Com os pés
na terra (495)
Ernesto do
Canto, as plantas e a agricultura
Antes
de abordarmos o tema que escolhemos para hoje, fazemos uma breve referência à
participação política de Ernesto do Canto como vereador da Câmara Municipal de
Ponta Delgada, nomeadamente quanto à sua preocupação com os espaços verdes e a arborização
das ruas.
Maria
Teresa Tomé, no seu livro “Ernesto do Canto: os Açores na problemática da
cultura do século XIX”, menciona uma proposta por ele apresentada para
arborizar uma parte da Serra Devassa com o objetivo de obter lenhas, madeiras e
“atrair as agoas para as nascentes” e outra relacionada com a conservação das
árvores do largo de São Pedro. Além do referido, Ernesto do Canto foi o único
vereador a votar contra o arranque de árvores do Campo de São Francisco
solicitada pelo “Tenente Coronel Comandante de Caçadores 11”.
Ao
contrário do seu pai e irmãos André e José, Ernesto do Canto, em virtude da sua
idade, não esteve na fundação da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense
em 1843. Só alguns anos depois, teve uma participação muito ativa, quer na
elaboração de relatórios para aquela sociedade, quer na escrita de um opúsculo
sobre a cultura do ananás.
Maria
Teresa Tomé, no livro citado, refere que Ernesto do Canto, que foi um dos
primeiros cultivadores de ananases na ilha de São Miguel, escreveu, em 1874, um
opúsculo com 16 páginas onde apresentou uma proposta para o ensaio da cultura
do ananás. No mesmo livro, é mencionado o contributo de Ernesto do Canto para a
SPAM, através de um Relatório da Direção da Sociedade d’Agricultura
Michaelense, apresentado à Assembleia Geral em 21 de janeiro de 1876”.
Ainda
no que diz respeito à cultura do ananás, Ernesto do Canto, em abril 1874, numa
palestra que proferiu pediu que os sócios da SPAM que também eram cultivadores,
partilhassem as suas observações com o objetivo de se descobrirem as melhores
práticas.
Ernesto
do Canto também se interessou pelas designadas favas do mar, nome que os
açorianos davam às sementes que eram trazidas pelas correntes marítimas e que
chegavam anualmente ao litoral das nossas ilhas.
Num
pequeno texto publicado no Arquivo dos Açores, Ernesto do Canto, para além de
referir o conhecimento do facto pelo malacólogo Arthur Morelet, mencionou que
em 1882 chegaram aso Açores sementes das seguintes espécies: Dolichos urens
e Mimosa scandens. Como não se limitava ao conhecimento teórico,
verificou que as sementes das duas espécies referidas germinavam, tendo
conseguido que as plantas obtidas vivessem durante muitos anos numa estufa.
Para
além do referido, Ernesto do Canto também pertenceu aos órgãos sociais da SPAM.
Assim, em 1858 era vice-secretário e em 1870 foi eleito presidente da mesma.
A
criação e a exportação de gado foram também preocupações da SPAM. Com efeito,
depois da experimentação de novas culturas que seriam usadas para a alimentação
do gado, como a beterraba ou o nabo, em 1879, Ernesto do Canto, José do Canto e
José Maria Raposo do Amaral foram nomeados pela direção daquela sociedade para
fazerem parte de uma comissão que foi encarregada de estudar uma agência para a
exportação de gado.
O nome de Ernesto
do Canto está associado à cultura do chá que, a par da cultura do ananás, terá
sido um dos maiores êxitos práticos da SPAM. Com efeito, Ernesto do Canto, foi
um dos membros de uma comissão daquela associação, presidida por Caetano
d’Andrade Albuquerque, nomeada para estudar a viabilidade da cultura e
comercialização do chá em S. Miguel.
Ernesto
do Canto também está ligado a uma tentativa de aproveitamento da resina dos
pinheiros existentes em São Miguel. Assim, em 1879, numa reunião de sócios e
proprietários de matas, estes quotizaram-se para o pagamento das despesas com a
vinda de um resineiro continental para ensinar aos locais a extração da resina,
tendo Ernesto do Canto ficado responsável por entrar com 20% das despesas,
percentagem que correspondia à área de mata que possuía.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32380, 10 de março de 2021, p. 11)
Sem comentários:
Enviar um comentário