quarta-feira, 18 de setembro de 2019

De Jean Giono aos Amigos dos Parque Ecológico do Funchal



De Jean Giono aos Amigos dos Parque Ecológico do Funchal

Em março do presente ano, a associação Campo Aberto editou um livro para todas as idades intitulado “O Homem Que Plantava Árvores” da autoria de Jean Giono, escritor francês que, segundo o coordenador da edição, José Carlos Costa Marques, “é no seu país de origem um dos maiores prosadores do século XX”.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o livro referido, traduzido em mais de 13 línguas, não relata a história real de um homem, Elzéard Bouffier, que plantou centenas de milhares de árvores e com isto fez com que uma região árida voltasse a ter água e com que aldeias abandonadas voltassem a ter vida. Com efeito, “O Homem Que Plantava Árvores” é um conto inspirado no facto do autor quando era pequeno acompanhar o pai em passeios, onde recolhiam bolotas que depois ponham na terra com a ajuda de uma vara.

Para além do magnífico texto de Jean Giono, a edição da Campo Aberto é valorizada pela ilustração do texto da responsabilidade de Teresa Lima, pelo posfácio de Paulo Ventura Araújo, intitulado “Plantar Árvores: Porquê, Onde e Quais?” e pela nota do coordenador da edição com o título “Giono: Escritor, Visionário e Precursor- regresso à Floresta, regresso à água, regresso às aldeias”.

Este livro cuja leitura se recomenda nas escolas e não só, segundo José Carlos Costa Marques “pretende contribuir: em primeiro lugar para despertar o amor à árvore e a plantação de árvores; logo a seguir, para incentivar a formulação de uma “política” da árvore, coerente e baseada em conceitos sólidos e justos”.

Se a obra de Giono é de ficção, o trabalho hercúleo da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal (AAPEF) é uma realidade cujos resultados estão à vista de todos, no Pico do Areeiro, no Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha, com uma área de 54 000 m2 e, mais recentemente, no Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra-Eva e Américo Durão, que possui uma área de 87200 m2.

A AAPEF, a primeira associação do arquipélago da Madeira a ser reconhecida como ONGA de âmbito local, criada 11 de julho de 1996, tem como fins a conservação da natureza e a manutenção da biodiversidade insular, incidindo, as suas ações principais na conservação dos ecossistemas existentes a maiores altitudes na ilha da Madeira.

Nos primeiros anos a atividade da associação, para além dos tradicionais passeios pedestres, incidiu na criação e manutenção de um viveiro de plantas endémicas. AS primeiras plantações ocorreram em outubro de 2001, numa área totalmente escalvada localizada no Pico da Areeiro, entre os 1700 e 1800 metros de altitude.

Em outubro de 2005, com a compra do Montado do Cabeço da Lenha (5,4 ha) pela associação, a área de intervenção alargou-se. Aqui, houve que retirar as invasoras, eucaliptos, giestas, carquejas, etc. e só depois proceder à plantação de espécies endémicas adaptadas à altitude de 1500 m.

Apesar do revés provocado pelo incêndio de origem criminosa ocorrido, em agosto de 2010, que reduziu a cinzas- calcula-se que 90% das plantações tenham sido destruídas- todo o esforço humano para a recuperação da biodiversidade, os dirigentes da associação e todos os voluntários envolvidos não desanimaram e continuaram, muitas vezes em condições atmosféricas desfavoráveis, a dedicar uma parte dos seus tempos livres a ajudar a natureza a recompor-se.

Hoje, quem visitar as áreas que têm sofrido a intervenção da AAPEF verificará que são verdadeiros oásis de beleza e diversidade quando comparadas com as áreas adjacentes.

Por último, já este ano, a 9 de abril de 2019, a AAPEF recebeu por doação um terreno de 8,7 ha, na freguesia de Santo António da Serra, no concelho de Santa Cruz, onde criou o CAMPO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO SANTO DA SERRA - EVA E AMÉRICO DURÃO. Estão em curso trabalhos de limpeza de matos e lenhas, erradicação de invasoras e plantação de espécies endémicas.

Não sabemos se os dirigentes da AAPEF ou se os voluntários que aderem às suas iniciativas se inspiraram no conto de Jean Giono, mas se este fosse vivo, sem dúvida, sentir-se-ia orgulhoso por, para além do seu conto ser lido em todo o mundo, haver quem, tal como ele que abdicou de direitos de autor, em regime de voluntariado trabalhe em prol de um melhor ambiente para a Madeira e para deixar um Mundo melhor a todos os vindouros.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31931, 18 de setembro de 2019, p. 14)

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