quinta-feira, 28 de maio de 2015

Notas sobre o terceirense Dr. António Sousa Júnior


Notas sobre o terceirense Dr. António Sousa Júnior


António Joaquim de Sousa Júnior era natural da Praia da Vitória, Ilha Terceira, tendo nascido a 16 de Dezembro de 1871. Aposentou-se, por motivos de saúde, em 1928 e faleceu 10 anos mais tarde, a 7 de Junho de 1938.
Fez os seus estudou no Seminário e Liceu de Angra e, no Porto, frequentou a Academia Politécnica e a Escola Médico-Cirúrgica, tendo obtido o grau de bacharel, em 1898, e o de doutor em Medicina em 1900.
Em 1913, o Dr. António Sousa Júnior foi nomeado Ministro da Instrução, sendo então, segundo o jornal “A Folha”, o nono terceirense a ascender ao cargo de ministro.

De acordo com o texto referido, publicado no mencionado jornal, no dia 20 de julho de 1913, “o Dr. Sousa Júnior pertence ao número dos raros que devem ao esforço próprio a proeminência da sua situação”. O seu mérito era tal que, apesar de ser republicano, a monarquia o investiu “na direção do hospital de Bonfim e numa cátedra da escola médico-cirúrgica do Porto”.

O texto do jornal que vimos citando, quase de certeza escrito por Alice Moderno, termina do seguinte modo: “Regozijando-nos com o país pela acertada escolha do primeiro ministro da instrução em Portugal, enviamos ao Dr. Sousa Júnior os nossos cumprimentos muito cordiais”.
Na sua qualidade de ministro foi um dos principais responsáveis pela criação da primeira "Escola da Arte de Representar" em Portugal.
Em 1923, o Dr. António Joaquim de Sousa Júnior, lente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, era presidente da Câmara Municipal do Porto e da Junta Autónoma do porto de Leixões, quando foi assinado o contrato para a construção daquele porto, adequando-o às necessidades e aspirações de todos os portuenses.

A nível universitário desempenhou os cargos de vice reitor da Universidade do Porto e Reitor da Universidade de Coimbra, tendo escrito muitos artigos científicos na "Gazeta Médica do Porto", no "Porto Médico" e na "Gazeta dos Hospitais".

O Dr. Sousa Júnior notabilizou-se tanto no estudo como no combate ao agente transmissor da peste pneumónica, tendo quando a mesma se manifestou na ilha Terceira, em 1908, voltado à sua terra natal onde dirigiu os necessários trabalhos de saneamento. Na altura esteve de visita à ilha de São Miguel, onde realizou algumas conferências sobre o assunto e conheceu Alice Moderno que mais tarde o visitou no Porto.

Defensor da participação de Portugal na Iª Guerra Mundial não se ficou pelas palavras. Segundo Alice Moderno, “nele a ação acompanha sempre a ideia. Assim, não só se alistou como voluntário, mas autorizou o seu filho primogénito a alistar-se também, sendo este o mais novo de todos os voluntários portugueses”.

No final da sua vida isolou-se na sua terra natal, mas de acordo com o capitão António Correia que com ele conversou algumas vezes “Não maldizia os homens de que se afastara enojado; e a República, que bem servira, continuava a ter no seu coração amor e saudade…”

Os inimigos políticos do Dr. Sousa Júnior não o perdoaram e em vez de reconhecerem a sua dedicação e profissionalismo, como canalhas que eram, chamavam-lhe de “doutor Sousa das Ratas”. Este facto prova que a ingratidão não é de hoje, antes pelo contrário parece que é endémica de uma região que teima em não evoluir, pelo menos moralmente.

Pelo contrário, várias pessoas de carácter, como o Dr. Luís Ribeiro souberam reconhecer a sua dedicação à causa pública e não tiveram qualquer coibição em fazer rasgados elogios ao homem e à sua obra. A título de exemplo cita-se aqui a parte final de um texto seu publicado no Correio dos Açores em Junho de 1938:
“…mas nunca deixou de ser para toda essa gente [do Porto Martins] o médico gratuito, caritativo e esmoler, que lhe dava o melhor da sua ciência e, muitas vezes, o remédio e o pão.
Com o Dr. Sousa Júnior desaparece uma grande figura da medicina nacional, um homem de rara inteligência e fecunda atividade, mas desaparece também um belo e magnânimo coração”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30640, 28 de maio de 2015, p.16)


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