quarta-feira, 7 de abril de 2021

Os Jardins de Ponta Delgada no século XIX

 




Os Jardins de Ponta Delgada no século XIX

 

Desde a sua criação, os jardins de São Miguel foram pontos de atração, não só para os residentes, mas sobretudo para os nacionais e estrangeiros que nos visitaram. No texto de hoje, divulgo algumas opiniões sobre os mesmos, dando a “palavra” a quem os visitou no século XIX, e dou a conhecer o que sobre eles consta num “guia turístico” publicado em 1899.

 

J.V. Paula Nogueira, no livro “As Ilhas de S. Miguel e Terceira”, publicado em 1894, depois de afirmar que os três grandes jardins de Ponta Delgada tinham “reputação universal” faz uma breve, mas curiosa, descrição de cada um deles., destacando os jardins António Borges e José do Canto.

 

Sobre o Jardim José do Canto, Paula Nogueira considera-o notável pela variedade de espécies que possui, destacando “palmeiras gigantes, fetos arbóreos de mais de 8 metros de altura, enormes magnólias, soberbas araucárias, criptomérias majestosas, bambus cujo caule mal podemos abarcar com ambas as mãos, carvalhos possantes, copadas ficus, e imensa cópia de dragoeiros, agaves, aloés, bananeiras, plantas de chá e de café …”. Ainda em relação ao jardim, Paula Nogueira confessa que, por assentar em terreno plano, “lhe falta a beleza da perspetiva e o encanto derivado da acidentação do terreno”.

 

Sobre o Jardim do Palácio de Santana, o autor referido apenas escreve que é também belo e rico e dá realce ao seu palácio.

 

Paula Nogueira gostou mais do Jardim António Borges, em virtude de o mesmo reunir duas condições, a diversidade das espécies e o desnível do terreno. Segundo ele, no jardim podem ser observados uma “multiplicidade de aspetos, apresentando aqui um pequeno vale, acolá um montículo, mais longe um lago, uma caverna, onde a água, gotejando, murmura deliciosamente, e tudo isto povoado de plantas escolhidas, originárias das mais diversas regiões do globo.”

 

O visconde do Ervedal da Beira, que viveu em São Miguel, em 1894, no seu livro “Narrativas Insulanas” também escreveu sobre os três jardins de Ponta Delgada.

 

Sobre o Jardim António Borges, escreveu que “não só é uma obra de arte em que a natureza tomou grande parte, é também um poema, em que o seu autor revela sentimento e coração”.

 

Para ele, que também destaca o palácio, o jardim do Conde Jácome Correia possui “a entrada franca, aberta, aparatosa e magnífica, deixa ver logo no primeiro plano largas e frondosas ruas, lagos e flores, em que predomina a arte bem estudada e dirigida a traços largos e nobres.”

 

Sobre o Jardim José do Canto, o visconde de Ervedal da Beira considera-o “uma floresta virgem, mas sublime e majestosa, onde se encontram árvores de todas as regiões”.

 

No “guia do Viajantes da Ilha de São Miguel”, de Félix José da Costa Sotto-Mayor, editado em 1899, por Evaristo Ferreira Travassos, há também uma breve referência aos três grandes jardins de Ponta Delgada.

 

Sobre o Jardim António Borges, na altura propriedade da senhora D. Maria das Mercês Andrade Borges, é referida a sua “graciosa fantasia com que foi delineado” e a existência de pontes rústicas; grutas; lagunas; estufas de begónias, orquídeas e outras plantas ornamentais”.

 

Sobre as plantas existentes, o guia dá destaque às palmeiras de várias espécies, aos fetos arbóreos e a numerosas árvores exóticas, não especificando nenhuma.

 

Do Jardim do Palácio de Santana, na altura pertencente ao Conde de Jácome Correia, é dado destaque às palmeiras, nomeadamente a “dois notáveis exemplares de…Jubea spectabilis, cujos troncos cilíndricos, muito regulares e iguais de 10 m de altura, parecem verdadeiras colunas toscanas”.

 

O Jardim José do Canto, na altura com cerca de 3000 espécies de várias partes do mundo, segundo o guia, não podia ser equiparado por nenhum jardim da Europa, “pois que o clima continental mal poderia permitir o desenvolvimento ao ar livre de tão variada e extraordinária coleção de plantas”. Neste jardim é dado destaque à mata de bambus, aos fetos arbóreos, às palmeiras e a árvores de formas extravagantes.

 

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32403, 7 de abril de 2021, p.12)

 

 

Sem comentários: