quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Autonomistas e separatistas


Autonomistas e separatistas ao longo dos tempos

Nas minhas pesquisas, na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, relacionadas essencialmente com a temática da defesa dos animais, por vezes divago e tomo notas sobre outros assuntos de que destaco tudo o que se relaciona com Vila Franca do Campo, com Antero de Quental e com outras personalidades que no passado elevaram bem alto o nome dos Açores.

Um dos temas que me tem chamado a atenção é o dos movimentos autonomistas e ou separatistas que têm surgido nos Açores ao longo dos tempos.

Nesta minha colaboração de hoje, farei referência a uma carta de Antero de Quental e a alguns textos publicados no Correio dos Açores, durante a primeira República e nos primeiros tempos da ditadura militar que se lhe seguiu.

Antero de Quental (1842-1891) numa carta enviada ao Dr. Francisco Machado Faria e Maia (1815-1890), publicada no Correio dos Açores, no dia 12 de setembro de 1926, por ocasião do trigésimo quinto aniversário da morte do poeta, refere que através dos jornais havia tomado conhecimento da realização em Ponta Delgada de “meetings separatistas” e a propósito acrescenta: “ Que se agitam as opiniões e que se quer arvorar a bandeira estrelada dos Estados Unidos! Será certo? Não posso crê-lo, por que conheço o ânimo brando e sofredor dos meus patrícios. Coisas do Supico, é o que se me afigura: uma agitação passada entre a botica do Campo de São Francisco e a botica dos arcos do Cais”.

“O Protesto”, órgão e propriedade do Centro Socialista “Antero de Quental”, em 1917, num texto intitulado “Os Açores para os Açorianos”, lamentou o abandono a que era votado o nosso arquipélago, escrevendo que “…o caso do submarino veio por em destaque a pouca atenção que os Açores merecem a este governo, como mereceram a todos os governos da extinta Monarquia e da atual República, desde que ultrapassem os seus deveres de darem dinheiro, mais dinheiro, muito dinheiro para a metrópole”.

Segundo o mesmo jornal, para os políticos que governam Portugal a sua única preocupação é manterem-se no poder, o resto para nada conta. Face a esta situação, a resposta dos açorianos tem de ser deixar de apoiar “unionistas”, “democráticos” ou “almeidistas” e criar um grande partido regional que “roubará os Açores à exploração da metrópole, que os libertará deste pesadelo constante que os deprime e definha, que os não deixa progredir”.

Na sequência de algumas informações prestadas pelo cidadão José Lourenço da Silva a dois jornais diários de Lisboa, A Capital e A Manhã, classificadas pelo presidente da Comissão Administrativa da Junta Geral de Angra do Heroísmo, como fazendo parte de “uma infame e malvada campanha contra o brio, dignidade e patriotismo dos açorianos”, a referida comissão condenou as “falsas, falsíssimas informações dadas pelo mencionado José da Silva e entendeu, por bem, prestar alguns esclarecimentos ao senhor Ministro do Interior a todo o Governo da República.

No texto da responsabilidade da referida Comissão, publicado no jornal Diário dos Açores, de 6 de maio de 1919, entre outros pontos, é dado destaque ao seguinte:

“Não se tem distribuído jornal algum neste distrito, que haja apresentado ou seja capaz de apresentar ou advogar a ideia separatista dos Açores! O que os açorianos pretendem, apenas, é uma autonomia mais ampla, dentro da sua querida Nacionalidade, para que possam ser devidamente aproveitados os valiosíssimos recursos de que dispomos”.

No final de 1927 correu por Lisboa o boato de que os Açores haviam declarado a Independência, tendo sido criada, na ilha Terceira, uma Junta Governativa. Sobre este caso o Delegado Especial do Governo nos Açores escreveu o seguinte: “Afirmo a V. Exª e a todo o Governo que a ordem é absoluta em todo o arquipélago, mantendo-se a atitude simpática e apoio da população açoriana à ação do Governo da Ditadura”.

Sobre as “blagues” que uma vez por outra surgiam no continente acerca da independência dos Açores o Dr. José Bruno Tavares Carreiro (1880-1957) numa conferência proferida na Sociedade de Geografia escreveu o seguinte: “Os Açores querem que os não tratem como um menor, eternamente menor, exercendo sobre eles uma tutela, que, além de ser violenta, é estúpida. As suas especialíssimas condições geográficas dão-lhes direito a reclamar uma ação administrativa larga, não indo até à independência, mas que seja uma bem entendida autonomia”.

Hoje, apesar da autonomia, somos uma região, de mentes dependentes e submissas, comandada por colonizadores, alguns deles nados e criados nestas ilhas.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30697, 5 de agosto de 2015, p.14)

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