Bulhão Pato,
Alice Moderno e a sua excomunhão em Vila Franca do Campo
Raimundo
António de Bulhão Pato nasceu em Bilbau, a 3 de março de 1829, e faleceu na
Torre do Monte da Caparica, a 24 de agosto de 1912, na sequência do
desenvolvimento de uma arteriosclerose e de uma angina de peito.
Filho
de um pequeno proprietário com bens em Alcochete e Colares, Bulhão Pato, que
fora funcionário amanuense das Obras Públicas e se reformou como segundo
oficial da Direção-Geral do Comércio e Indústria, no fim da vida passou por
dificuldades financeiras.
Por
terem mais posses e por serem mecenas, José do Canto e Aires Jácome Correia
custearam a publicação de algumas das suas obras. Este último, que foi o único
marquês de Jácome Correia, era afilhado de Bulhão Pato e foi responsável pela
impressão do tomo III, das “Memórias”.
Memorialista
de pessoas e factos, Bulhão Pato que esteve em São Miguel por três vezes, em
1866, em 1868 e em 1886, dedicou uma parte dos seus escritos a micaelenses
ilustres, como Antero de Quental, ou a pessoas que contribuíram para o
engrandecimento desta ilha, como António Feliciano de Castilho.
Quando
esteve cá em 1866, Bulhão Pato assistiu à chegada à ilha de alguns padres
jesuítas, liderados por Carlos Rademaker, que vieram pôr em polvorosa a pacata
sociedade micaelense. Com efeito, segundo Bulhão Pato, “ao terceiro sermão
estavam completamente fanatizados homens e mulheres de três ou quatro casas
principais e os conflitos domésticos começavam já a picar, pela divergência de
opiniões, até entre parentes mais chegados e afectivos”.
Para
denunciar o fanatismo, Bulhão Pato escreveu “as Cartas dos Açores” o que
levantou contra ele “o ódio da piedade evangélica dos santos missionários”.
Estando
ele a residir em Vila Franca do Campo, em casa de Sebastião do Canto, em 1868,
os ânimos exaltaram-se de tal modo que foi acusado, pelo padre, por ser
responsável por não chover nos seguintes termos: “desde que está aqui aquele
ímpio, até os milheirais estão com as mãos para o céu a pedir chuva”.
Depois
de se escapar para Ponta Delgada para onde foi a convite de Ernesto do Canto,
Bulhão Pato foi excomungado “em missa plena!”
Aquando
da última estada cá, em 1886, Bulhão Pato foi visitado por Alice Moderno no
palacete mandado construir por José Jácome Correia.
Aquela
poetisa, que o considerou simpático, elegante, amável, instruído e fascinador,
dedicou-lhe o poema, que abaixo se transcreve, publicado no Novo Correio dos
Açores, no dia 5 de dezembro de 1886:
Bulhão Pato
Parte! … A amplidão do céu tolda-se agora,
As flores se desfolham tristemente,
Ergue-se em nostalgia a rósea aurora,
E vacila do sol a chama ardente!
Parte! …Esta ilha formosa, encantadora,
Que no seio o acolheu feliz, contente;
Na convulsão terrível de quem chora,
Envolve-se n’um véu de penitente!
Nas piras do sofrer tudo palpita! …
O mágico poeta da – Paquita, -
O autor de formosíssimas canções,
Vai de júbilo encher os pátrios lares,
Mas … aqui, nesta pérola dos mares,
Deixa um vácuo fatal nos corações!
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32398, 31 de março de 2021, p.12)
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