Ernesto do
Canto naturalista
Ernesto
do Canto, filho de José Caetano Dias do Canto e Medeiros e de D.ª Francisca
Vicência Botelho, nasceu nos Prestes a 12 de
dezembro de 1831 e faleceu na mesma localidade a 21 de agosto de 1900.
Depois
de estudar em São Miguel, Ernesto do Canto formou-se em Filosofia Natural, na
Universidade de Coimbra, tendo concluído o curso a 25 de julho de 1856. Lá,
frequentou, de acordo com Maria Teresa Tomé, “cadeiras de Anatomia e Fisiologia
Vegetais, Botânica, Agricultura, Economia Rural e Tecnologia.”
Ernesto
do Canto é mais conhecido pela sua faceta de bibliógrafo e historiador a ele se
devendo, em grande parte, o Arquivo dos Açores. Neste texto, vamos dar a
conhecer a sua ligação à terra e à botânica.
Tal
como José Jácome Correia e António Borges, Ernesto do Canto rivalizou, no dizer
de Emygdio da Silva “com o glorioso ancião [José do Canto] em ciência e
entusiamo nas aplicações práticas de botânica”.
Ferdinand
Fouqué, autor do livro “Viagens Geológicas aos Açores”, refere que Ernesto do
Canto mandou plantar anualmente um milhão e meio de árvores. Embora possa haver
algum exagero e alguma confusão, entre espécies, variedades e cultivares, de
acordo com a mesma fonte, Ernesto do Canto terá ensaiado: “86 espécies de pinheiros,
28 de carvalhos, 36 de acácias, 16 de bordos, 14 de ciprestes, 5 de criptomérias,
10 de castanheiros, 8 de eucaliptos, 6 de casuarinas, etc. São no todo 800
espécies de plantas arbóreas”.
O
interesse pelos jardins, por parte de Ernesto do Canto, traduziu-se na
transformação por ele efetuada no seu prédio nos Prestes e no Vale das Murtas,
hoje denominado Parque Dona Beatriz do Canto”, que possuía em copropriedade com
José Jácome Correia, António Borges de Medeiros, José Maria Raposo do Amaral e
António Botelho de Sampaio Arruda.
De acordo com Luís
Arruda e Isabel Albergaria, no jardim dos Prestes “que se distinguia pela
colecção de “plantas gordas” e sobretudo pela abundância de agaváceas, existiam
também cicas, estrelícias, araucárias e uma palmeira das Canárias de grandes
dimensões” e numa “depressão existente numa pedreira desactivada, onde um
enorme filodendro trepava por uma parede, foi instalado um fetal, com
exemplares arbóreos, e ainda bromeliáceas e sansevieras. No bosque, atravessado
por pequenas veredas tortuosas, predominavam pinheiros e eucaliptos”.
O
gosto pelas plantas em Ernesto do Canto não se limitava à teoria como se
depreende da leitura de um extrato de uma carta dirigida ao seu irmão José do
Canto, que foi citada por Maria Teresa Tomé: “…estava na minha estufa
arranjando algumas coisas que não me tinham deixado fazer nos outros dias,
quando a recebi e com as mãos sujas de terra é que a li…”
Os
seus conhecimentos adquiridos em Coimbra e complementados pelas leituras que
fazia e pela prática fez com que fosse contatado por várias pessoas para os
mais diversos fins, como a recomendação de livros, para tirar dúvidas sobre
determinadas espécies ou para apoiar visitantes que cá vinham fazer estudos.
Não
pretendendo esgotar o assunto, refiro o caso, citado por Maria Teresa Tomé, de
Francisco Ricardo Botelho que, sabendo que Ernesto do Canto era “amante da
especialidade”, lhe pede “um tratado sobre a cultura de plantas de jardins...”
A
autora referida, no seu livro “Ernesto do Canto: os Açores na problemática da
cultura do século XIX”, menciona também que o médico naturalista Bruno Tavares
Carreiro a ele recorre sempre que não se sente habilitado a responder, como
aconteceu relativamente a umas perguntas sobre o cipreste feitas pelo botânico
professor da Universidade de Coimbra, Dr. Júlio Henriques. Este mesmo Dr.,
Júlio Henriques a ele recorreu a pedir que apoiasse o diretor do Jardim Botânico
de Missouri (EUA) que veio a São Miguel fazer estudos.
Para
além do mencionado, Ernesto do Canto também apoiou e orientou outros
naturalistas que visitaram São Miguel, como o malacólogo francês Henri Drouët, o
zoólogo alemão Heinrich Simroth e o médico naturalista francês Théodore
Barrois.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº
32374, 3 de março de 2021, p.5)
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