quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A propósito da Bela-sombra da Escola Secundária das Laranjeiras

 


A propósito da Bela-sombra da Escola Secundária das Laranjeiras

 

A bela-sombra é uma árvore de folha caduca ou semi-caduca (no Funchal é perenifólia) cujo nome científico é Phytolacca dioica. Phyton significa planta, lacca, verniz e dioica por possuir os dois sexos em plantas separadas.

 

Com uma copa densa e arredondada, o seu caule apresenta uma forma estranha, muito alargada na base que faz lembrar uma pata de elefante. A época de floração é de fevereiro a setembro e as flores masculinas são muito pequenas e esverdeadas e as femininas, embora pequenas, são brancas.

 

Como não há bela sem senão, apesar de ser uma árvore muito bonita, os seus frutos são venenosos e pelo facto da estrutura maciça que se desenvolve por cima do solo poder derrubar muros, não deve ser plantada junto de edifícios.

 

A bela-sombra é originária da América do Sul (sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e nordeste da Argentina), sendo cultivada em Portugal Continental e na Madeira sobretudo em jardins e quintas.

 

No que diz respeito à sua longevidade, António Saraiva, considera-a média, embora exista em Ílhavo, um exemplar quase centenário.

 

Nos Açores, o autor referido destaca o exemplar existente na Cedars House, na ilha do Faial, por sinal bastante maltratado por podas mal executadas. Na ilha de São Miguel, pode-se encontrar belas-sombras, no Jardim da Universidade dos Açores, No Parque Urbano de Ponta Delgada, no Jardim do Açor-Arena, em Vila Franca do Campo, e na Escola Secundária das Laranjeiras.

 

Não sabemos como veio a espécie parar aos Açores, mas é do nosso conhecimento que já se encontrava na lista das principais plantas existentes na primavera de 1856 no Jardim José do Canto que a terá plantado ou semeado, pois não é difícil a sua reprodução por sementes ou por propagação vegetativa (estaquia).

 

Acompanho o crescimento da bela-sombra da Escola Secundária das Laranjeiras, que terá sido plantada por volta do ano de 1987, desde o início dos anos 90, quando fui docente daquela escola em regime de acumulação de serviço. Por tal facto, posso confirmar o que é mencionado na bibliografia sobre a espécie que é de crescimento muito rápido, podendo alcançar “o seu máximo desenvolvimento antes dos 15 anos”.

 

Por ter notado diferenças no comportamento da planta, isto é muito menos folhagem do que em anos anteriores e depois cachos de flores mais pequenos, desde março deste ano comecei a visitar regularmente os exemplares existentes no Parque Urbano e no jardim mencionado em Vila Franca do Campo para poder fazer comparações. Cheguei à conclusão de que algo se passava com a árvore mais emblemática da minha escola que poderia estar doente.

 

Sem dar quaisquer sinais, para além dos que já referi, em julho deste ano uma parte do caule caiu, felizmente sem causar qualquer dano para pessoas e bens. Após a queda do caule foi possível verificar a podridão existente na base do mesmo, encontrando-se a árvore desequilibrada pelo que uma eventual queda de algum ramo ou de toda a árvore poderá causar danos a uma vedação, aos automóveis estacionados perto ou mesmo a pessoas.

 

Fico triste com as podas mal feitas que vou observando um pouco por todo o lado, indigna-me os cortes com a seda das roçadoras de pequenas e grandes árvores que acabam por morrer ou não ter um desenvolvimento adequado, revolta-me o abate de árvores sem qualquer justificação válida, mas há situações em que não há outra alternativa como aconteceu recentemente com a monumental pata-de-elefante ou nolina (Beaucarnea recurvata) existente na Rua Nova da Misericórdia.

 

No caso da bela-sombra da Escola Secundária das Laranjeiras, manter a planta arborescente de pé constitui um risco, que não se justifica, para pessoas e bens, pelo que defendo que o seu abate deverá ocorrer o mais depressa possível e após a descontaminação do solo deverá ser feita a plantação de outra, de preferência da mesma espécie.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32540, 22 de setembro de 2021, p.15)

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