As
estratégias do MEM e o ensino à distância que aí vem
No passado dia 12 de março, o Governo Regional dos
Açores decidiu encerrar os estabelecimentos de ensino da Região devido à
pandemia que a todos nos afeta. No passado dia 1 de abril, o mesmo governo
decidiu, e bem, que enquanto as escolas estivessem encerradas todas as
atividades letivas seriam ministradas em regime de ensino à distância.
A nível nacional, foi decidido que os
alunos do secundário regressariam às escolas para terem as disciplinas que
serão alvo de exames nacionais necessários para o prosseguimento de estudos
universitários. Sobre esta decisão, tenho sérias dúvidas, pois os riscos para a
saúde são enormes. Não seria possível, a título excecional, que este ano contassem
apenas as avaliações internas?
Para a implementação do ensino à
distância, fruto das circunstâncias, as escolas estão a preparar os seus planos
e a maioria dos professores, por iniciativa própria, está a fazer autoformação
com recurso à internet.
Alguns pais, pelo menos os que valorizam a
instrução, estão aflitos porque passarão a ter de fazer um acompanhamento muito
mais intensivo dos filhos, sobretudo dos mais pequenos, e porque terão de saber
usar as plataformas digitais que vão ser usadas pelas escolas.
A falta de recursos informáticos e a
ausência de conhecimentos por parte de alguns pais, por muita boa vontade que
manifestem as escolas, fará com que se acentuem as desigualdades entre alunos.
De entre as práticas docentes, algumas
poderão ajudar melhor os alunos a se adaptarem ao ensino à distância, como as
que são “usadas” pelo MEM-Movimento da Escola Moderna. Assim, os alunos que já
trabalhavam com as estratégias usadas pelo MEM estarão em vantagem em relação
aos colegas, pois aquelas apostam no trabalho cooperativo, na autonomia e na
autoavaliação.
Que estratégias (algumas) usam os
professores do MEM e o que pensam os alunos?
A-
Lista de Verificação (listagem dos
conteúdos distribuída aos alunos, no início do ano, em linguagem mais acessível).
A aluna B acha que perde menos tempo a
procurar no livro as páginas onde estão determinados conteúdos e fica a saber
exatamente o que deve estudar autonomamente. O aluno A pensa que é “uma maneira
interessante de os alunos terem um guião de estudo”.
B-
O estudo autónomo (tempo utilizado pelos alunos, individualmente ou em
pequenos grupos, para trabalharem em função das suas necessidades e interesses,
desenvolverem atividades de treino das aprendizagens, estudarem e realizarem
projetos, de acordo com um o PIT-Plano Individual de Trabalho).
A aluna C considera que um PIT permite que se oriente
quando está perdida e o aluno T acha que, para além de ser “um método de
organização”, com o PIT é obrigado a trabalhar mais.
C-
Aulas onde se dá ênfase à pesquisa, em detrimento das
aulas meramente expositivas
A aluna M gosta mais das aulas de pesquisa porque o
“aluno aprende sozinho” e não gosta das expositivas porque “só estamos a ouvir
e não estamos a fazer nada” e a aluna B prefere as duas “porque gosto mais de pesquisar, mas o professor a explicar fica mais fácil
de entender”. O aluno A, por seu turno, considera
que “as duas são boas e devemos encontrar um meio termo para utilizarmos os
dois métodos. Os alunos ao pesquisarem estão a ser autónomos, mas o professor
também deve falar para nós aprendermos a ter memória e a prestar atenção”.
D-
A aposta na autonomia dos alunos que estão habituados
a avaliar o seu trabalho
Sobre o que era um aluno autónomo, as respostas dos
alunos do 7ºano de escolaridade foram elucidativas da sua maturidade. Com
efeito, segundo a aluna B “um aluno autónomo é um aluno
que faz as coisas sozinho e que faz sem o professor o mandar, ou seja, por
iniciativa própria” e segundo o aluno A “é um aluno que trabalha, investiga e
questiona sozinho. Também tenta ultrapassar as suas dificuldades sozinho”.
Com eles, conscientes de que o ensino à distância não
substitui o presencial, a trabalhar autonomamente, tudo faremos para que as
distâncias se encurtem e para que tenhamos apenas saudades das aulas práticas
no Laboratório de Química.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32106, 15 de abril de 2020, p. 17)
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