quarta-feira, 21 de abril de 2021

O padre Manuel Vicente e a escrita

 



O padre Manuel Vicente e a escrita

 

Desde muito novo o padre Manuel Vicente colaborou em alguns jornais de São Miguel. De acordo com um texto publicado no Álbum Açoriano, de 1903, “a imprensa de S. Miguel deve-lhe boa colaboração, sobre assuntos profanos e religiosos”.

 

Quando foi ordenado presbítero, o jornal Diário dos Açores, de 19 de agosto de 1893, refere-se a ele como “o nosso prezado amigo e distinto colaborador”. Durante algum tempo o Padre Manuel Vicente dirigiu a Gazeta Micaelense.

 

Em 1910, o padre Manuel Vicente fez parte da Comissão da Imprensa Micaelense responsável pelas festas em honra do jornal “Açoriano Oriental”, no 75º aniversário da sua criação. Para além do padre Manuel Vicente, que representou a redação do jornal vila-franquense “O Autonómico”, a comissão era composta por Alfredo da Câmara, diretor do jornal “O Repórter”, Alice Moderno, diretora de “A Folha”, Aníbal Bicudo, colaborador do “Diário dos Açores” e do “Açoriano Oriental”, Francisco de Bettencourt e Câmara, do “Correio Michaelense”,  Francisco Manuel Bicudo Corrêa, representante da “Persuasão”, Padre Herculano Romão Ferreira, da redação do “S. Miguel”, Jacinto Leite do Canto Pacheco, da “Gazeta da Relação”, Manuel Pereira Lacerda, Diretor do “Diário dos Açores”, Manuel Resende Carreiro, proprietário do “Diário dos Açores” e Maria Evelina de Sousa, diretora da “Revista Pedagógica”.

 

No âmbito daquelas festividades foi organizado um banquete para o qual foram convidadas todas as pessoas que colaboravam com a imprensa periódica. Durante o jantar, de acordo com reportagem pulicada no Diário dos Açores, no dia 26 de abril de 1910, o Padre Manuel Vicente afirmou o seguinte:

 

“Aquela festa [era] uma glorificação da velhice, que é uma coisa triste quando se trata dos homens, mas é um motivo de júbilo e de verdadeira alegria quando se trata da longevidade de um jornal, porque a imprensa nunca envelhece e pelo contrário vive da força adquirida pela experiência dos factos, retemperando-se na luta durante o decorrer dos anos”.

 

No que diz respeito a textos publicados fora da imprensa periódica apenas se conhece a edição de um folheto de 12 páginas intitulado “Alocução Religiosa”, onde o Padre Manuel Vicente transcreveu o sermão proferido na Igreja da Esperança por ocasião das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em 1901.

 

Sobre a publicação, ou melhor sobre o sermão, o multifacetado escritor, político e jornalista micaelense Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro (1863-1911) no jornal “O Localista”, de 12 de setembro de 1901, escreveu o seguinte:

 

“…. Era preciso dar um cunho novo à oração, e o sr. Padre Manuel Vicente preferiu a forma de alocução, em que se pode sintetizar a brevidade da doutrina com a elegância do estilo.

 

Se o tempo lhe não houvera escasseado, queremos acreditar que o inteligente orador teria alargado as suas vistas para a piedosa história da Imagem, mostrando, embora de relance, a vitalidade dos Sentimentos que, através dos séculos, ela inspirou ao nosso Povo nos momentos de angustiosos lances.

 

Dar-se-ia assim a significação histórica da festa que para os forasteiros não passaria talvez duma trivial romaria popular, seguida dum arraial com procissão.

 

Mas não foi possível ao sr. Padre Manuel Vicente entrar no campo da Crónica, uma vez que só quase à última hora recebeu convite para pregar.

 

Portanto, no apertadíssimo prazo que lhe deram para a preparação do seu trabalho, só lhe restava o expediente de optar pelo género alocucitivo, dando de mão a qualquer aparato de Erudição histórica.

 

Mas nisso foi muito feliz o sr. Padre Manuel Vicente, porque a uma oração, bastante condensada, soube imprimir um cunho literário acentuado, que a faz e fará ler com prazer por todos que amam as formas da boa prosa portuguesa.”

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32415, 21 de abril de 2021, p. 12)

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