Frederick Sanderson e a escola
Durante
o meu mês de férias li muito, principalmente textos sobre as pandemias, algumas
biografias e alguns artigos sobre a educação, com destaque para um trabalho de
Agostinho da Silva intitulado “Sanderson e a Escola de Oundle”.
De
nacionalidade inglesa Frederick Sanderson nasceu em 1857 e faleceu, em Londres,
devido a um ataque cardíaco, em 1923, quando estava a participar numa
conferência, presidida pelo escritor H.G. Wells.
Depois
de tantas reformas e alterações ocorridas nas escolas, o pensamento de
Sanderson sobre o ensino não perdeu de todo atualidade pelo que neste texto dou
a conhecer algumas das suas ideias e inovações que introduziu no Colégio de
Oundle que começou a dirigir com 35 anos.
Apesar
das muitas dificuldades que teve de ultrapassar, a começar pelo facto da sua
escolha não ter agradado a uma grande parte dos pais e dos alunos por entre
outras razões não ser “versado nas línguas e nas literaturas clássicas” e ser
um professor de Física.
Ele
que, segundo Agostinho da Silva, nos primeiros tempos manteve a disciplina “à
pancada”, pelo modo como ensinava, “indo ao encontro dos interesses íntimos dos
moços”, fez com que desaparecessem todas as razões para o castigo.
O
sucesso do seu trabalho no colégio foi tanto que pode ser medido pelo número de
alunos que de início não chegava a uma centena e que pouco tampo depois passou
a ser seiscentos, havendo candidatos que ficavam alguns anos à espera de serem
admitidos.
Ele
que acreditava que um professor não se podia “alhear do que há de mais vivo e
de mais urgente à sua volta e que haja maneira de separar uma atitude perante a
escola de uma atitude perante o mundo” foi capaz de com as suas aulas fazer
nascer uma nova disciplina, “a do interesse e a do amor, não a do interesse
artificial, suscitado pelos quadros de honra, nem a do amor resmungado e
lamentoso do padre-capelão”.
Ele
que acreditava que as escolas deviam ser instituições altruístas, que deveriam
valorizar a cooperação em vez da competição entre os alunos, dava o exemplo
através das suas aulas de física que eram, segundo Agostinho da Silva, as
melhores do colégio.
Na
suas aulas, segundo o autor que vimos citando, “o professor animava as
lições com experiências que nunca se
tinham feito e com uma constante ligação ao mundo real; decoravam-se poucas
fórmulas, mas conheciam-se aplicações industriais, as instalações fabris, as
condições de trabalho; era como se tivessem aberto grandes janelas sobre o
mundo e o mundo os viesse tomar num turbilhão de vida; sentiam-se ligados ao
progresso e trabalhando, no que podiam, para que ele se firmasse e aumentasse”.
Sanderson
era da opinião de que para se atingir um mundo mais perfeito o melhor “método”
seria pela evolução e não a revolução que para além de ser “um desastre para
vencidos e vencedores” estava associada ao grande perigo “da queda na mão dos
tiranos”.
O
grande senão da evolução, segundo ele, seria o de nada se fazer.
Ao
contrário de alguns iluminados que acham que a escola é a solução para todos os
problemas da sociedade, Sanderson, defendia que “a renovação da escola é a
condição indispensável da renovação social; sem ela todo o esforço será
estéril” e que a escola tem de estar intimamente ligada à vida, pois “ela e o
mundo interpenetram-se, nunca se sabe onde uma começa e o outro acaba, toda a
tentativa de separação é artificial e destrutiva”.
Ao
contrário do que está na moda, Sanderson valorizava o trabalho cooperativo,
onde era tida em consideração o contributo de cada um, dependendo das suas
possibilidades. Sobre as vantagens do trabalho de grupo que é muito contestado
e com razão quando é mal aplicado, Agostinho da Silva, escreveu que o mesmo implicava
“a necessidade da formação de um plano de trabalhos, a discussão que se
estabelece a propósito da cada contribuição, a redação de um relatório em
comum, dão a todos a possibilidade de estudarem todas as faces da questão…”
Sanderson,
que queria que o espírito de investigação que é próprio dos laboratórios das
ciências físico-naturais se estendesse a todas as disciplinas, fez com que a
História deixasse de ser estudada pelos manuais, mas sim através da consulta de
textos de grandes historiadores e por documentos contemporâneos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32552, 7 de outubro de 2021, p.
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