quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Recordando Gualter Pereira Cordeiro


Recordando Gualter Pereira Cordeiro

Faleceu recentemente em Ponta Delgada o mariense, nascido a 14 de setembro de 1929, Gualter Pereira Cordeiro que foi durante vários anos Despachante de Operações ao serviço da SATA, onde começou a trabalhar em 1958. Antes desta data, foi funcionário da Fazenda Pública durante 6 anos e trabalhou durante dois anos na delegação de Santa Maria do Serviço Meteorológico Nacional.

Interessado por tudo o que dizia respeito aos Açores Gualter Cordeiro possuía uma rica biblioteca de temática açoriana, tendo, entre outros, a maioria das obras de Alice Moderno, de que destaco Os Mártires, de 1904, A Apoteose, de 1910, peça escrita para uma homenagem a João de Melo Abreu, Na Véspera da Incursão, de 1913, A Voz do Dever, de 1915, peça dedicada a Afonso Costa e Trevos, de 1930.

Os segredos da natureza, que sempre o fascinaram, fizeram com que Gualter Cordeiro trocasse correspondência com o cientista Tenente Coronel José Agostinho. Guardo religiosamente uma cópia das referidas cartas, algumas inéditas, trocadas entre eles.

Em 1992, a associação Amigos dos Açores publicou a brochura “Cartas Inéditas 1961-1971” que incluiu 6 cartas de José Agostinho e uma carta dirigida àquele por Gualter Cordeiro.

O tema principal das cartas era noticiar a presença de animais que eram raros ou desconhecidos ou disponibilizar informações sobre a presença dos mesmos, nomeadamente aves, em Santa Maria.

A título de exemplo aqui deixo um extrato da Carta de Gualter Cordeiro:

“Da concha pendia uma espécie de rendilhado muito alvo.
Por debaixo dos olhos azuis, saiam dois apêndices mais rijos e que me pareceram cartilagíneos. A ponta da causa terminava também em apêndice em forma de agulha (rabo espécie do rato do mar). O desenho apresenta o achado no seu tamanho natural. Para mim, como já disse, é muitíssimo estranho, mas para V. Exª pode ser já conhecido. O meu propósito é apenas dar-lhe o conhecimento deste achado e o meu interesse em saber do que se trata, pois apenas sou um entusiasta das coisas da Natureza”.

Como recordação do senhor Gualter Cordeiro tenho o livro que ele me ofereceu “Aeroporto de Santa Maria 1946-1996”, da autoria de Laurinda Sousa, em que o seu nome aparece na ficha técnica como colaborador na pesquisa. Para o referido livro também cedeu fotografias.

Gualter Pereira Cordeiro foi uma pessoa que lutou por uma melhor sociedade, quer através da sua participação cívica, quer através do seu envolvimento político.

No que diz respeito à proteção da natureza e conservação do ambiente, Gualter Cordeiro aderiu aos Amigos dos Açores a 14 de setembro de 1984 e durante nove anos fez parte dos seus órgãos sociais. Assim, em 1987, foi membro da direção daquela associação, em 1988 e 1989, fez parte da Mesa da Assembleia Geral e, de 1990 a 1995, pertenceu ao seu Conselho Fiscal.

No que toca à atividade política, Gualter Cordeiro, em 1973, foi Presidente da Comissão Concelhia de Vila do Porto da Ação Nacional Popular e em 1989, era membro da Comissão Política do PDA-Partido Democrático do Atlântico, tendo sido candidato a presidente da Junta de Freguesia da Matriz, Ponta Delgada.

Conheci Gualter Pereira Cordeiro, o senhor Gualter como nós o tratávamos, em 1984, quando ele aderiu à associação Amigos dos Açores que estava, então, a dar os primeiros passos e com ele participei em várias reuniões daquela associação.

Hoje, 18 de outubro de 2019, escrevo este texto com muita tristeza por termos perdido um homem bom e com ele muito da história da nossa terra, nomeadamente da sua ilha natal, Santa Maria.

Até sempre!

Teófilo Braga
(Correio dos Açores 31967, 30 de outubro de 2019, p.14)

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