Cubre(s)
É
uma planta característica do litoral das várias ilhas do arquipélago dos
Açores, geralmente até aos 100 m de altitude, podendo na ilha das Flores ser
dominante, sobretudo nas falésias que adquirem uma coloração amarelada durante
o período de floração. Acúrcio Garcia Ramos, em 1871, sobre o cubre escreveu:
“Planta notável pela sua formosura. Nasce nas costas de todas as ilhas e
principalmente nas Flores”.
O
cronista Gaspar Frutuoso, nas suas “Saudades da Terra”, aventou a hipótese de a
presença de cubres na ilha das Flores estar na origem do seu nome. Segundo ele:
“parece-me que por haver muitos cubres que dão estas flores, cada haste uma só,
no mês de Maio até todo o Setembro, neste tempo a deviam achar os primeiros
descobridores, e vendo-a tão florida lhe puseram o nome que tem de ilha das
Flores”.
O nome Fajã
dos Cubres, na Ilha de São Jorge, está associado à presença de
cubres naquela fajã localizada na
freguesia da Ribeira Seca, na costa norte daquela ilha.
O
cubre que prefere zonas costeiras, geralmente até aos 100 me de altitude, na
ilha de São Miguel pode ser encontrado em vários locais, nomeadamente na Praia
da Viola, no concelho da Ribeira Grande.
O
cubre (Solidado azorica Hochst. Ex Seub.) é uma planta endémica dos
Açores pertencente à família Asteracea que durante muitos anos foi classificado
como Solidago sempervirens L. e que pode ser observado na
costa oriental da América do Norte.
De acordo com Vieira, Moura e Silva (2020), o cubre é uma planta
“herbácea ereta, lenhosa na base, perene com roseta de folhas e hastes florais,
medindo até 1,5 m de altura” que floresce nos meses de junho a agosto. Por seu turno, o botânico sueco Erik Sjogren, no seu
livro “Plantas e Flores dos Açores”, escreve que os caules podem atingir até 60
cm de comprimento e que a planta apresenta um “grande número de pequenas flores
amarelas”
Sobre a utilização dos cubres, não
encontramos muitas referências, pelo que uma vez mais recorremos a Gaspar
Frutuoso que no livro VI das saudades da Terra ao escrever sobre a ilha
Terceira mencionou o seguinte:
“Há também na mesma ilha, da banda do norte,
capitania que foi da Praia, dentro no mato, acima dos moinhos de Agualva, uma
pequena furna donde se tira almagra tão fina, que a vão buscar pera deitar com
ela emprastos (sic) aos cavalos, como se fora bonarménico (sic) e, da mesma
parte do norte, junto de Agualva, há infinidade de cubres e grandes campos e
sarrados (sic) cobertos deles, que dizem ser erva medicinal pera muitas
enfermidades e principalmente pera fogo, em tanto que, vindo ter a ela um
castelhano, grande herbolário e físico, curou com água deles estilada muitas
pessoas de várias doenças e levou muitas peroleiras cheias da mesma água, que
mandou estilar das flores deles, as quais fazia apanhar antes do sol saído,
dizendo que levava nela muito rica mezinha, em que esperava fazer muito dinheiro
nas Índias de Castela pera onde determinava tornar, o qual também dizia qua
havia na mesma ilha mais fina salsaparrilha que nas Índias, donde vinha, sem
querer declarar nem mostrar qual era.”
Vieira, Moura e Silva (2020)
apresentam o cubre como sendo um “recurso natural dos Açores. Medicinal (e.g.
pode ser usada no tratamento de inflamação e irritação causada por infeções
bacterianas).
Dada
a beleza e a cor das suas flores os cubres podiam muito bem ser usados como
planta ornamental, como já acontece num jardim existente na freguesia da Santa
Cruz, no concelho da Lagoa na ilha de São Miguel.
Teófilo
Braga
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