terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Notas sobre ouriços-cacheiros


Notas sobre ouriços-cacheiros

Em 1949, o tenente-coronel José Agostinho escreveu que os Açores “não receberam do Criador o castigo de quaisquer espécies de animais nocivas” e quando começaram a ser povoados não existiam animais prejudiciais ao homem.

Com o decorrer dos tempos voluntária ou involuntariamente, com consciência do ato ou “por falta de cuidados e precauções, muitas espécies tanto animais como vegetais têm sido introduzidas. Se algumas têm sido prejudiciais a quem cá vivia, na altura José Agostinho deu o exemplo dos ratos e da mosca inglesa, outras não têm causado qualquer dano ou poderão ser consideradas úteis, como será o caso do ouriço-cacheiro.

Sobre a sua introdução nos Açores temos poucas informações disponíveis. Com efeito apenas conhecemos dois textos em que o assunto é abordado, um publicado no jornal Correio dos Açores e outro no jornal “A União”.

Segundo o jornal Correio dos Açores de 21 de Julho de 1939, a introdução do ouriço-cacheiro na ilha de São Miguel foi voluntária, mas a sua disseminação pela ilha é que não, pois apesar de “inofensivos e tímidos, pouco dados a afoutezas românticas” aquela só aconteceu depois de “meia dúzia” deles se terem escapado “do Relvão há cerca de 15 anos”, portanto por volta de 1914.

Sobre a introdução na ilha Terceira, num texto publicado a 29 de outubro de 1975, o engenheiro Fernando Cordeniz Fagundes escreveu: “o ouriço-cacheiro foi introduzido nesta ilha de longa data e fixado, sobretudo nas zonas de Pico da Urze, S. Carlos, Terra Chã e Bicas”.

Injustamente considerados nocivos para o homem, entre nós, os ouriços-cacheiros foram desde sempre perseguidos e mortos, a golpe de foice ou de sacho, à paulada ou atropelados pelos veículos motorizados. Sobre isto, Fernando Fagundes escreveu: “Pelo que nos foi dado concluir, abeiramo-nos de uma insensatez, considerada involuntária por desconhecimento, dos condutores de veículos automóveis que, por os julgarem animais nocivos, propositadamente tentam e quase sempre conseguem, a sua destruição.

A importância do ouriço-cacheiro na agricultura é enorme, embora seja menosprezada pois está ativo de noite, não sendo portanto observada. De acordo com o livro “As Bases da Agricultura Biológica- Tomo I- Produção Vegetal”, editado em 2012 pela EdiBio, Edições, Lda, o ouriço-cacheiro come grande variedade de insetos, grande quantidade de moluscos e também se alimenta de ratos.

Alice Moderno (1867-1946) também se interessou pela situação dos ouriços-cacheiros e para evitar que os mesmos fossem mortos, em 1940, publicou um anúncio no Correio dos Açores, onde manifestou o interesse em os comprar, tendo aparecido pouco depois um indivíduo com dois que ela comprou e soltou no seu jardim.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30808, 15 de dezembro de 2015, p.14)

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