terça-feira, 21 de maio de 2024

Louro

 



Louro

 

O louro, loureiro ou louro-da-terra (Laurus azorica), é uma planta endémica dos Açores, existente em todas as ilhas do arquipélago, que pertence à família Lauraceae.

 

O louro é uma árvore perenifólia que pode atingir até 15 m de altura. As suas folhas são elípticas, oblongas ou obovadas, as suas flores são verde-amareladas e os frutos são carnudos, elipsoides e pretos quando estão maduros.

 

O louro foi das plantas mais importantes para os primeiros habitantes dos Açores, devido à sua madeira, que foi usada como matéria-prima para o fabrico de carros, arados, charruas e cangas para as juntas de bois e às suas bagas. Gaspar Frutuoso (1998) sobre o seu uso escreveu o seguinte: “…louros (de cuja baga se faz todos os anos que a há muito azeite que, ainda que não presta para comer, serve de alumiar e de mezinhas na terra e fora dela, onde se leva) …”.

 

Em algumas ilhas dos Açores, o louro é usado como sebe alta de proteção de frutícolas. Brandão de Oliveira (1985) sobre o assunto escreveu: “…cujo uso em sebes de há muito tem vindo a ser posto de parte sobretudo porque esta espécie apresenta como regra curta duração. Ainda subsiste em consociação por exemplo em São Miguel (Capelas).”

 

Ao descrever a ilha de São Miguel, Gaspar Frutuoso por várias vezes regista a existência de louros, cuja presença terá dado o nome a alguns locais, como a Roça do Louro ou o Pico do Louro. Ao mencionar as Capelas, Frutuoso escreveu o seguinte: “Logo pegado com ele, para a parte da serra, se chama aquela terra as Capelas, da razão do qual nome há muitas opiniões. São estas Capelas biscoutos, e terras de pão poucas, carecidas de águas, mas abastadas de mato de murtaes, tamujos, louros e árvores de outra sorte; há nelas algumas benfeitorias de pomares e vinhas.”

 

Os louros ou loureiros estão também ligado à religiosidade popular, sendo usados para fazer as tradicionais fogueiras em honra de Santo Antão ou na noite de São João.

 

Sobre os efeitos resultantes de saltar às fogueiras Armando Cortes Rodrigues, citado por Furtado (2010) deu a conhecer a seguinte quadra do Cancioneiro Geral dos Açores:

 

São João é divertido

Amigo das brincadeiras

Abençoa as criancinhas

Quando saltam as fogueiras

 

Furtado (2010) também recorda que, de acordo com a “tradição popular, quem saltar uma fogueira na noite de S. João, em número ímpar de saltos, ficará todo o ano protegido contra todos os males.”

 

O Padre Ernesto Ferreira, no seu livro “A alma do povo micaelense”, datado de 1933, refere-se àquela noite do seguinte modo: “Noite de Sam João! Noite de Sam João! Que saudade do crepitar das tuas fogueiras, em que ardem loiros, embalsamando os ares com os seus acres aromas!”

 

Para além do seu uso na culinária, Abranches (1894) refere que o louro era usado como desinfetante e Gomes (1993) escreve que “com as suas folhas obtém-se um chá com propriedades digestivas, expectorantes, diuréticas e sudoríficas.”

 

Os agricultores colocavam ramos de louro sobre os tabuleiros de batatas para evitar a traça (Phthorimaea operculella).

 

Para além da espécie que vimos mencionando, nos Açores é possível encontrar também o Laurus nobilis, oriundo da Região Mediterrânica, mas que se encontra naturalizado nas seguintes ilhas: Faial, Pico, São Jorge, Graciosa, Terceira e São Miguel.

 

Na ilha da Madeira, a partir do loureiro-da-madeira (Laurus novocanariensis) é extraído o azeite de louro que, segundo Raimundo Quintal, “tem fama de ser bom remédio depurativo do sangue e cicatrizante de lesões internas e externas. O azeite de louro é também usado para friccionar as articulações com o objetivo de diminuir as dores reumáticas.”

 

Teófilo Braga

Sem comentários: