terça-feira, 24 de outubro de 2017
A desilusão com o Mundo de António Augusto Riley da Mota
A desilusão com o Mundo de António Augusto Riley da Mota
“Creio que o que há de mais essencial no ensino é despertar o interesse do estudante, e isso é relativamente fácil em ciências naturais e físicas – basta tornar o ensino objetivo com observação e experiência” (A.A, Riley da Mota)
Antes de fazermos referência ao episódio que terá estado na origem da demissão do Dr. António Augusto Riley da Mota de Diretor Geral do Ensino Secundário, logo seguida da sua aposentação, a seu pedido, fazemos uma breve apresentação de um homem que em alguns aspetos, esteve e talvez estaria hoje, se fosse vivo, muito à frente do seu tempo.
O Dr. António Augusto Riley da Mota, filho do Eng. Dinis Moreira da Mota, natural do Pico da Pedra, nasceu em Ponta Delgada em 1893 e faleceu, com 74 anos de idade, na mesma cidade no dia 17 de abril de 1967.
Frequentou o liceu de Ponta Delgada entre 1905 e 1910, tendo terminado o curso liceal com a classificação de vinte valores. Em 1917, terminou o curso de Físico- Químicas na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra com a nota final de 19 valores e com idêntica classificação fez o Exame de Estado, no ano seguinte, na Escola Normal Superior.
Antes de chegar ao Ministério da Educação, foi professor efetivo, durante um ano, no Liceu de Angra do Heroísmo, tendo no ano seguinte ocupado uma vaga no Liceu de Ponta Delgada, onde chegou ao cargo de reitor, em janeiro de 1936.
António Augusto Riley da Mota, em 1940 rumou a Lisboa onde a convite do Ministro da Educação foi nomeado Diretor Geral do Ensino Liceal, cargo que assumiu até 1946, ano em que, segundo Áurea Adão e Maria José Remédios autoras de um artigo intitulado “Memória para a frente, e…o resto é lotaria dos exames. A reforma do ensino liceal em 1947”, publicado na Revista Lusófona de Educação, em 2008, a 16 de março meteu uma licença por doença de 60 dias e passou “à inactividade a partir de 11 de Maio desse mesmo ano, “data em que foi julgado incapaz pela Junta Médica da Caixa Geral de Aposentações””.
No âmbito das suas funções como Diretor Geral do Ensino Liceal, ao serviço do Estado Novo, o Dr. António Augusto Riley da Mota deu cumprimento à decisão do Ministro da Educação, António Faria de Carneiro Pacheco, que ordenou a colocação obrigatória de crucifixos nos liceus, ação que, segundo Paula Borges Santos, “inscrevia-se no âmbito da refor¬ma do ensino liceal, que permitira aí introduzir o ensino da moral cristã”, através do envio de circulares aos reitores. De acordo com a autora referida, a circular detalhava o que devia ser feito, como a realização da “cerimónia «na sala da reitoria, pelo menos na presença de todos os professores e de todos os chefes de turma»; quando não fosse possível usar a reitoria, utilizar outra sala, «devendo, porém, ficar depois colocada na reitoria o crucifixo»”.
Mas, enquanto o Dr. A.A, Riley da Mota se limitou a fazer cumprir decisões dos seus superiores para o regime estava tudo bem. Contudo, ele foi um eterno descontente com a falta de condições dos estabelecimentos de ensino, com os “excessos dos programas” e com o imobilismo reinante, pelo que a sua passagem pela Direção Geral do Ensino Liceal, segundo o Doutor José de Almeida Pavão, constituiu “uma das suas tarefas mais tormentosas”.
Ainda segundo o Doutor Almeida Pavão, o pedido de aposentação do Dr. Riley Mota deveu-se a “um desentendimento com o Ministro, por uma questão ridícula, em face da visão manifestamente retrógrada do responsável da respetiva pasta, acrescida de melindres de competências”.
Qual terá sido a “questão ridícula” e os “melindres de competências” referidos pelo Doutor Pavão?
A 11 de outubro de 1944 foi nomeada uma Comissão de Reforma do Ensino Liceal (CREL), presidida pelo Dr. António Augusto Riley da Motta que no final do ano seguinte endereçou um inquérito a todos os reitores onde questionava se deveria haver um plano de estudos diferentes para rapazes e raparigas, se devia existir ou não coeducação e sobre a formação dos professores e das professoras e sobre os seus vencimentos.
A discussão daquelas questões veio para a praça pública, nomeadamente para os jornais e o Ministério da Educação acabou por esclarecer que não pretendia alterar nada relativamente à “coeducação dos sexos” e, ainda segundo Áurea Adão e Maria José Remédios, o ministro afirmou que não havia autorizado “a realização de qualquer inquérito sobre este assunto” e informou que “se alguém com maior ou menor responsabilidades oficiais se quis sobrepor à competência do ministro da Educação Nacional, não temos dúvidas de que lhe serão tomadas contas”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31364, 25 de outubro de 2017, p.17)
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