Democracia moribunda
1- A escola não
educa
Durante grande parte da minha vida, acreditei que com o tempo a democracia,
instaurada com o golpe militar de vinte e cinco de Abril de 1974, se
aperfeiçoaria, que as gritantes desigualdades económicas e sociais se
esbateriam e que a escola seria um dos principais instrumentos para a
concretização do sonho de uma vida melhor para todos os seres humanos.
Hoje, passados trinta e nove anos, a minha desilusão é total e, tal como muitas
outras vozes que se têm manifestado, considero que a democracia representativa
está esgotada, que os partidos políticos, sem exceção, estão desacreditados,
que os cidadãos foram lenta e progressivamente levados, pelas elites que nos
têm governado, à apatia e ao descrédito.
Os partidos políticos que deveriam representar classes sociais, correntes
de opinião ou ideologias políticas descaracterizaram-se e hoje parecem-se mais
com autênticos sacos de gatos, de várias cores e raças, juntos quase e tão só para
satisfazer clientelas e para promoção pessoal de dirigentes, de familiares e
amigos chegados.
A escola com as diversas disciplinas que vai tendo, como Desenvolvimento
Pessoal e Social, Educação para a Cidadania, etc. poderia ter dado um
contributo para fazer com que a democracia representativa deixasse de ser
apenas a rotina periódica de votar ciclicamente em pessoas que por vezes não
têm quaisquer escrúpulos em prometer o que não podem cumprir, em não ouvir as
pessoas que dizem representar e em “roubar” o dinheiro de todos os
contribuintes.
Mas, ao contrário do que seria de esperar a escola pouco fez ou faz
porque mais não é do que o reflexo da sociedade e, se tal como sem
ovos não se fazem omeletes, também sem democratas convictos não se pratica a democracia.
Basta estarmos atentos aos acontecimentos dos últimos tempos para percebermos que
maus exemplos são transmitidos pelas escolas, desde associações de estudantes
que são correias de transmissão, a tomadas de posição de órgãos de gestão, que a
comunidade escolar toma conhecimento pelos órgãos de comunicação social, até à
existência de um órgão, a Assembleia de Escola, que não ausculta a opinião da
comunidade educativa e que não presta contas do seu trabalho a ninguém.
2- As eleições autárquicas em contexto de deseducação
Embora descrente, pois sinto que os meus representantes nunca cumpriram com
o que deles esperava e não querendo ser representante de ninguém, decidi
envolver-me nas próximas eleições autárquicas,
Pelos contatos que tenho tido com conhecidos e desconhecidos, tenho-me
apercebido de que, a par de um desinteresse generalizado por parte da grande
maioria que não acredita em ninguém, há pequenos grupos de pessoas que agem
como se os partidos políticos fossem clubes de futebol ou, pior do que isso,
fossem agências de emprego.
No que se refere a candidaturas ou candidatos, é possível assistir a um
pouco de tudo, de modo que a participação numa determinada lista não depende dos
projetos ou das ideologias das forças partidárias, mas dos previsíveis ganhos
pessoais que possam ser alcançados para si ou para familiares, dos conflitos
pessoais tidos com os cabeças das listas por que concorreram em eleições
anteriores ou mesmo pela ordem por que foram convidados.
Sobre este último ponto, convém esclarecer que as pessoas disponíveis são
muito poucas pelo que muitas delas já receberam convites por parte de todas as
candidaturas já anunciadas e de outras que irão surgir em breve, pelo que,
estando as cabeças vazias de projetos e de vontade de servir o bem comum, o
critério para a sua participação é o de aceitar o primeiro convite que
receberam.
A propósito de bem comum, parece que é objetivo que anda completamente
arredado da cabeça de muitos. A título de exemplo, conheço um candidato a
presidente de uma junta de freguesia que contatado por uma outra lista, depois
de agradecer o convite e de mostrar que se sentia honrado com o mesmo, declarou
que já havia sido abordado por outros, mas que estava à espera de saber o teor
do convite (ou melhor que cargo lhe seria oferecido), pois considerava que já
havia sido presidente da respetiva junta mas que a freguesia era muito pequena
pelo que o projeto não o motivava.
Como a pessoa referida surge como primeiro candidato à assembleia da freguesia
em causa, fico, sentado, à espera de saber que outra oferta lhe terá sido
feita.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2847, 17 de Junho de 2013, p.
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