terça-feira, 16 de maio de 2017
Burros: vítimas e vingadores
Burros: vítimas e vingadores
Numa altura em que muito se fala na defesa das tradições, algumas anacrónicas e outras bárbaras, tinha pensado escrever sobre burros que foram durante séculos preciosos auxiliares dos humanos nas suas tarefas agrícolas e no transporte de bens, mas fui surpreendido por uma recente reportagem do Correio dos Açores que refere o verdadeiro “massacre” daqueles animais na ilha de São Miguel.
Primeiro, uma referência a uma “tradição” que despareceu e que consistia na lavagem de burros e cavalos na Pontinha, em São Roque. Sobre o assunto, no Correio dos Açores, do dia 26 de abril de 1972, podemos ler: “… parece-nos ser chegada a altura de ir acabando com certos costumes, algo pitorescos mas de duvidosa higiene”. O autor do texto apelou às autoridades competentes para a proibição de “tais práticas numa zona prioritária de arranque turístico a dois passos das mais frequentadas praias de São Miguel”.
A morte de 19 burros e o roubo de dois, criados por gosto, na Rocha das Feteiras, nos últimos cincos anos deve merecer de todas as pessoas o máximo repúdio e os energúmenos deverão ser rigorosamente castigados, sem apelo nem agravo.
A propósito da malvadez humana, termino este texto, dando a conhecer o caso de um burro que fez justiça pelas próprias mãos (neste caso boca).
Segundo o Correio dos Açores de 27 de agosto de 1924, em Angra do Heroísmo um rapaz foi mordido por um burro que era vítima de maus tratos.
Abaixo, deixo um extrato da notícia:
“… o Lourenço, assustado, aflito, vendo o perigo que corria, atirou-se do burro para fora, caindo estatelado no meio do chão.
O burro - que lhe tinha raiva por ele o tourear e lhe bater – estacou e avançou logo sobre o pobre Lourenço, que não teve tempo de fugir, e, pegando-lhe com a boca no braço direito, abanou frenética e violentamente todo o corpo do infeliz rapaz, moendo e despedaçando-lhe o músculo do braço e produzindo-lhe várias contusões, sobretudo na cara e cabeça que ficaram em maus estado.”
Infeliz rapaz, pobre do burro.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31230, 16 de maio de 2017, p. 16)
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