O
QUE FOI A LAPA?
Perguntei
a vários jovens, alunos da escola onde trabalho, se sabiam o que significava a
sigla FLA e ao contrário do que eu esperava a esmagadora maioria não sabia, um
ou dois disseram que já tinham visto nalgumas paredes a sigla, mas desconheciam
do que se tratava.
Fiz
o mesmo em relação à sigla LAPA e, tal como já esperava, nenhum deles havia
ouvido falar. Alarguei o meu leque de inquiridos e perguntei a vários colegas e
a resposta foi semelhante à dos alunos.
Eu
mesmo, colecionador de (quase) tudo o que é papel, até há muito pouco tempo
quase nada sabia e ainda pouco sei acerca da LAPA – Liga de Ação Patriótica dos
Açores.
O
primeiro “contacto” que tive com a LAPA foi através do seu boletim número um,
datado de Fevereiro de 1976, que alguém, na altura, me fez chegar às mãos. Na
ocasião, fiquei espantado com a qualidade da impressão do mesmo, muito superior
à maioria dos folhetos que eram da responsabilidade das diversas organizações
que se reclamavam a favor da independência dos Açores e das que eram suas
opositoras ou mesmo dos diversos partidos políticos.
Mais
tarde, porque alguns números posteriores me foram entregues por um militante do
PCP que, por motivos de força maior, teve de emigrar para os Estados Unidos da
América, fiquei com a ideia de que se tratava de uma organização daquele
partido que havia sido obrigado a fechar as suas sedes, nos Açores, em Agosto
de 1975.
Mas,
afinal o que foi a LAPA?
Tenho
falado com algumas pessoas que poderiam, melhor do que eu, explicar os
objetivos da organização, quem eram os seus membros, em que ilhas estava
implantada, que apoios partidários ou outros tinha para implementar as suas
atividades, que tipo de ações estava disposta a fazer, para além da distribuição
de comunicados e de algumas “pinturas” em paredes, etc. e como para uns os seus
afazeres são muitos e para outros não têm qualquer interesse em revelar o seu
passado ou não acham que vale a pena, vou tentar divulgar o que sei, apenas com
o único objetivo de tentar dar a conhecer um pouco da nossa história recente.
Através
da leitura do boletim referido, constata-se que ele é dirigido essencialmente
aos trabalhadores por conta de outrem, que não estavam a beneficiar do salário
mínimo nacional de 4 mil escudos, e aos lavradores que estavam a ser
prejudicados, pois não estavam a ser praticados os preços do leite previstos na
portaria nº 470/75, de 1 de Agosto, e não estar a ser atribuído o subsídio de 1
escudo por litro, por não existir recolha única de leite.
Ainda
com recurso ao mesmo boletim, fica-se a saber que o objetivo da LAPA era “lutar
contra o separatismo e o fascismo” e o que pretendia era “a liberdade na nossa
terra”.
Quanto
à sua composição, a LAPA afirmava que não era “ uma coligação de partidos” mas
“uma organização onde existe gente de todos os partidos (só não tem do CDS
porque é o partido dos fascistas), gente que quer viver em liberdade e
democracia”.
No
boletim nº 3, de Junho de 1976, a LAPA volta a condenar a independência dos
Açores, afirmando que “não há pois um povo açoreano a ser explorado pelo povo
português, mas sim portugueses ricos, que tudo têm a explorar e a oprimir
portugueses pobres que nada mais têm que braços e peito para trabalhar. A
concluir o texto, a LAPA afirma: “amigo, nós queremos uma independência, que é
o de deixarmos de depender e ser espezinhados pelos senhores do dinheiro que
engordam com o suor do nosso trabalho”.
Por
último e ainda no mesmo boletim, a LAPA posiciona-se face às eleições regionais
que se iriam realizar a 30 de Junho. Assim, depois de por em questão a falta de
condições democráticas para a realização das mesmas, a LAPA considera “que os
açoreanos devem votar e sem medo – pois que o voto é secreto; devem votar na
esquerda – porque há que derrotar a reação e o separatismo; devem votar com
confiança nos partidos que mais convictamente e com garantias lutam pelos
direitos dos trabalhadores, dos pequenos e médios agricultores e lavradores, de
todos os que suam para ganhar o pão”.
Na
altura em que a LAPA surgiu falava-se que a mesma estava disposta a pegar em
armas para combater a FLA. Será que as tinha?
T.
Braga
(Correio
dos Açores, nº 2839, 7 de Julho de 2013, p.14)
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