Hortas Pedagógicas (Comunitárias)
Acompanho
com muito interesse a implementação de hortas comunitárias em vários locais da
ilha de São Miguel e em Portugal continental, nomeadamente em Lisboa e no
Porto. Nesta cidade conheço, através da leitura de vários textos, a experiência
da Quinta das Musas da Fontinha, criada num espaço abandonado e em Lisboa já
visitei as Hortas Urbanas da Quinta da Granja, em Benfica, onde conversei com
vários utilizadores.
Na
Escola Secundárias das Laranjeiras, estive de algum modo ligado à criação do
Clube de Hortofloricultura que foi responsável pela dinamização de uma pequena
área da Horta Pedagógica, através da disponibilização de talhões onde
professores, funcionários, encarregados de educação e grupos de alunos
orientados por um docente puderam cultivar, sobretudo produtos hortícolas.
Do
que tenho lido e das experiências que tenho estudado, cheguei à conclusão de
que por mais boa vontade que haja, por muito que se acredite que as pessoas
saberão respeitar os “vizinhos” e as regras de conduta, faz falta a existência
de um regulamento que estabeleça as regras mínimas que devem ser seguidas por
todos os participantes. No caso das hortas escolares não deve ser esquecido que
a componente educativa deve sobrepor-se a todas as outras, nomeadamente à
produtiva.
A
primeira decisão ainda que difícil a ser tomada é a opção sobre o modo de
cultivo, tradicional com recurso a herbicidas, fungicidas adubos químicos, etc.
ou biológico, sem a utilização de qualquer produto químico de síntese.
Escrevi
que a opção era difícil, pois nas escolas os jardineiros ou os responsáveis
pelos espaços verdes exteriores muitas vezes, vergados pelo peso das tradições,
não são abertos à inovação, por isso pensam que não é possível obter boas
colheitas sem o recurso à parafernália de produtos colocados à disposição pelas
várias empresas e convencem os Conselhos Executivos de que a razão está do seu
lado.
Importa
ficar registado que a terra não produz ou deixa de produzir se alguns
princípios ou regras não forem respeitados. Por exemplo, é impossível continuar
a obter boas colheitas se à terra não for adicionado composto ou outro
fertilizante.
É
uma vergonha que uma escola, que ostente uma bandeira verde, utilize
herbicidas, alguns com glifosato na sua composição, para matar meia dúzia de
ervas que têm nos recreios e que tendo condições para fazer compostagem
continue a mandar para o lixo comum folhas de árvores e outros materiais
verdes.
Que
regras mínimas deverão figurar num regulamento de uma horta escolar?
Aqui
vão algumas que sugiro a quem está a começar:
1- A
prioridade no cultivo dos talhões deve ser dada às turmas e depois a todas as
pessoas individuais da comunidade escolar;
2- Os
talhões apenas podem ser cultivados pelos seus titulares ou por familiares;
3- Não
é permito trespassar talhões;
4- O
mesmo talhão pode ser cultivado por mais do que uma pessoa, desde que haja
acordo entre elas;
5- Apenas
são permitidas técnicas e produtos de agricultura biológica;
6- Os
produtos obtidos devem destinar-se ao autoconsumo, a oferta ou troca com outras
pessoas detentoras de talhões;
7- Os
recursos, como a água e o composto, quando disponibilizado, deverão ser usados
racionalmente;
8- Não
é permitida a construção de qualquer estrutura, para além de estacarias, de
preferência de canas. Outras estruturas carecem de aprovação por parte dos
responsáveis pelo espaço.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32546, 29 de setembro de 2021, p.15)
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