A propósito
da Bela-sombra da Escola Secundária das Laranjeiras
A
bela-sombra é uma árvore de folha caduca ou semi-caduca (no Funchal é
perenifólia) cujo nome científico é Phytolacca dioica. Phyton significa
planta, lacca, verniz e dioica por possuir os dois sexos em
plantas separadas.
Com
uma copa densa e arredondada, o seu caule apresenta uma forma estranha, muito
alargada na base que faz lembrar uma pata de elefante. A época de floração é de
fevereiro a setembro e as flores masculinas são muito pequenas e esverdeadas e
as femininas, embora pequenas, são brancas.
Como
não há bela sem senão, apesar de ser uma árvore muito bonita, os seus frutos
são venenosos e pelo facto da estrutura maciça que se desenvolve por cima do
solo poder derrubar muros, não deve ser plantada junto de edifícios.
A
bela-sombra é originária da América do Sul (sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e
nordeste da Argentina), sendo cultivada em Portugal Continental e na Madeira sobretudo
em jardins e quintas.
No
que diz respeito à sua longevidade, António Saraiva, considera-a média, embora
exista em Ílhavo, um exemplar quase centenário.
Nos
Açores, o autor referido destaca o exemplar existente na Cedars House, na ilha
do Faial, por sinal bastante maltratado por podas mal executadas. Na ilha de
São Miguel, pode-se encontrar belas-sombras, no Jardim da Universidade dos
Açores, No Parque Urbano de Ponta Delgada, no Jardim do Açor-Arena, em Vila
Franca do Campo, e na Escola Secundária das Laranjeiras.
Não
sabemos como veio a espécie parar aos Açores, mas é do nosso conhecimento que
já se encontrava na lista das principais plantas existentes na primavera de
1856 no Jardim José do Canto que a terá plantado ou semeado, pois não é difícil
a sua reprodução por sementes ou por propagação vegetativa (estaquia).
Acompanho
o crescimento da bela-sombra da Escola Secundária das Laranjeiras, que terá
sido plantada por volta do ano de 1987, desde o início dos anos 90, quando fui
docente daquela escola em regime de acumulação de serviço. Por tal facto, posso
confirmar o que é mencionado na bibliografia sobre a espécie que é de
crescimento muito rápido, podendo alcançar “o seu máximo desenvolvimento antes
dos 15 anos”.
Por
ter notado diferenças no comportamento da planta, isto é muito menos folhagem
do que em anos anteriores e depois cachos de flores mais pequenos, desde março
deste ano comecei a visitar regularmente os exemplares existentes no Parque
Urbano e no jardim mencionado em Vila Franca do Campo para poder fazer
comparações. Cheguei à conclusão de que algo se passava com a árvore mais
emblemática da minha escola que poderia estar doente.
Sem
dar quaisquer sinais, para além dos que já referi, em julho deste ano uma parte
do caule caiu, felizmente sem causar qualquer dano para pessoas e bens. Após a
queda do caule foi possível verificar a podridão existente na base do mesmo,
encontrando-se a árvore desequilibrada pelo que uma eventual queda de algum
ramo ou de toda a árvore poderá causar danos a uma vedação, aos automóveis
estacionados perto ou mesmo a pessoas.
Fico
triste com as podas mal feitas que vou observando um pouco por todo o lado, indigna-me
os cortes com a seda das roçadoras de pequenas e grandes árvores que acabam por
morrer ou não ter um desenvolvimento adequado, revolta-me o abate de árvores
sem qualquer justificação válida, mas há situações em que não há outra
alternativa como aconteceu recentemente com a monumental pata-de-elefante ou
nolina (Beaucarnea recurvata) existente na Rua Nova da Misericórdia.
No
caso da bela-sombra da Escola Secundária das Laranjeiras, manter a planta
arborescente de pé constitui um risco, que não se justifica, para pessoas e
bens, pelo que defendo que o seu abate deverá ocorrer o mais depressa possível
e após a descontaminação do solo deverá ser feita a plantação de outra, de
preferência da mesma espécie.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32540, 22 de setembro de 2021,
p.15)
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