quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Duas notas sobre Francisco Soares Silva


Com os pés na terra (396)
Duas notas sobre Francisco Soares Silva

Por mais de uma vez escrevemos sobre o operário micaelense Francisco Soares Silva que foi diretor do jornal Vida Nova que se publicou em Ponta Delgada no início do século XX.

A leitura do livro “Os Alevantes da Memória”, da autoria de David Luna de Carvalho, editado em 1999, pelas Edições Salamandra dá-nos a conhecer a ligação de Francisco Soares Silva ao concelho do Nordeste, na ilha de São Miguel.

Tal como aconteceu com a democracia surgida com o 25 de abril de 1974, que foi construída essencialmente por adeptos do Estado Novo daí o estado em que o país e a região se encontram, a República implantou-se em terreno onde escasseavam os republicanos.

No caso do Nordeste, o autor referido menciona a pouca adesão à República, dando como prova o facto de apenas 43 pessoas terem assinado a sua proclamação. Ainda segunda a mesma fonte, para além do administrador do Concelho, “feito à pressa republicano”, apenas havia dois nomes que não estavam associados à monarquia como se pode ler através do seguinte extrato: …o único que não tinha a ver com o partido republicano era o médico-cirurgião, António Cabral de Mello. O outro nome, Francisco Soares da Silva, assumia-se como “Socialista-Libertário”.

Por que razão assinou Francisco Soares Silva, a proclamação da república nos Paços do Concelho do Nordeste?

De momento, desconhecemos já que nas pesquisas efetuadas até ao momento o seu nome aparece sempre ligado a Ponta Delgada.

Outro livro consultado, recentemente, que esclarece um pouco mais a ligação da feminista Alice Moderno com os principais responsáveis pelo jornal Vida Nova é o da autoria de Breno de Vasconcelos, intitulado “Paz Cinzenta …os Açores através de algumas figuras e episódios de uma época”, editado em Lisboa, em 1979.
Francisco Soares Silva foi um dos primeiros sócios da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, instituição fundada por Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa. Foi também na tipografia de Alice Moderno que chegou a ser impresso o jornal Vida Nova de Francisco Soares Silva.

Através do livro de Breno de Vasconcelos ficamos a saber que um dos dirigentes do movimento operário em são Miguel, Manuel Medeiros Cabral, companheiro e vizinho de oficina de Francisco Soares Silva, possuía a sua “Agência Funerária Cabral” ao lado do escritório de Alice Moderno, no edifício que era pertença daquela ilustre escritora e defensora dos animais.

Sobre o débil movimento operário micaelense, onde o nome de Francisco Soares Silva, teve um papel ímpar, Breno de Vasconcelos escreveu o seguinte:

“No auge das campanhas proletárias que também surgirem em Ponta Delgada, mestre Cabral tomou parte activa, juntamente com um seu vizinho de oficina, Francisco Soares Silva, mais conhecido por “mestre Chico Manco”, que era bastante inteligente e foi um dos acérrimos defensores da classe operária”.

Pico da Pedra, 14 de dezembro de 2018

Teófilo Braga

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