quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Hortas Pedagógicas (Comunitárias)

 


Hortas Pedagógicas (Comunitárias)

 

Acompanho com muito interesse a implementação de hortas comunitárias em vários locais da ilha de São Miguel e em Portugal continental, nomeadamente em Lisboa e no Porto. Nesta cidade conheço, através da leitura de vários textos, a experiência da Quinta das Musas da Fontinha, criada num espaço abandonado e em Lisboa já visitei as Hortas Urbanas da Quinta da Granja, em Benfica, onde conversei com vários utilizadores.

 

Na Escola Secundárias das Laranjeiras, estive de algum modo ligado à criação do Clube de Hortofloricultura que foi responsável pela dinamização de uma pequena área da Horta Pedagógica, através da disponibilização de talhões onde professores, funcionários, encarregados de educação e grupos de alunos orientados por um docente puderam cultivar, sobretudo produtos hortícolas.

 

Do que tenho lido e das experiências que tenho estudado, cheguei à conclusão de que por mais boa vontade que haja, por muito que se acredite que as pessoas saberão respeitar os “vizinhos” e as regras de conduta, faz falta a existência de um regulamento que estabeleça as regras mínimas que devem ser seguidas por todos os participantes. No caso das hortas escolares não deve ser esquecido que a componente educativa deve sobrepor-se a todas as outras, nomeadamente à produtiva.

 

A primeira decisão ainda que difícil a ser tomada é a opção sobre o modo de cultivo, tradicional com recurso a herbicidas, fungicidas adubos químicos, etc. ou biológico, sem a utilização de qualquer produto químico de síntese.

 

Escrevi que a opção era difícil, pois nas escolas os jardineiros ou os responsáveis pelos espaços verdes exteriores muitas vezes, vergados pelo peso das tradições, não são abertos à inovação, por isso pensam que não é possível obter boas colheitas sem o recurso à parafernália de produtos colocados à disposição pelas várias empresas e convencem os Conselhos Executivos de que a razão está do seu lado.

 

Importa ficar registado que a terra não produz ou deixa de produzir se alguns princípios ou regras não forem respeitados. Por exemplo, é impossível continuar a obter boas colheitas se à terra não for adicionado composto ou outro fertilizante.

 

É uma vergonha que uma escola, que ostente uma bandeira verde, utilize herbicidas, alguns com glifosato na sua composição, para matar meia dúzia de ervas que têm nos recreios e que tendo condições para fazer compostagem continue a mandar para o lixo comum folhas de árvores e outros materiais verdes.

 

Que regras mínimas deverão figurar num regulamento de uma horta escolar?

 

Aqui vão algumas que sugiro a quem está a começar:

 

1-      A prioridade no cultivo dos talhões deve ser dada às turmas e depois a todas as pessoas individuais da comunidade escolar;

 

2-      Os talhões apenas podem ser cultivados pelos seus titulares ou por familiares;

 

3-      Não é permito trespassar talhões;

 

4-      O mesmo talhão pode ser cultivado por mais do que uma pessoa, desde que haja acordo entre elas;

 

5-      Apenas são permitidas técnicas e produtos de agricultura biológica;

 

6-      Os produtos obtidos devem destinar-se ao autoconsumo, a oferta ou troca com outras pessoas detentoras de talhões;

 

7-      Os recursos, como a água e o composto, quando disponibilizado, deverão ser usados racionalmente;

 

8-      Não é permitida a construção de qualquer estrutura, para além de estacarias, de preferência de canas. Outras estruturas carecem de aprovação por parte dos responsáveis pelo espaço.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32546, 29 de setembro de 2021, p.15)

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