. Seriam necessárias series de pelo menos uma ou duas dezenas de reactores e isso não está em nenhum horizonte concreto, com licenças e planeamento adequados.

Os pequenos reactores e o recurso a tecnologias muito diferentes entre si, tem consequências sobre os resíduos radioactivos e a sua gestão/armazenamento (incluindo o desmantelamento). Esta é uma questão que está muito longe de estar cabalmente abordada, nem no contexto das grandes centrais, quanto mais no contexto dos S.M.R.s E o armazenamento definitivo dos resíduos altamente radioactivos continua por resolver, com a disseminação dos ditos ainda mais agravado.

Ora segundo a Agência Internacional de Energia Atômica em 2024 só havia dois reactores que se poderiam chamar assim a funcionar no mundo. E apoiados directamente pelo Estado ou fundos de investigação. Em lado nenhum estão em linha de se tornarem comerciais ou de estar disponíveis para empréstimos bancários ou fundos de investimento. A Agência pede que sejam os Estados a financiar os primeiros reactores (foak, first of a kind), o risco passa para o público, nós.

Além de que se eventualmente se viessem a desenvolver implicariam riscos muito maiores de acidentes além dos problemas da proliferação.

E estas variações das velhas técnicas de fissão nuclear não resolvem os problemas básicos dos custos nem os sérios problemas de segurança e ambientais, ou sequer o dos resíduos da produção ou da extracção. E também dado envolverem demasiado cimento e betão não estão em linha com lógicas de produção em série.

Outro tema muito preocupante é o da proliferação nuclear e das questões de insegurança ligadas ao nuclear, com S.M.R.s a poderem ser espalhados e utilizados em todo o mundo e em qualquer lado. E quando se coloca a hipótese de modelos transportáveis e susceptíveis de navegar os problemas de segurança e controle disparam.

Os S.M.R.s têm obtido uma “boa imprensa” porque são apresentados como um novo nuclear, livre de problemas e capaz de produzir energia eléctrica a baixo custo, algo que é uma pura ilusão, como se explicou, mas que estimula a imaginação dos consumidores em todo o mundo, já que energia barata, abundante e segura é o que todos querem. Mas, para além de partilhar com os grandes reactores muitos dos problemas referidos no início, vem acrescentar outros, próprios, agora noutra escala.

Os S.M.R.s são uma fantasia que, na melhor das hipóteses, aparece apenas alicerçada  em avanços marginais  da tecnologia nuclear. E como conceito os S.M.R.s não têm existência fora da fantasia pós-modernista da indústria nuclear.

Acácio Pires, acivista climático, membro de diversas associações cívicas

António Eloy, escritor, coordenador do Observatório Ibérico Energia

António Mota Redol, ex-técnico da Junta de Energia Nuclear, especialista em planeamento energético na EDP

José González Mason (Chema), engenheiro coordenador do grupo trabalho sobre energia da ADENEX

Henri Baguenier, professor universitário especialista em economia de energia

Manuel Collares Pereira, professor universitário especialista em renováveis e conservação de energia

E

António Cândido Franco, Professor do ensino público

Carlos Pessoa, jornalista

Carlos Pimenta, engenheiro ex. SEARN

Fernando Santos Pessoa, Arquitecto Paisagista

Jorge Leandro, filosofo, livreiro

Jorge Paiva, Biólogo.

José Carlos Costa Marques, Tradutor e editor

Mara Rosa, artista plástica

Paulo Eduardo Guimarães, professor universitário 

Pedro Soares, geografo, Ex Pr. da C.P.Ambiente

Teófilo Braga, mestre em educação ambiental, ex-diretor da ARENA. da R.A.A.

Virusaperiódico (81)

 



Virusaperiódico (81)

 

Depois de um sábado de quase primavera, veio um domingo sombrio a lembrar que o inverno ainda anda por cá. Passei a manhã a descansar do esforço físico do dia anterior e de tarde estive a ler uma carta inédita de Emídio Santana, um preso político que passou pela Prisão de Angra do Heroísmo e a ler o “livrinho” “Sobre Educação Primária e Infantil”, de António Sérgio. Passados tantos anos da sua publicação não perdeu de todo atualidade!

 

Na segunda-feira, dia 24, de manhã andei em leituras diversas e em pesquisas sobre plantas. De tarde, ocupei algum tempo a tratar da saúde do Rex e do Max e a pôr em dia a correspondência.

 

Gostei de ouvir dois políticos da Terceira, de partidos diferentes, que disseram que tudo está mal nos Açores por culpa do centralismo de São Miguel. Haja paciência para aturar tanta tolice!

 

No dia 25, de manhã estive a investigar e tirar apontamentos sobre o Verão Quente nos Açores e a ler um texto sobre flores. Constatei a falta de profissionalismo existente em algumas empresas de Portugal continental. Estive a ler o livro “Milagre na Rocha Negra”, de José Carlos Costa. Estou a gostar…

 

No dia 26, comecei a refazer um “powerpoint” sobre Camões e as plantas. De tarde, fui tratar da saúde que a idade não perdoa.

 

No dia 27, comecei a leitura de um livro de Fernando Pereira Marques sobre a LUAR. José Pacheco Pereira, no prefácio, escreve o seguinte: “Este livro honra-nos a todos, aos amigos do Fernando, à Associação Ephemera e à nossa editora anfitriã. Não falem mais do PREC sem o lerem. Dirão certamente menos asneiras.”

 

No dia 28, de manhã estive a pesquisar no jornal “Voz do Povo” sobre o movimento separatista nos Açores e assisti ao desfile de Carnaval dos mais pequeninos do Pico da Pedra, de tarde, estive em Vila Franca do Campo, na Courela.

 

Nunca vi uma humilhação tão grande. Zelensky tratado abaixo de cão (animal que deve ser bem tratado)

 

28 de fevereiro de 2025

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Virusaperiódico (80)

 


Virusaperiódico (80)

 

18 de fevereiro. Até que enfim, um dia bom. Consegui trabalhar no quintal, em limpezas e na poda de uma planta de chá. No computador, estive a trabalhar sobre plantas e a tirar apontamentos sobre o Verão Quente e o arrefecimento que se seguiu.

 

No dia 19 estive 5 horas na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Saí cansado, de modo que mão tive forças para leituras ou outros trabalhos. Amanhã vou por mãos a outra tarefa, espero.

 

O dia 20 foi quase todo passado a recordar as atividades de conservação da natureza ao longo dos anos pelas ONGA nos Açores.

 

No dia 21, de manhã acabei a pesquisa iniciada no dia anterior e estive de tarde nas terras em Vila Franca do Campo.

 

O dia 22 foi um longo e duro dia de trabalho. De madrugada estive a trabalhar na futura versão em inglês do livro “Plantas usadas na Medicina Popular nos Açores”. No resto do dia estive, primeiro na Courela a pôr de pé algumas bananeiras e a podar uma anoneira e várias goiabeiras. De tarde, andei pela Ribeira Nova e visitei as abelhas, que estão em grande azáfama com o aparecimento das flores de incenso.

 

22 de fevereiro de 2025

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Virusaperiódico (79)


 


Virusaperiódico (79)

 

Impedido de ir trabalhar na terra, no dia 14, comecei a leitura do livro, de António Pedro Costa, “Ruy Galvão de Carvalho - o Discípulo de Antero”. Correr roupa foi uma tarefa que executei durante o dia, para além de vasculhar papéis relacionados com os anos de 1974 e 1975 e seguintes.

No dia 15, estive no Pinhal da Paz numa atividade de voluntariado de recuperação da flora nativa, organizada pelos Amigos dos Açores. Boa ideia a de organizar um almoço e um convívio, com música ao vivo, após os trabalhos!

 

Acabei a leitura do livro referido. Vale pela coletânea de alguns documentos. Mas sobre a participação cívica e o pensamento político de Rui Galvão de Carvalho., que foi meu examinador numa prova oral de português, nada consta. Foi adepto do Estado Novo toda a vida? Com o 25 de Abril aderiu ao Partido Socialista e foi seu dirigente? Alguma vez escreveu sobre ao pensamento político e ação cívica de Antero? Concordava com Antero que admirava Proudhon?

 

Podemos dizer que Ruy Galvão foi discípulo de Antero sem ter sido seu aluno ou perfilhado os seus ideais socialistas? Ou foi apenas um admirador de parte da sua obra (poesia) e seu (profundo) estudioso?

 

Estive quase toda a manhã de domingo a trabalhar sobre plantas ornamentais e medicinais. Tomei conhecimento da edição do 1º volume das prosas de Antero de Quental. Até que enfim, pois parece que haviam sido votadas ao esquecimento.

 

16 de fevereiro de 2025

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Alice Moderno e Teófilo Braga

 


Alice Moderno e Teófilo Braga

 

Quem consultar vários documentos existentes na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada e alguns textos publicados por Alice Moderno em vários jornais facilmente chega à conclusão de que houve uma relação de amizade entre a feminista e defensora dos animais, Alice Moderno, e o escritor e político que foi presidente da República de Portugal, Joaquim Teófilo Fernandes Braga.

 

A troca de correspondência

 

Não podendo, pelo menos por agora, precisar quando começou o relacionamento entre eles, uma coisa é certa, Alice Moderno e Teófilo Braga não se conheceram nos Açores. Com efeito, Teófilo Braga partiu de Ponta Delgada para Portugal continental em 1861 e nunca regressou à sua terra natal e Alice Moderno, nascida em Paris, fixou a sua residência em São Miguel em 1876, embora tivesse passado por Ponta Delgada antes.

 

É bem possível que a iniciativa de contato entre ambos tenha partido de Alice Moderno, através da oferta do seu livro “Aspirações”, publicado em 1886. A carta de agradecimento de Teófilo de Braga pode ser lida no livro “Uma Mulher pioneira-Ideias, Intervenção e Acção de Alice Moderno”.

 

Em 1887, numa carta enviada por Alice Moderno a Teófilo Braga, aquela agradeceu o tempo que este despendeu e agradeceu os conselhos dados, afirmando que os seguirá.

 

Em 1888, Alice Moderno, por carta datada de 20 de agosto, convidou Teófilo Braga para colaborar no seu jornal Recreio das Salas.

 

A 19 de fevereiro de 1890, Teófilo Braga agradeceu dois textos de Alice Moderno sobre o livro, de Camilo Castelo Branco, “A Maior Dor Humana”, onde são homenageados os dois filhos daquele que haviam falecido.

 

Também em 1890, Alice Moderno, que era professora particular em São Miguel, pretendeu ser colocada como professora de Francês num liceu feminino em Lisboa, tendo em carta datada de 16 de abril pedido a Teófilo Braga para indicar o seu nome para ocupar um lugar, visto que os professores eram nomeados e não colocados por concurso. A resposta de Teófilo Braga foi a de que não tinha influência/poder para tal. Na sua carta, datada de 4 de junho, afirmou o seguinte: “Não é por serem governos monárquicos, que eu dignamente estou inibido de pedir qualquer coisa em favor da justiça ou do talento; é porque eu conheço pessoalmente os nossos homens públicos, os nossos grandes estadistas, sei a biografia íntima de cada um, e tendo a todos por entes degradados, organicamente corruptos, enfim como malandros- dando a esta palavra o sentido que o povo lhe imprime quando a aplica aos gatunos mais incorrigíveis.”

 

Teófilo Braga, a 1 de julho de 1893, agradece a oferta do romance de Alice Moderno, “O Doutor Sandoval”, assinando a carta como “muito admirador e servo digníssimo”.

 

Em carta datada de 6 de fevereiro de 1895, Alice Moderno pede a Teófilo Braga para que este use a sua influência no sentido de ser feita justiça num caso de contestação do testamento de Maria Balbina Peixoto, que estava a ser analisado no Supremo Tribunal de Justiça.

 

A 7 de junho de 1901, Teófilo Braga responde a uma carta de Alice Moderno, datada de 20 de maio, “sobre o projecto de uma correspondência para alguns dos jornais mais importantes de Lisboa por ocasião da viagem régia aos Açores.”

 

Nos dias 5 e 19 de outubro de 1915, Alice Moderno envia um cartão a Teófilo Braga cumprimentando-o. Para além deste, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, há outros cartões de Alice Moderno, alguns não datados, de despedida ou de apresentação de pêsames pela morte de familiares de Teófilo Braga.

 

O que havia em comum entre eles?

 

Entre os pontos que tanto Teófilo Braga como Alice Moderno tinham em comum, destacamos o republicanismo e a sua oposição às touradas.

 

Teófilo Braga combateu a monarquia muitos anos antes do seu derrube, em 1910, tendo já em 1878 sido candidato republicano a uma eleições em que obteve 434 votos. Dois anos depois, em 1880, foi candidato republicano pelo Círculo de Ponta Delgada, tendo na altura sido considerado pelo Diário dos Açores como “anarchista” e “atheu” e “defensor da revolução sangrenta”. O vencedor foi Caetano d’Andrade Albuquerque, candidato do Partido Popular Progressista, apoiado pelo referido jornal.

 

Alice Moderno, por sua vez, também aderiu aos ideais republicanos antes da implantação da República. Com efeito, Alice Moderno que primeiro fora monárquica, admiradora dos reis que respeitavam e defendiam a liberdade do povo e que, em 1901, aquando da visita de D. Carlos e de D. Amélia aos Açores, escreveu “Açores, Pessoas e Coisas” que dedicou à Rainha, a 3 de dezembro de 1906, em carta dirigida a Ana de Castro Osório, declara a sua adesão ao movimento republicano, tendo escrito o seguinte: “Felicito-a, ou antes, felicitem-nos que eu sou também uma republicana pur sang”.

 

A posição de Alice Moderno sobre as touradas é a de clara oposição às mesmas e foi manifestada publicamente por mais de uma vez, através dos seus escritos, de que são exemplos as suas Cartas das Ilhas, números XIX e XX.

 

Na “Cartas das Ilhas – XIX”, dedicada a Luís Leitão, publicada no jornal “A Folha”, de 8 de março de 1912, Alice Moderno relata que contrariada foi assistir a uma tourada a convite de amigos terceirenses e confessa a sua compaixão pelo cavalo “esquelético”, um “pobre animal, ser incompleto, irmão nosso inferior” que “no fim da vida, é posto à margem e alugado a preço ínfimo, para ir servir de alvo às pontas de uma fera…”. A fera (o touro) por seu lado, “será barbaramente farpeada, até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere”.

 

Na “Cartas das Ilhas – XX”, publicada no jornal “A Folha”, de 10 de março de 1912, Alice Moderno confidencia que, para não ferir suscetibilidades, não fala no “tema perigosíssimo das toiradas”, nem comunica o que vai na sua alma aos terceirenses, que segundo ela são “semi-espanhóis no capítulo de los toros, e não compreenderiam a minha excessiva sentimentalidade”.

 

A posição de Teófilo Braga sobre as touradas é-nos dada a conhecer através de um texto de Vitória Pais Freire de Andrade (1883-1930), uma professora natural de Ponte de Sor que teve um papel de destaque nas organizações e atividades feministas, nomeadamente no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, no movimento associativo de professores e no movimento que lutou pela extinção das touradas.

 

Segundo Vitória de Andrade, Teófilo Braga “quando em 1889 foi demolida a célebre praça do Campo de Sant’ Ana, e nesse mesmo ano foi apresentada à Câmara Municipal uma proposta para ela conceder terreno no Campo Pequeno, a fim de ali se fazer uma praça de touros, protestou com toada a sua energia para que tal concessão não se fizesse, atentos os fins desmoralizadores a que se destinava. Como, porém, se encontrava desacompanhado na luta, muito embora defendendo a verdade e a razão, foi vencido…”

 

Após a morte de Teófilo Braga, Alice Moderno escreveu vários textos sobres aquele. Para além do que foi publicado no “In Memoriam do Doutor Teófilo Braga 1843-1924”, intitulado “Um Forte”, destaco o que ela denominou “Teófilo Braga”, publicado num número de homenagem que o Correio dos Açores lhe dedicou e que viu a luz do dia a 24 de fevereiro de 1943.

 

Através do texto “Teófilo Braga” fica-se a saber que numa das suas viagens a Lisboa, Alice Moderno foi convidada por ele, que ocupava o cargo de Presidente da República, para o visitar, como amiga, na sua residência e não no palácio presidencial, onde pouco permanecia, o que aconteceu. O escrito, que vimos citando, termina do seguinte modo:

 

“Açoriano dos mais ilustres, e o mais eminente dos micaelenses, volta a habitar esta ilha, de onde saiu escorraçado pela má sorte, onde regressa, infelizmente em efígie, mas como triunfador.

 

É justo que lhe tributemos as nossas mais vibrantes palmas, e desfolhemos aos pés do seu monumento as nossas mais lindas flores, e justo é também que a Câmara Municipal de Ponta Delgada, seguindo o exemplo da Junta Geral, que comprou aos herdeiros de Teófilo a sua Biblioteca, adquira por sua vez a casa modesta onde nasceu, passando a ser o ninho da águia propriedade concelhia.”

 

 

Bibliografia

 

Braga, T. (2016). O Dr. Teófilo Braga e os animais. Correio dos Açores, 2 de agosto.

Braga, T. (2020). Vidas Exemplares. Ponta Delgada, Letras Lavadas, 327 pp.

Comissão Teófilo Braga (org,) (1934). In Memoriam do Doutor Teófilo Braga 1843-1924. Lisboa, Imprensa Nacional de Lisboa, 518 pp.

Moderno, A. (1943). Teófilo Braga. Correio dos Açores, 24 de fevereiro.

Pereira, J. (1985-1988). A vida em Ponta Delgada em 1880 através do jornal “Diário dos Açores- subsídios para o estudo do século XIX micaelense. In Boletim do Núcleo Cultural da Horta, Vol 8, nº 1-2-3, pp 85- 133.

Vilhena, M. (1987). Alice Moderno- a mulher e a obra. Angra do Heroísmo, Direção Regional dos Assuntos Culturais. 377 pp.

Vilhena, M. (2001). Uma Mulher pioneira-Ideias, Intervenção e Acção de Alice Moderno”. Lisboa, Edições Salamandra. 288 pp.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Virusaperiódico (78)

 


Virusaperiódico (78)

 

Tal como ontem foi um sábado sem Sol, hoje foi domingo sem nissa, pelo menos para mim. Aproveitei o mau tempo para pôr em dia a correspondência e a ver fotografias do trilho pedestre entre a Praia da Amora e a Ribeira Quente.

Na segunda-feira, dia 10, de manhã fui aos CTT de Ponta Delgada levantar o dinheiro que havia pago a mais de uma passagem aérea. Não haverá um método mais eficaz para evitar termos de ir perder algum tempo das nossas vidas? No fim do dia assisti a uma formação sobre a vespa asiática. Espero que seja possível a sua irradicação na ilha de São Miguel.

Comecei o dia 11 a escrever sobre a sumaúma ou seda (Araujia sericifera).  Fiquei atónito quando li num jornal que Trump havia autorizado que empresas americanas subornassem governos estrangeiros. Que raio de democraCia é esta?

De tarde, estive na Courela onde fui colher bananas. Muito poucas, de tal modo que  a falência está à vista.

No dia 12 andei em pesquisas na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, relacionadas com Teófilo Braga, o micaelense que foi Presidente da República. Fiquei a saber que o grande “vulto” do jornalismo açoreano, M. Tavares Rezende, para além da falta de isenção era boateiro. Estive com dois amigos, um que veio da terra do Trump passar uns dias e outro que está internado num lar e que se queixa da falta de visitas por parte dos familiares mais próximos. Triste!

No dia 13, Dia das Amigas estive a aprender sobre as nossas amigas flores.

13 de fevereiro de 2015

IDEA, 1991-1994

 








domingo, 9 de fevereiro de 2025

Virusaperiódico (77)

 



Virusaperiódico (77)

 

Na quinta-feira, dia 6, comecei e acabei o dia no computador a escrever e a rever textos sobre plantas. Foram quase 7 horas de trabalho. Não houve tempo, nem forças para leituras.

A sexta-feira, dia 7, começou com a última seleção de fotografias para o meu próximo livro que terá por título “Plantas Maravilhosas”, uma homenagem ao padre-sábio de Vila Franca do Campo, Manuel Ernesto Ferreira, e a entrega do texto e imagens na Nova Gráfica. Será mais uma edição das Letras Lavadas.

No dia 8, não se cumpriu o ditado “Não há sábado sem Sol”. Por tal motivo, estive na terra, em Vila Franca do Campo, durante muito pouco tempo, creio que não chegou a uma hora. Voltei aos livros, tendo retomado a leitura de uma biografia de Tolstói.

Fiquei a conhecer os nomes dos cerca de 200 signatários do Manifesto Contra a Legalização da Sorte de Varas nos Açores e fiquei satisfeito por constatar que há pessoas de todos os quadrantes políticos e partidários e de várias ocupações profissionais. É lamentável que ainda existam pessoas a defender o agravamento da tortura animal nas touradas numa região cujos políticos se arvoram em defensores do bem-estar animal e da proteção da natureza e de um desenvolvimento sustentável. Tenho nojo desta gentalha (gente desclassificada)!

Tenho andado um pouco desanimado, com o regresso com pés de lã do fascismo. Não terá ele estado sempre por aí à espreita?!

8 de fevereiro de 2025

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Virusaperiódico (76)

 



Virusaperiódico (76)

 

No domingo, 2 de fevereiro, passei quase todo o dia a fazer pesquisas sobre plantas, para fazer um trabalho que poderá ser útil para a sensibilização e educação dos mais jovens. Dediquei algum tempo a ler alguns textos do jornal “MAPA”

Na segunda-feira, comecei a ler uma biografia de Gandhi. De tarde estive presente numa sessão comemorativa dos 25 anos da criação da Delegação dos Açores da ASSP- Associação de Solidariedade Social dos Professores.

Na terça-feira, dia 4, voltei à leitura de um livro sobre o socialismo. Que barbaridades foram cometidas em seu nome! A propósito de socialistas e sociais-democratas (que não o são) não estranhei a notícia de que 60 políticos do PS e do PSD haviam sido acusados de corrupção. Em que raio de democracia vivemos!

Farto de mau tempo, aproveitei para avançar a leitura da biografia de Gandhi e transplantei algumas pitangueiras que obtive por sementeira. Aproveitei a paragem da chuva para fazer uma caminhada a pé de cerca de 1 hora, tendo percorrido pela primeira vez a Rua do Alecrim no Pico da Pedra. Apreciei uma magnífica banksia que devia ser mais bem tratada por quem alcatroou o caminho. Que gente insensível!

5 de fevereiro de 2025

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Mélia


 


Mélia

 

A mélia (Melia azederach L.) também conhecida por amargoseira, lilás-da-índia e sicómoro é uma planta nativa da Ásia-sul e oriente, encontrando-se naturalizada no sul da europa e norte de África.

 

O nome genérico, melia, provém do grego antigo e significa freixo, em virtude da semelhança entre as folhas das duas espécies e o específico deriva do persa, significando árvore nobre.

 

Pertencente à família Meliaceae, a mélia, que pode atingir 20 m de altura ou mais, é originária da Ásia-Sul e Oriente, e está em flor, entre nós, nos meses de abril e maio.

 

A mélia terá sido introduzida na Europa em 1759 ou mais cedo, havendo quem aponte a data de 1656. Em Portugal, sabe-se que existia, em 1799, na Quinta dos Senhores de Belas provavelmente vinda de Goa (Saraiva, 2020)

 

Não sendo conhecida a data precisa da introdução nos Açores, sabe-se que a mélia já estava presente no jardim de José do Canto em Ponta Delgada, no ano de 1858. Doze anos depois, em 1868, a mélia fazia parte de uma lista de plantas multiplicadas em grande quantidade por José do Canto disponíveis para oferta ou permuta.

 

Em 1953, a mélia ou sicómoro fazia parte de uma lista das “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores”, elaborada pelo Regente Agrícola, Silvano Pereira e publicada no BCRCAA, nº 18.

 

A mélia, que apresenta uma copa arredondada, é uma árvore caducifólia. Aas suas folhas são compostas com folíolos lanceolados, acuminados, com margens serradas de cor verde-clara. As flores são hermafroditas de coloração arroxeada e surgem dispostas em panículas. Os frutos, que possuem uma semente dura no seu interior, são drupáceos de pequenas dimensões, com uma coloração amarelada, quando estão maduros.

 

 

A mélia é cultivada como ornamental em quase todo o mundo e é usada em jardins ou em arruamentos. As suas folhas e a casca são utilizadas com fins medicinais, sendo-lhes atribuídas propriedades vermífugas, purgativas e eméticas: As flores são muito aromáticas e muito visitadas pelas abelhas e outros polinizadores. A sua madeira é muito fácil de trabalhar pelo que pode ser usada em carpintaria. Embora os seus frutos sejam muito apreciados pelas aves, são tóxicos para os humanos e para alguns animais, como os suínos. As sementes eram usadas para fazer rosários.

 

De acordo com Saraiva (2020) a mélia multiplica-se facilmente “por semente na primavera, não necessitando de tratamento especial, salvo tirar-lhe a envoltura carnosa. A germinação leva cerca de 2 meses.”

 

Para além da beleza que dá aos locais onde está plantada as mélias contribuem para uma melhor qualidade de vida. A Câmara Municipal de Almada (1) apresentou a seguinte informação para um exemplar localizado na Praça de Ceuta, na Cova da Piedade:

  • Tem uma circunferência de tronco de 240 cm
  • Tem uma altura de 17,9 m
  • Tem uma área foliar de 1108 m2
  • O tronco e os ramos têm 2274 kg de carbono
  • Produz oxigénio suficiente para 1 pessoa respirar durante 118 dias.
  • Retém 1742 litros das águas da chuva, o que ajuda a reduzir as inundações
  • Limpa o ar ao remover 1792 gramas de poluentes.
  • Armazena 100468 gramas de CO2.

 

Introduzida nos Açores com fins ornamentais, é possível encontrar mélias sobretudo em jardins públicos e particulares, bem como praças e arruamentos. Na ilha de São Miguel, podem ser observadas no Jardim da Universidade dos Açores, no Parque Urbano, no Parque Século XXI, no Parque de Estacionamento de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, e no Jardim de Santa Cruz, na Lagoa

 

(1) https://www.cm-almada.pt/viver/intervencao-ambiental-clima-e-sustentabilidade/arvores/melia-azedarach-melia