quarta-feira, 15 de abril de 2020

As estratégias do MEM e o ensino à distância que aí vem




As estratégias do MEM e o ensino à distância que aí vem

No passado dia 12 de março, o Governo Regional dos Açores decidiu encerrar os estabelecimentos de ensino da Região devido à pandemia que a todos nos afeta. No passado dia 1 de abril, o mesmo governo decidiu, e bem, que enquanto as escolas estivessem encerradas todas as atividades letivas seriam ministradas em regime de ensino à distância.
A nível nacional, foi decidido que os alunos do secundário regressariam às escolas para terem as disciplinas que serão alvo de exames nacionais necessários para o prosseguimento de estudos universitários. Sobre esta decisão, tenho sérias dúvidas, pois os riscos para a saúde são enormes. Não seria possível, a título excecional, que este ano contassem apenas as avaliações internas?

Para a implementação do ensino à distância, fruto das circunstâncias, as escolas estão a preparar os seus planos e a maioria dos professores, por iniciativa própria, está a fazer autoformação com recurso à internet.

Alguns pais, pelo menos os que valorizam a instrução, estão aflitos porque passarão a ter de fazer um acompanhamento muito mais intensivo dos filhos, sobretudo dos mais pequenos, e porque terão de saber usar as plataformas digitais que vão ser usadas pelas escolas.

A falta de recursos informáticos e a ausência de conhecimentos por parte de alguns pais, por muita boa vontade que manifestem as escolas, fará com que se acentuem as desigualdades entre alunos.

De entre as práticas docentes, algumas poderão ajudar melhor os alunos a se adaptarem ao ensino à distância, como as que são “usadas” pelo MEM-Movimento da Escola Moderna. Assim, os alunos que já trabalhavam com as estratégias usadas pelo MEM estarão em vantagem em relação aos colegas, pois aquelas apostam no trabalho cooperativo, na autonomia e na autoavaliação.

Que estratégias (algumas) usam os professores do MEM e o que pensam os alunos?

A-               Lista de Verificação (listagem dos conteúdos distribuída aos alunos, no início do ano, em linguagem mais acessível).

A aluna B acha que perde menos tempo a procurar no livro as páginas onde estão determinados conteúdos e fica a saber exatamente o que deve estudar autonomamente. O aluno A pensa que é “uma maneira interessante de os alunos terem um guião de estudo”.

B-                O estudo autónomo (tempo utilizado pelos alunos, individualmente ou em pequenos grupos, para trabalharem em função das suas necessidades e interesses, desenvolverem atividades de treino das aprendizagens, estudarem e realizarem projetos, de acordo com um o PIT-Plano Individual de Trabalho).

A aluna C considera que um PIT permite que se oriente quando está perdida e o aluno T acha que, para além de ser “um método de organização”, com o PIT é obrigado a trabalhar mais.

C-    Aulas onde se dá ênfase à pesquisa, em detrimento das aulas meramente expositivas

A aluna M gosta mais das aulas de pesquisa porque o “aluno aprende sozinho” e não gosta das expositivas porque “só estamos a ouvir e não estamos a fazer nada” e a aluna B prefere as duas “porque gosto mais de pesquisar, mas o professor a explicar fica mais fácil de entender”. O aluno  A, por seu turno, considera que “as duas são boas e devemos encontrar um meio termo para utilizarmos os dois métodos. Os alunos ao pesquisarem estão a ser autónomos, mas o professor também deve falar para nós aprendermos a ter memória e a prestar atenção”.

D-    A aposta na autonomia dos alunos que estão habituados a avaliar o seu trabalho

Sobre o que era um aluno autónomo, as respostas dos alunos do 7ºano de escolaridade foram elucidativas da sua maturidade. Com efeito, segundo a aluna B “um aluno autónomo é um aluno que faz as coisas sozinho e que faz sem o professor o mandar, ou seja, por iniciativa própria” e segundo o aluno A “é um aluno que trabalha, investiga e questiona sozinho. Também tenta ultrapassar as suas dificuldades sozinho”.

Com eles, conscientes de que o ensino à distância não substitui o presencial, a trabalhar autonomamente, tudo faremos para que as distâncias se encurtem e para que tenhamos apenas saudades das aulas práticas no Laboratório de Química.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32106, 15 de abril de 2020, p. 17)

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