quarta-feira, 24 de abril de 2024
Sobre o cravo
O craveiro ou cravo (Dianthus caryophyllus) é uma espécie, pertencente à família Caryophyllaceae, nativa do sul da Europa. O género Dianthus possui cerca de 300 espécies, existindo centenas de híbridos.
Introduzido há muitos anos para fins ornamentais, José do Canto, em 1856, no seu jardim em Ponta Delgada, possuía 4 espécies. Para além da mencionada, em Santana, existiam também o cravo-dos-poetas ou cravina-dos-jardins (Dianthus barbatus), o cravo-chinês ou cravina (Dianthus chinensis) e a grande-rosa (Dianthus superbus).
O cravo é uma planta herbácea perene, que pode atingir uma altura de 60 a 90 cm, com folhas opostas, longas e lineares de tonalidade azulada. As suas flores, de cores diversas, são grandes e muito perfumadas, sendo simples na espécie silvestre e dobradas nas variedades cultivadas. Os frutos são cápsulas ovoides alongadas.
A cada cor do cravo está associado um significado. Assim, o branco está ligado ao amor puro e à inocência, o vermelho ao respeito e à paixão, o amarelo à alegria e vivacidade e o roxo à criatividade.
O cravo vermelho foi, sobretudo para as mulheres progressistas o símbolo da igualdade, sendo por elas usados em várias manifestações públicas.
O cravo é cultivado em quintais e jardins, em bordaduras ou em conjuntos isolados, em locais de sol pleno ou meia-sombra e também como flor de corte.
O cravo também é usado como planta medicinal. Assim, no século XVII, Simon Paulli, médico e botânico alemão, menciona o uso das flores do cravo maceradas em vinagre evitava a peste e preservava de ares malignos e pestilentos. No século XVIII, José Quer, médico e botânico espanhol, refere o uso do cravo para combater várias doenças, entre as quais afeções da cabeça e dos nervos.
Na atualidade, as suas pétalas, muito aromáticas e picantes, são comestíveis e usadas medicinalmente. Fernanda Botelho, no seu livro “Flores que se Comem” escreve que as flores podem ser usadas “frescas, cristalizadas ou desidratadas” e segundo o Dr. José Lyon de Castro, o seu uso na medicina deve-se ao facto de possuírem as seguintes propriedades: tónicas, peitorais, excitantes e um pouco diaforéticas.
Várias espécies do género Dianthus são usadas medicinalmente, nomeadamente as conhecidas por cravinas.
Raimundo Quintal, no dia 24 de março de 2024, informou-me que num canteiro das plantas aromáticas e medicinais do Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra, na ilha da Madeira, existe um núcleo de cravos-chineses ou cravinas (Dianthus chinensis) que foram plantados pela Engª Fátima Freitas e que, segundo informação que lhe fora transmitida, as flores eram comestíveis e possuem propriedades antioxidantes.
O médico Oliveira Feijão sobre o assunto escreveu o seguinte: “planta da qual se cultivam diversas variedades em jardins. O povo usa as pétalas secas (sem as “unhas”) da variedade de flor rubra, em infuso ou xarope, como tónico, béquico e diaforético.”
Fernanda Botelho, por seu turno, sobre as propriedades das cravinas, escreveu o seguinte: “Há mais de 2 mil anos que é usada pela medicina tradicional oriental, no caso de disfunções dos sistemas digestivo e urinário, principalmente cistite, para tratamento de prisão de ventre, febres, cólicas menstruais, tosse e cálculos renais.”
Foi como flor de corte e fruto do acaso que, no dia 25 de Abril de 1974, Celeste Martins Caeiro ofereceu um cravo a um soldado que lhe havia pedido um cigarro e este colocou-o no cano da espingarda, gesto que foi seguido por outros. Tal gesto fez com que o cravo se tornasse o símbolo do golpe militar que derrubou a ditadura que oprimiu o povo português durante 48 anos, ficando o mesmo conhecido por Revolução dos Cravos.
O cravo surge na literatura portuguesa relacionado ou não com a Revolução dos Cravos.
Ary dos Santos, no seu poema “As portas que abril Abriu”, publicado em 1975, escreveu a seguinte quadra:
“
Contra tudo o que era velho
Levantado como um punho
Em Maio surgiu vermelho
O cravo do mês de Junho.”
José Fanha, em 1977, no seu poema “Contra um tanque”, publicado na brochura “Olho por Olho” incluiu a seguinte quadra:
“Cravo mole não fura a noite
da fome e das amarguras,
tu tens que estar armado
para as batalhas futuras.”
Pelo aniversário de Papiniano Carlos, Álvaro Martins, em 2008, ofereceu-lhe uma prenda especial:
“Para o teu aniversário
não vai peru nem coelho.
Vai uma flor- e só uma:
mando-te um cravo vermelho
e uma rosa de espuma.”
Emanuel Félix, no seu livro “A Viagem Possível (Poesia-1965/1981)”, publicado em 1984, dedica um poema à sua companheira Filomena:
“Flores para ti, Mena.
O seu perfume aquece e afaga
Como a brisa do Verão.
Cravos vermelhos como esta chaga
Que tu me abriste
No coração.
Pico da Pedra, 25 de abril de 2024
Teófilo Braga
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