terça-feira, 20 de março de 2018

Novas Rotas, Novo Rumo para a Educação



Novas Rotas, Novo Rumo para a Educação

Nos próximos dias, a Assembleia Legislativa Regional dos Açores irá pronunciar-se sobre uma petição, que também assinei, de um grupo de docentes e encarregados de educação que pretendem a criação de uma escola diferente da que temos tido até aqui.
Segundo os proponentes, a escola que anseiam será, acreditamos que em breve, “uma verdadeira comunidade aprendente” que irá “integrar nas suas práticas de ensino os contributos da investigação mais recente nas várias áreas do saber, relativas ao processo de aprendizagem, e, sobretudo, tem de admitir o facto inegável de que as crianças e jovens aprendem hoje de forma diferente e que, por esta razão, o sistema educativo tem de ser alterado para se adaptar a esta nova realidade”.
Para evitar mal-entendidos, que efetivamente já existem, como o de confundir o “Projeto Novas Rotas” com o movimento pedagógico português “Movimento da Escola Moderna”, quero deixar bem claro que não faço parte do Projeto Novas Rotas, mas que tenho a maior estima e consideração pelas pessoas que conheço e que estão a ele ligadas e que o que mais desejo é que “a nova escola” seja implementada já no próximo ano letivo. Quanto ao Movimento da Escola Moderna, sou membro ativo, tendo feito várias tentativas de implementar os seus princípios na minha ação educativa, mas o que escrevo neste jornal é da minha inteira responsabilidade, não comprometendo mais ninguém.
A leitura que fiz do relatório da Comissão Permanente dos Assuntos Sociais, no âmbito da apreciação da petição referida, deixa-me um pouco apreensivo acerca do futuro de um projeto que pela motivação e empenho dos docentes e pais e encarregados de educação envolvidos tem pés para andar. Com efeito, se a tutela não fecha a porta ao projeto, “admitindo a sua experimentação no âmbito de uma das unidades” acrescenta que não aceita “a alteração do modelo de colocação dos professores”. Não compreendemos este reparo pois, tanto quanto sabemos, todos os envolvidos no projeto já estão integrados na carreira docente em vários estabelecimentos de ensino, pelo que basta o recurso a uma das formas de mobilidade previstas no Estatuto da Carreira Docente para poderem lecionar na unidade orgânica que acolher o projeto.
Não vou pronunciar-me, com profundidade, sobre as interrogações de um deputado que afirmou que o “modelo ainda está em modo experimental”. Se se referiu à Escola da Ponte, uma das experiências inspiradoras do Novas Rotas, consideramos que a afirmação só revela desconhecimento da mesma já que ela existe desde 1976 e, sem ter alunos “escolhidos a dedo”, tem superado com sucesso todas as avaliações externas.
Falta de conhecimento também revela o Secretário Regional da Educação e Cultura ao comungar de “algumas preocupações expostas pelo Deputado”, tendo referido a “necessidade de formação dos professores”. Tanto quanto sei, e sei pouco pelas razões já expostas, os docentes envolvidos têm frequentado, ao longo dos últimos anos muitas ações de formação, e mais do que a simples frequência têm suportado alguns custos com a vinda de formadores exteriores à Região.
Um dos principais meios de derrubar “um projeto” ou de “destruir” uma ideia, não é não o aprovando ou proibindo-a de ser divulgada. Pelo contrário, é pura e simplesmente dizer que o que se pretende já é feito ou deturpando a ideia. Como exemplo, fora da escola temos o conceito de desenvolvimento sustentável, já de si pouco preciso, mas que é deturpado diariamente, pois em seu nome são cometidas as maiores barbaridades ambientais e injustiças sociais. Na escola, no passado, assistimos à morte da chamada área escola que foi, propositadamente ou não, confundida com as visitas de estudo que sempre foram feitas.
Não sei o que pretendeu o SREC ao afirmar que o “ProSucesso bebeu informação nas duas âncoras que suportam esta petição: Escola da Ponte e o Projeto Escola Moderna, fazendo referências a ações desenvolvidas e que coincidem com aquelas que são as pretensões da própria petição, do próprio projeto”. No que diz respeito à segunda “âncora”, para além de não ser um projeto, nunca pretendeu ser uma escola, sendo uma “Associação Pedagógica de Professores e de outros Profissionais da Educação” que possui um modelo pedagógico assente em três subsistemas integrados de organização do trabalho de aprendizagem: estruturas de cooperação educativa, circuitos de comunicação e participação democrática direta. Além do referido, e não duvidando da boa vontade e do empenho dos envolvidos no ProSucesso, importa ficar bem claro que o modelo do MEM não pode ser implementado de forma atomizada e não integradora.
Termino fazendo votos para que haja bom senso na Assembleia Regional e que esta recomende ao Governo a implementação de medidas que não obstaculizem a implementação, já no próximo mês de setembro, de um projeto que tem merecido muitas horas de trabalho e de dedicação a muitos colegas meus, que é desejado por um grupo significativo de pais e que, sobretudo, é uma mais-valia para os alunos desta terra.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31483, de 21 de março de 2018, p. 13)
https://www.facebook.com/novasrotaseducacao/

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