terça-feira, 24 de abril de 2018
MEM, A NOVA SEITA?
MEM, A NOVA SEITA?
De vez em quando a nossa ilha é invadida por seitas diversas que, percebendo a fragilidade de muitos humanos, fazem campanhas muito aliciantes para, por um lado, divulgar a sua mensagem e, por outro, atrair às suas fileiras mais fiéis.
Fui alertado por alguns colegas meus para umas sessões, abertas a todos os interessados sobretudo professores e educadores, realizadas mensalmente. aos sábados, numa escola de Ponta Delgada.
Por curiosidade fui assistir a uma das sessões a que eles chamam Sábados Pedagógicos e não tive dúvidas de que estamos em presença de algo muito estranho que me deixou desconfiado acerca das verdadeiras intensões dos seus promotores.
A seguir apresento alguns aspetos que me fizeram ficar com comichão atrás da orelha:
1- Os formadores, nunca são apresentados como tal, mas como colegas que já trabalham há mais tempo seguindo um determinado modelo/filosofia de ensino. Não são remunerados pelo seu trabalho, o que é um bocado suspeito pois ninguém trabalha de graça.
2- Os formandos, professores dos diversos graus de ensino e educadores, em número que segundo me dizem está a crescer, sacrificam mensalmente uma boa parte de um sábado quando podiam estar a gozar o merecido descanso. O que motiva esses educadores e professores quando a única recompensa parece ser um certificado de presença emitido no final do ano letivo?
3- Segundo pesquisa que efetuei o movimento em questão “defende a promoção dos professores, a construção autogerida da sua formação” e também afirma que “o único modo dignificante de convivência …é a colaboração e a entreajuda: a solidariedade no trabalho e na vida pela cooperação educativa”. Nada de mais errado, nos dias de hoje, sabendo-se que toda a formação tem de ser imposta de cima para baixo, pois só os dirigentes sabem o que é necessário para a formação dos subordinados. Falar em cooperação é tentar sub-repticiamente aliciar para uma corrente de pensamento que está ultrapassada, a que defendia o cooperativismo. António Sérgio está morto e enterrado.
4- Pelo que ouvi, o movimento em questão defende a participação dos alunos em todo o processo educativo e o seu envolvimento na vida da escola, desde as questões mais simples até à própria definição de critérios de avaliação. Outro erro, o papel do aluno é única e exclusivamente o de aprender. Para a tomada de decisões, cabe ao professor, no limite, conversar com o delegado e subdelegado de turma, pois estes foram eleitos democraticamente para representar os seus colegas. Nas escolas já há democracia a mais.
5- Outra questão que pode levar ao erro é a designação da associação a que nos vimos referindo: MEM - Movimento da Escola Moderna. Como pode ter no seu nome a palavra Moderna, quando o MEM já existe desde 1966, tendo inclusivamente sido perseguido durante o Estado Novo?
Antes de terminar e antes de ser insultado na praça pública, como já aconteceu, deixo uma chamada de atenção aos mais distraídos. Quem me conhece bem sabe que a minha opinião não é a que é transmitida na primeira parte deste texto e percebe que estou a ser irónico, aos que não me conhecem recomendo algum cuidado na interpretação dos textos que leem. A todos, aconselho que tirem um tempinho e apareçam num dos próximos sábados pedagógicos promovidos pelo Núcleo de São Miguel do MEM.
O próximo Sábado Pedagógico, que se realiza no dia 12 de maio, na Escola Secundária das Laranjeiras, terá como convidado Sérgio Niza, um dos fundadores do MEM, que segundo António Nóvoa é “a presença mais constante, mais coerente e inspiradora da pedagogia portuguesa dos últimos 50 anos”.
Termino com uma citação de Sérgio Niza que é também o autor das pequenas citações apresentadas anteriormente: “Ou a nossa escola é, por aspiração, por esforço, uma construção permanentemente ética e democrática, ou nunca teremos nunca uma democracia”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31506 24 de abril de 2018, p.17)
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