quarta-feira, 10 de julho de 2013

O que foi a LAPA?


O QUE FOI A LAPA?
Perguntei a vários jovens, alunos da escola onde trabalho, se sabiam o que significava a sigla FLA e ao contrário do que eu esperava a esmagadora maioria não sabia, um ou dois disseram que já tinham visto nalgumas paredes a sigla, mas desconheciam do que se tratava.
Fiz o mesmo em relação à sigla LAPA e, tal como já esperava, nenhum deles havia ouvido falar. Alarguei o meu leque de inquiridos e perguntei a vários colegas e a resposta foi semelhante à dos alunos.
Eu mesmo, colecionador de (quase) tudo o que é papel, até há muito pouco tempo quase nada sabia e ainda pouco sei acerca da LAPA – Liga de Ação Patriótica dos Açores.
O primeiro “contacto” que tive com a LAPA foi através do seu boletim número um, datado de Fevereiro de 1976, que alguém, na altura, me fez chegar às mãos. Na ocasião, fiquei espantado com a qualidade da impressão do mesmo, muito superior à maioria dos folhetos que eram da responsabilidade das diversas organizações que se reclamavam a favor da independência dos Açores e das que eram suas opositoras ou mesmo dos diversos partidos políticos.
Mais tarde, porque alguns números posteriores me foram entregues por um militante do PCP que, por motivos de força maior, teve de emigrar para os Estados Unidos da América, fiquei com a ideia de que se tratava de uma organização daquele partido que havia sido obrigado a fechar as suas sedes, nos Açores, em Agosto de 1975.
Mas, afinal o que foi a LAPA?
Tenho falado com algumas pessoas que poderiam, melhor do que eu, explicar os objetivos da organização, quem eram os seus membros, em que ilhas estava implantada, que apoios partidários ou outros tinha para implementar as suas atividades, que tipo de ações estava disposta a fazer, para além da distribuição de comunicados e de algumas “pinturas” em paredes, etc. e como para uns os seus afazeres são muitos e para outros não têm qualquer interesse em revelar o seu passado ou não acham que vale a pena, vou tentar divulgar o que sei, apenas com o único objetivo de tentar dar a conhecer um pouco da nossa história recente.
Através da leitura do boletim referido, constata-se que ele é dirigido essencialmente aos trabalhadores por conta de outrem, que não estavam a beneficiar do salário mínimo nacional de 4 mil escudos, e aos lavradores que estavam a ser prejudicados, pois não estavam a ser praticados os preços do leite previstos na portaria nº 470/75, de 1 de Agosto, e não estar a ser atribuído o subsídio de 1 escudo por litro, por não existir recolha única de leite.
Ainda com recurso ao mesmo boletim, fica-se a saber que o objetivo da LAPA era “lutar contra o separatismo e o fascismo” e o que pretendia era “a liberdade na nossa terra”.
Quanto à sua composição, a LAPA afirmava que não era “ uma coligação de partidos” mas “uma organização onde existe gente de todos os partidos (só não tem do CDS porque é o partido dos fascistas), gente que quer viver em liberdade e democracia”.
No boletim nº 3, de Junho de 1976, a LAPA volta a condenar a independência dos Açores, afirmando que “não há pois um povo açoreano a ser explorado pelo povo português, mas sim portugueses ricos, que tudo têm a explorar e a oprimir portugueses pobres que nada mais têm que braços e peito para trabalhar. A concluir o texto, a LAPA afirma: “amigo, nós queremos uma independência, que é o de deixarmos de depender e ser espezinhados pelos senhores do dinheiro que engordam com o suor do nosso trabalho”.
Por último e ainda no mesmo boletim, a LAPA posiciona-se face às eleições regionais que se iriam realizar a 30 de Junho. Assim, depois de por em questão a falta de condições democráticas para a realização das mesmas, a LAPA considera “que os açoreanos devem votar e sem medo – pois que o voto é secreto; devem votar na esquerda – porque há que derrotar a reação e o separatismo; devem votar com confiança nos partidos que mais convictamente e com garantias lutam pelos direitos dos trabalhadores, dos pequenos e médios agricultores e lavradores, de todos os que suam para ganhar o pão”.
Na altura em que a LAPA surgiu falava-se que a mesma estava disposta a pegar em armas para combater a FLA. Será que as tinha?
T. Braga

(Correio dos Açores, nº 2839, 7 de Julho de 2013, p.14)

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