Notas sobre o ano de
1975 no Pico da Pedra
Este ano comemora-se
oficialmente, pela primeira vez, o golpe militar de 25 de novembro de 1975,
data que assinala o fim do chamado PREC — Período Revolucionário em Curso.
Não existe consenso
sobre o que realmente aconteceu nesse dia, interpretado por alguns como uma
tentativa do Partido Comunista Português de instaurar uma ditadura. Contudo,
vários historiadores, entre eles José Pacheco Pereira e Irene Pimentel,
rejeitam tal tese. O primeiro alertou para as “enormidades e falsidades
sistemáticas” que se têm difundido, enquanto a segunda afirmou categoricamente
que o 25 de novembro “não foi um golpe de Estado do PCP”. Também Jaime Nogueira
Pinto, insuspeito de simpatias comunistas, defendeu que o PCP tinha uma visão
alinhada com a União Soviética, que recusava a criação de uma “Cuba” na Europa.
No país inteiro,
incluindo a nossa ilha, para além dos atos oficiais, é o 25 de Abril de 1974 —
data do golpe militar dirigido por Otelo Saraiva de Carvalho que pôs fim a uma
ditadura de 48 anos — que continua a ser amplamente comemorado pelas populações.
Para mim, que estive
envolvido no recenseamento e na campanha eleitoral das eleições de 25 de Abril
de 1975, em Vila Franca do Campo, as primeiras eleições livres mereciam
celebração especial. Apesar de não ter podido votar por ainda não ter idade,
considero notável o facto de a participação eleitoral ter ultrapassado os 90%.
No Pico da Pedra, ao
contrário do que sucedeu na generalidade dos Açores — onde venceu o Partido
Popular Democrata — foi o Partido Socialista que alcançou a vitória, obtendo
mais votos do que todos os restantes partidos juntos. Os resultados
(provisórios) foram os seguintes: CDS-12 votos, MES-6 votos, MDP/CDE-15 votos,
PCP-14 votos, PPD-255 votos e PS-486 votos.
Uma possível
explicação poderá residir no facto de a freguesia ter sido, segundo F. Couto
Alves (Diário dos Açores, 10 de março de 1975), aquela que mais votos
deu ao General Humberto Delgado, candidato da oposição ao salazarismo nas
eleições de 1958, no concelho da Ribeira Grande. Ou, ainda, na alegada tradição
de votar à esquerda — ou “in totum” nas listas da oposição — como escreveu
Osvaldo Cabral no jornal Açores de 18 de outubro de 1975, a propósito
das eleições de 1969. No entanto, esta interpretação permanece inconclusiva.
Embora acima da média distrital (22,2%), a lista da oposição no Pico da Pedra
obteve apenas cerca de 27,5% dos votos entrados nas urnas.
Para além desta
explicação — que considero pouco convincente — um pico-pedrense sugeriu que os
apoiantes do PS eram mais ativos (ou mais carismáticos?) do que os do PPD, o
que lhes terá permitido realizar uma campanha mais eficaz e apelativa.
A 16 de janeiro de
1975, a Junta de Freguesia transitada do Estado Novo demitiu-se por
unanimidade, “permitindo assim, pela primeira vez, que o povo desta freguesia
possa democraticamente eleger uma comissão administrativa que melhor sirva os
seus interesses”.
A eleição da Comissão
Administrativa da Junta de Freguesia ocorreu a 9 de março de 1975. Num local
que não foi possível identificar — possivelmente o salão paroquial —
reuniram-se 351 eleitores, que puderam escolher entre quatro listas de
cidadãos. A lista vencedora incluía Arnaldo Almeida Cabral, José de Almeida
Alves e José Leonardo Bernardo Soares.
A tomada de posse da
Comissão Administrativa teve lugar a 3 de maio e a sua primeira reunião
realizou-se quatro dias depois, a 7 de maio de 1975.
Pico da Pedra, 25 de
novembro de 2025
Teófilo Braga

Sem comentários:
Enviar um comentário