segunda-feira, 13 de maio de 2024

Cubre(s)

 Cubre(s)

 


É uma planta característica do litoral das várias ilhas do arquipélago dos Açores, geralmente até aos 100 m de altitude, podendo na ilha das Flores ser dominante, sobretudo nas falésias que adquirem uma coloração amarelada durante o período de floração. Acúrcio Garcia Ramos, em 1871, sobre o cubre escreveu: “Planta notável pela sua formosura. Nasce nas costas de todas as ilhas e principalmente nas Flores”.

 

O cronista Gaspar Frutuoso, nas suas “Saudades da Terra”, aventou a hipótese de a presença de cubres na ilha das Flores estar na origem do seu nome. Segundo ele: “parece-me que por haver muitos cubres que dão estas flores, cada haste uma só, no mês de Maio até todo o Setembro, neste tempo a deviam achar os primeiros descobridores, e vendo-a tão florida lhe puseram o nome que tem de ilha das Flores”.

 

O nome Fajã dos Cubres, na Ilha de São Jorge, está associado à presença de cubres naquela  fajã localizada na freguesia da Ribeira Seca, na costa norte daquela ilha.

 

O cubre que prefere zonas costeiras, geralmente até aos 100 me de altitude, na ilha de São Miguel pode ser encontrado em vários locais, nomeadamente na Praia da Viola, no concelho da Ribeira Grande.

 

O cubre (Solidado azorica Hochst. Ex Seub.) é uma planta endémica dos Açores pertencente à família Asteracea que durante muitos anos foi classificado como Solidago sempervirens L. e que pode ser observado na costa oriental da América do Norte.

 

De acordo com Vieira, Moura e Silva (2020), o cubre é uma planta “herbácea ereta, lenhosa na base, perene com roseta de folhas e hastes florais, medindo até 1,5 m de altura” que floresce nos meses de junho a agosto. Por seu turno, o botânico sueco Erik Sjogren, no seu livro “Plantas e Flores dos Açores”, escreve que os caules podem atingir até 60 cm de comprimento e que a planta apresenta um “grande número de pequenas flores amarelas”

 

Sobre a utilização dos cubres, não encontramos muitas referências, pelo que uma vez mais recorremos a Gaspar Frutuoso que no livro VI das saudades da Terra ao escrever sobre a ilha Terceira mencionou o seguinte:

 

“Há também na mesma ilha, da banda do norte, capitania que foi da Praia, dentro no mato, acima dos moinhos de Agualva, uma pequena furna donde se tira almagra tão fina, que a vão buscar pera deitar com ela emprastos (sic) aos cavalos, como se fora bonarménico (sic) e, da mesma parte do norte, junto de Agualva, há infinidade de cubres e grandes campos e sarrados (sic) cobertos deles, que dizem ser erva medicinal pera muitas enfermidades e principalmente pera fogo, em tanto que, vindo ter a ela um castelhano, grande herbolário e físico, curou com água deles estilada muitas pessoas de várias doenças e levou muitas peroleiras cheias da mesma água, que mandou estilar das flores deles, as quais fazia apanhar antes do sol saído, dizendo que levava nela muito rica mezinha, em que esperava fazer muito dinheiro nas Índias de Castela pera onde determinava tornar, o qual também dizia qua havia na mesma ilha mais fina salsaparrilha que nas Índias, donde vinha, sem querer declarar nem mostrar qual era.”

 

Vieira, Moura e Silva (2020) apresentam o cubre como sendo um “recurso natural dos Açores. Medicinal (e.g. pode ser usada no tratamento de inflamação e irritação causada por infeções bacterianas).

 

Dada a beleza e a cor das suas flores os cubres podiam muito bem ser usados como planta ornamental, como já acontece num jardim existente na freguesia da Santa Cruz, no concelho da Lagoa na ilha de São Miguel.

 


Teófilo Braga

 

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