quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Frederick Sanderson e a escola

 


Frederick Sanderson e a escola

 

Durante o meu mês de férias li muito, principalmente textos sobre as pandemias, algumas biografias e alguns artigos sobre a educação, com destaque para um trabalho de Agostinho da Silva intitulado “Sanderson e a Escola de Oundle”.

 

De nacionalidade inglesa Frederick Sanderson nasceu em 1857 e faleceu, em Londres, devido a um ataque cardíaco, em 1923, quando estava a participar numa conferência, presidida pelo escritor H.G. Wells.

 

Depois de tantas reformas e alterações ocorridas nas escolas, o pensamento de Sanderson sobre o ensino não perdeu de todo atualidade pelo que neste texto dou a conhecer algumas das suas ideias e inovações que introduziu no Colégio de Oundle que começou a dirigir com 35 anos.

 

Apesar das muitas dificuldades que teve de ultrapassar, a começar pelo facto da sua escolha não ter agradado a uma grande parte dos pais e dos alunos por entre outras razões não ser “versado nas línguas e nas literaturas clássicas” e ser um professor de Física.

 

Ele que, segundo Agostinho da Silva, nos primeiros tempos manteve a disciplina “à pancada”, pelo modo como ensinava, “indo ao encontro dos interesses íntimos dos moços”, fez com que desaparecessem todas as razões para o castigo.

 

O sucesso do seu trabalho no colégio foi tanto que pode ser medido pelo número de alunos que de início não chegava a uma centena e que pouco tampo depois passou a ser seiscentos, havendo candidatos que ficavam alguns anos à espera de serem admitidos.

 

Ele que acreditava que um professor não se podia “alhear do que há de mais vivo e de mais urgente à sua volta e que haja maneira de separar uma atitude perante a escola de uma atitude perante o mundo” foi capaz de com as suas aulas fazer nascer uma nova disciplina, “a do interesse e a do amor, não a do interesse artificial, suscitado pelos quadros de honra, nem a do amor resmungado e lamentoso do padre-capelão”.

Ele que acreditava que as escolas deviam ser instituições altruístas, que deveriam valorizar a cooperação em vez da competição entre os alunos, dava o exemplo através das suas aulas de física que eram, segundo Agostinho da Silva, as melhores do colégio.

 

Na suas aulas, segundo o autor que vimos citando, “o professor animava as lições  com experiências que nunca se tinham feito e com uma constante ligação ao mundo real; decoravam-se poucas fórmulas, mas conheciam-se aplicações industriais, as instalações fabris, as condições de trabalho; era como se tivessem aberto grandes janelas sobre o mundo e o mundo os viesse tomar num turbilhão de vida; sentiam-se ligados ao progresso e trabalhando, no que podiam, para que ele se firmasse e aumentasse”.

 

Sanderson era da opinião de que para se atingir um mundo mais perfeito o melhor “método” seria pela evolução e não a revolução que para além de ser “um desastre para vencidos e vencedores” estava associada ao grande perigo “da queda na mão dos tiranos”.

O grande senão da evolução, segundo ele, seria o de nada se fazer.

 

Ao contrário de alguns iluminados que acham que a escola é a solução para todos os problemas da sociedade, Sanderson, defendia que “a renovação da escola é a condição indispensável da renovação social; sem ela todo o esforço será estéril” e que a escola tem de estar intimamente ligada à vida, pois “ela e o mundo interpenetram-se, nunca se sabe onde uma começa e o outro acaba, toda a tentativa de separação é artificial e destrutiva”.

 

Ao contrário do que está na moda, Sanderson valorizava o trabalho cooperativo, onde era tida em consideração o contributo de cada um, dependendo das suas possibilidades. Sobre as vantagens do trabalho de grupo que é muito contestado e com razão quando é mal aplicado, Agostinho da Silva, escreveu que o mesmo implicava “a necessidade da formação de um plano de trabalhos, a discussão que se estabelece a propósito da cada contribuição, a redação de um relatório em comum, dão a todos a possibilidade de estudarem todas as faces da questão…”

 

Sanderson, que queria que o espírito de investigação que é próprio dos laboratórios das ciências físico-naturais se estendesse a todas as disciplinas, fez com que a História deixasse de ser estudada pelos manuais, mas sim através da consulta de textos de grandes historiadores e por documentos contemporâneos.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32552, 7 de outubro de 2021, p. 13)

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