O padre
Manuel Vicente e a escrita
Desde
muito novo o padre Manuel Vicente colaborou em alguns jornais de São Miguel. De
acordo com um texto publicado no Álbum Açoriano, de 1903, “a imprensa de S.
Miguel deve-lhe boa colaboração, sobre assuntos profanos e religiosos”.
Quando
foi ordenado presbítero, o jornal Diário dos Açores, de 19 de agosto de 1893,
refere-se a ele como “o nosso prezado amigo e distinto colaborador”. Durante
algum tempo o Padre Manuel Vicente dirigiu a Gazeta Micaelense.
Em
1910, o padre Manuel Vicente fez parte da Comissão da Imprensa Micaelense
responsável pelas festas em honra do jornal “Açoriano Oriental”, no 75º
aniversário da sua criação. Para além do padre Manuel Vicente, que representou
a redação do jornal vila-franquense “O Autonómico”, a comissão era composta por
Alfredo da Câmara, diretor do jornal “O Repórter”, Alice Moderno, diretora de
“A Folha”, Aníbal Bicudo, colaborador do “Diário dos Açores” e do “Açoriano
Oriental”, Francisco de Bettencourt e Câmara, do “Correio Michaelense”, Francisco Manuel Bicudo Corrêa, representante
da “Persuasão”, Padre Herculano Romão Ferreira, da redação do “S. Miguel”,
Jacinto Leite do Canto Pacheco, da “Gazeta da Relação”, Manuel Pereira Lacerda,
Diretor do “Diário dos Açores”, Manuel Resende Carreiro, proprietário do
“Diário dos Açores” e Maria Evelina de Sousa, diretora da “Revista Pedagógica”.
No
âmbito daquelas festividades foi organizado um banquete para o qual foram
convidadas todas as pessoas que colaboravam com a imprensa periódica. Durante o
jantar, de acordo com reportagem pulicada no Diário dos Açores, no dia 26 de
abril de 1910, o Padre Manuel Vicente afirmou o seguinte:
“Aquela festa
[era] uma glorificação da velhice, que é uma coisa triste quando se trata dos
homens, mas é um motivo de júbilo e de verdadeira alegria quando se trata da
longevidade de um jornal, porque a imprensa nunca envelhece e pelo contrário
vive da força adquirida pela experiência dos factos, retemperando-se na luta
durante o decorrer dos anos”.
Sobre a publicação, ou
melhor sobre o sermão, o multifacetado escritor, político e jornalista
micaelense Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro (1863-1911) no jornal “O
Localista”, de 12 de setembro de 1901, escreveu o seguinte:
“….
Era preciso dar um cunho novo à oração, e o sr. Padre Manuel Vicente preferiu a
forma de alocução, em que se pode sintetizar a brevidade da doutrina com a
elegância do estilo.
Se
o tempo lhe não houvera escasseado, queremos acreditar que o inteligente orador
teria alargado as suas vistas para a piedosa história da Imagem, mostrando, embora
de relance, a vitalidade dos Sentimentos que, através dos séculos, ela inspirou
ao nosso Povo nos momentos de angustiosos lances.
Dar-se-ia
assim a significação histórica da festa que para os forasteiros não passaria
talvez duma trivial romaria popular, seguida dum arraial com procissão.
Mas
não foi possível ao sr. Padre Manuel Vicente entrar no campo da Crónica, uma
vez que só quase à última hora recebeu convite para pregar.
Portanto,
no apertadíssimo prazo que lhe deram para a preparação do seu trabalho, só lhe
restava o expediente de optar pelo género alocucitivo, dando de mão a qualquer
aparato de Erudição histórica.
Mas
nisso foi muito feliz o sr. Padre Manuel Vicente, porque a uma oração, bastante
condensada, soube imprimir um cunho literário acentuado, que a faz e fará ler
com prazer por todos que amam as formas da boa prosa portuguesa.”
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32415, 21 de abril de 2021, p. 12)
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