Louro
O louro,
loureiro ou louro-da-terra (Laurus azorica),
é uma planta endémica dos Açores, existente em todas as ilhas do arquipélago,
que pertence à família Lauraceae.
O
louro é uma árvore perenifólia que pode atingir até 15 m de altura. As suas folhas
são elípticas, oblongas ou obovadas, as suas flores são verde-amareladas e os
frutos são carnudos, elipsoides e pretos quando estão maduros.
O louro foi das
plantas mais importantes para os primeiros habitantes dos Açores, devido à sua madeira,
que foi usada como matéria-prima para o fabrico de carros, arados, charruas e
cangas para as juntas de bois e às suas bagas. Gaspar Frutuoso (1998) sobre o
seu uso escreveu o seguinte: “…louros (de cuja baga se faz todos os anos que a
há muito azeite que, ainda que não presta para comer, serve de alumiar e de
mezinhas na terra e fora dela, onde se leva) …”.
Em algumas ilhas
dos Açores, o louro é usado como sebe alta de proteção de frutícolas. Brandão de Oliveira (1985) sobre o assunto
escreveu: “…cujo uso em sebes de há muito tem vindo a ser posto de parte
sobretudo porque esta espécie apresenta como regra curta duração. Ainda
subsiste em consociação por exemplo em São Miguel (Capelas).”
Ao descrever a ilha de São Miguel, Gaspar Frutuoso por várias vezes
regista a existência de louros, cuja presença terá dado o nome a alguns locais,
como a Roça do Louro ou o Pico do Louro. Ao mencionar as Capelas, Frutuoso
escreveu o seguinte: “Logo pegado com ele, para a parte da
serra, se chama aquela terra as Capelas, da razão do qual nome há muitas
opiniões. São estas Capelas biscoutos, e terras de pão poucas, carecidas de
águas, mas abastadas de mato de murtaes, tamujos, louros e árvores de outra
sorte; há nelas algumas benfeitorias de pomares e vinhas.”
Os louros ou
loureiros estão também ligado à religiosidade popular, sendo usados para fazer
as tradicionais fogueiras em honra de Santo Antão ou na noite de São João.
Sobre os efeitos
resultantes de saltar às fogueiras Armando Cortes Rodrigues, citado por Furtado
(2010) deu a conhecer a seguinte quadra do Cancioneiro Geral dos Açores:
São João é divertido
Amigo das brincadeiras
Abençoa as criancinhas
Quando saltam as fogueiras
Furtado (2010)
também recorda que, de acordo com a “tradição popular, quem saltar uma fogueira
na noite de S. João, em número ímpar de saltos, ficará todo o ano protegido
contra todos os males.”
O Padre Ernesto
Ferreira, no seu livro “A alma do povo micaelense”, datado de 1933, refere-se
àquela noite do seguinte modo: “Noite de Sam João! Noite de Sam João! Que
saudade do crepitar das tuas fogueiras, em que ardem loiros, embalsamando os
ares com os seus acres aromas!”
Para além do seu uso na culinária, Abranches (1894) refere que o louro era
usado como desinfetante e Gomes (1993) escreve que “com as suas folhas obtém-se
um chá com propriedades digestivas, expectorantes, diuréticas e sudoríficas.”
Os agricultores colocavam ramos de louro sobre os tabuleiros de batatas
para evitar a traça (Phthorimaea operculella).
Para além da
espécie que vimos mencionando, nos Açores é possível encontrar também o Laurus
nobilis, oriundo da Região Mediterrânica, mas que se encontra naturalizado
nas seguintes ilhas: Faial, Pico, São Jorge, Graciosa, Terceira e São Miguel.
Na ilha da
Madeira, a partir do loureiro-da-madeira (Laurus novocanariensis) é extraído o azeite de louro que, segundo Raimundo Quintal, “tem fama de ser bom remédio depurativo do sangue e cicatrizante de lesões
internas e externas. O azeite de louro é também usado para friccionar as
articulações com o objetivo de diminuir as dores reumáticas.”
Teófilo Braga
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