quarta-feira, 22 de abril de 2020

Bruno Tavares Carreiro e a paixão pelas plantas



Bruno Tavares Carreiro e a paixão pelas plantas

Bruno Silvano Tavares Carreiro nasceu na freguesia de São Sebastião, a 6 de outubro de 1857, e faleceu, na mesma freguesia, a 5 de outubro de 1911.

Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, em 1882, tendo sido médico em Vila Franca do Campo e em Ponta Delgada. Foi diretor da Secção de Botânica do Museu Carlos Machado, entre 1890 e 1911.

Na área da medicina, foi autor de diversos textos divulgados em publicações da especialidade, como o Arquivo Médico, de que foi um dos diretores, e o Correio Médico. No âmbito da sua profissão, a 11 de setembro de 1891, tratou e assistiu à morte do poeta Antero de Quental.

Fora do seu âmbito profissional, Bruno Carreio foi um botânico que muito contribuiu para o conhecimento da flora dos Açores, quer fazendo colheitas, classificando as plantas ou fazendo um herbário, quer colaborando com especialistas. Sobre a sua paixão, disse ele ao Dr. António Augusto Riley da Mota: “Nada como ter na vida um entretenimento qualquer fora das ocupações profissionais e das maldades dos homens e, como hobby, nenhum se avantaja ao gosto pelas coleções de história natural…”

No mesmo texto, publicado no Correio dos Açores de 24 de outubro de 1926, depois de referir o contributo de José do Canto e de António Borges para o Jardim Botânico de Coimbra, o Dr. Riley da Mota menciona que o famoso botânico, criador do Museu Botânico de Coimbra, Dr. Júlio Henriques, sobre o Dr. Bruno Carreiro, lhe terá dito: “ Sabe… nestes 50 anos só tive um discípulo, um único, que não sendo profissional, nunca perdesse o sagrado amor às plantas:- foi o Bruno!”

Ainda no mesmo texto, o Dr. Riley da Mota refere que o Dr. Bruno Carreiro, estando já retido no leito da morte, lhe incumbiu de levar ao Dr, Júlio Henriques “uns exemplares de carvalho colhidos no Jardim José do Canto” que depois de enviados a um especialista alemão “foram classificados como uma espécie nova…”. No ato da entrega dos carvalhos aos Dr. Júlio Henriques este terá dito: “Ainda depois de morto, está contribuindo para os progressos da botânica”.

Que espécie seria?

Uma interrogação que fica sem resposta, a aguardar que a pandemia seja vencida e que tenha oportunidade para reiniciar as minhas pesquisas na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, no Museu Carlos Machado e, quem sabe, em Coimbra.

O Dr. Bruno Carreiro na correspondência trocada com o Dr. Júlio Henriques pedia-lhe apoio na identificação de algumas espécies. A título de exemplo, numa carta datada de 29 de junho de 1905, podemos ler o seguinte:

“Meto no correio … um pequeno pacote com um Pelargónio. É muito vulgar nos quintais, por cultura é claro. É vulgarmente conhecida como “malva-rosa”. Dinis Mota que se está interessando por essências precisava saber que espécie é esta que é muito aromática. Por mim divaguei entre Pel. odorantissimum e Pel. capitatum. Em suma não sei bem o que é.

Peço-lhe o favor a me determinar a espécie.”

Em correspondência anterior, o Dr. Bruno Carreiro dá conta da presença em São Miguel do botânico norte-americano William Trelease, que esteve nos Açores por duas vezes, em 1894 e em 1896, e que publicou “Botanical Observations on the Azores”.

Na mesma carta, datada de 1896, o Dr. Bruno Carreiro, refere que mostrou a Trelease “o pequeno herbário que aqui há de plantas da ilha, que ele gostou de ver. Um epilobium, (o único que por cá existe, imagino) que já daqui lhe mandei …é julgado pelo Trealease ser espécie diferente das conhecidas”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32 112, 22 de abril de 2020, p.17)



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