A
propósito do dragoeiro da Escola Secundária Antero de Quental
Tomei
conhecimento da existência do dragoeiro da Escola Secundária Antero de Quental
quando, em 1973, fui obrigado por lei a fazer o exame do antigo quinto ano
(atual 9º ano de escolaridade) naquele estabelecimento de ensino em virtude de
frequentar o Externato de Vila Franca do Campo.
Durante
os dois anos letivos (1973-74 e 1974-75) em que fui aluno da referida escola, altura
em que nas aulas de desenho livre do professor Silveira íamos para o jardim
desenhar alguma plantas entre as quais o dragoeiro, depois quando lá lecionei
(de 1983-84 a 1988-89) e mais tarde sempre que era convidado para dinamizar alguma
sessão para alunos fui acompanhando a evolução daquela árvore notável que não
percebo por que razão nunca foi alvo de qualquer classificação.
O
Eng. Silvicultor Ernesto Goes, autor do livro “Dragoeiros dos Açores”, editado
na Ribeira Chã, em 1994, por iniciativa do padre Flores, sobre o dragoeiro
referido escreveu o seguinte:
“Um,
no parque da Escola Secundária Antero de Quental, instalado no antigo Palácio
do Barão da Fonte Bela, na cidade de Ponta Delgada, que é o maior desta ilha,
tendo 4,22 m de P.A.P. (perímetro do tronco a 1,30 m do solo), 10 m de altura e
15 m de copa. Se bem que não se saiba a data da plantação deste dragoeiro, no
entanto, julgamos que deveria ter sido plantado na altura da construção do
antigo Paço, iniciado em 1587”.
O
dragoeiro (Dracaena draco (L.) L. subsp. draco), árvore da
família Asparagaceae que é originária da Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias
e Cabo Verde), que se encontra sobretudo a baixas altitudes, normalmente abaixo
dos 200 m.
O dragoeiro é uma árvore de folhas persistentes que
pode atingir 15 metros de altura, com folhas lanceoladas agrupadas nas
extremidades dos ramos. As suas flores, que aparecem entre junho e agosto,
estão dispostas em panículas de cor branca e os frutos são drupas, globosas e
amarelas.
São árvores de crescimento lento e com uma grande
longevidade. A propósito, Raimundo Quintal, na revista “Jardins” de setembro de
2016, escreveu que “segundo o naturalista alemão Alexander von Humboldt (1769 –
1859), o famoso dragoeiro de Orotava, em Tenerife, derrubado por um tufão em
1867, teria mais de 6000 anos. Era uma notável árvore, com 23 m de altura e uma
copa com 24 m de perímetro.”
Os
dragoeiros existentes em várias ilhas dos Açores foram, na sua esmagadora
maioria plantados. Na ilha de São Miguel, para além do que vimos referindo, há,
entre outros, bonitos exemplares no Jardim António Borges, no Parque Terra
Nostra, no Jardim dos Fundadores da Irmandade do Hospital da Maia, no Jardim
Dr. António da Silva Cabral, em Vila Franca do Campo, e no Jardim da Casa do
Povo do Pico da Pedra.
Nos
Açores, a principal utilização do dragoeiro sempre foi como planta ornamental,
existindo quer em jardins quer em antigas quintas senhoriais. Contudo há
referências ao uso da sua seiva incolor que ao oxidar em contacto com o ar
solidifica e fica avermelhada.
Ernesto
Goes, no livro citado, refere que “antigamente, por incisão no tronco,
extraía-se uma resina de cor vermelha (sangue de draco) que era utilizada em
medicina caseira, em tinturaria e também como verniz, muito procurado e cotado
na Europa, para acabamento de violinos”.
Carreiro
da Costa, numa palestra proferida no Emissor Regional dos Açores, a 29 de maio
de 1964, mencionou o uso do sangue-de-drago, conhecido pelo povo como “poses de
adrago”, poses de Adragão ou “torresmilho”, para estimular o apetite dos
animais de criação.
Virgílio
Vieira, Mónica Moura e Luís Silva, no livro “Flora Terrestre dos Açores”,
mencionam o uso da seiva de dragoeiro como corante e em cosmética,
exemplificando a sua utilização pelas senhoras da ilha das Flores para pintura
das unhas.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32557, 13 de outubro de 2021, p.15)
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