O
Primeiro de Maio em São Miguel no início do século XX (2)
Neste texto dou a conhecer o modo como foi
comemorado, em alguns anos, o primeiro de maio, em São Miguel, entre 1913 e
1927.
Em
1913, a Federação Operária comemorou o primeiro de maio com várias iniciativas,
de que se destacam, uma alvorada pelas 6 horas, anunciada com uma girandola de
foguetes, um cortejo cívico que percorreu algumas ruas da cidade, com passagem
pelo cemitério de São Joaquim, onde foi homenageado Antero de Quental e todos
os sócios falecidos naquele ano. O cortejo terminou com um comício onde foram
lidas várias reclamações que posteriormente foram remetidas ao governo. Pelas
15 horas, foi oferecido um jantar aos presos da cadeia de Ponta Delgada a que
se seguiu um piquenique para todos os sócios, no Largo Gil Miranda.
Naquele
dia viu a luz do dia pela primeira vez o jornal “O Proletário”. órgão da Federação
Operária e do Operariado em Geral, dirigido por Luís Jacinto Teves, tendo como
editor António Carlos Pacheco e administrador Manuel Augusto César.
O
Protesto, órgão e propriedade do Centro Socialista Antero de Quental, de Ponta
Delgada, no dia 27 de abril de 1918, publicou um texto sobre o 1º de maio, onde
é afirmado que o mesmo não deve ser considerado como um “dia de festa, mas sim
como uma data de altivo protesto e de afirmações de solidariedade
internacional”.
No
dia 31 de maio de 1918, “O Protesto” noticiou a comemoração do 1º de maio em
Angra do Heroísmo. Naquele dia, o comércio fechou as suas portas, realizou-se
um cortejo cívico com a participação de três mil pessoas e a incorporação de
várias bandas de música. Para além de terem sido proferidos vários discursos,
houve uma conferência na Associação dos Empregados do Comércio. No mesmo
jornal, é divulgada a edição de um pequeno livro intitulado “1º de Maio”, da
autoria de Gervásio Lima, escritor e investigador histórico da ilha Terceira, onde
o autor “numa prosa viril e incisiva descreve o que significam as festas do 1º
de maio e bem assim exterioriza fulgurantemente as reivindicações do
proletariado e as diversas nuances da
verdade que assiste às reclamações operárias”.
Em
1923, a Federação Operária festejou o primeiro de maio com diversas iniciativas.
de que se destacam: uma salva de 21 tiros de morteiro; o desfile pelas ruas de
Ponta Delgada da filarmónica “União Fraternal, tocando o hino do 1º de maio e
um jantar na Cozinha Económica, cujos ingredientes foram oferecidos pela
referida organização.
Em
1927, o tipógrafo João Duarte Botelho, que havia sido editor do jornal “O
Estandarte, órgão dos obreiros micaelenses, da responsabilidade da Federação
Operária, e que por tal motivo havia sido despedido do seu emprego, no nº 27
daquele jornal, de 26 de abril, lançou um apelo para que o 1º de maio não
ficasse esquecido em São Miguel.
Logo
a seguir ao apelo, o jornal publicou uma nota, apelando à concentração no Largo
Mártires da Pátria, em Ponta Delgada, junto à sede da Associação das Classes
Operárias, para mais tarde irem ao Cemitério de São Joaquim “depor um ramo de
flores na sepultura do nosso Antero de Quental, e render homenagem aos nossos
companheiros que a morte nos roubou”.
No
número seguinte do jornal é feito um relato do que aconteceu no primeiro de
maio de 1927, sendo dado destaque à concentração onde houve uma “alvorada com
morteiros e fogo de artifício”. De tarde, pelas 14 horas uma comissão foi ao
cemitério depositar flores no mausoléu de Antero de Quental e de “Francisco
Canejo Botelho, que foi um brioso e distinto operário na sua vida, e primeiro
presidente da Associação da Construção Civil.”
Em
1934, já no início do Estado Novo, e já depois de ter sido publicado o
Decreto-Lei nº 23050, de 23 de setembro de 1933, que reorganizava os Sindicatos
Nacionais e dissolvia as associações profissionais que não alterassem os
estatutos para ficarem de acordo com a referida lei, as associações operárias
de Ponta Delgada comemoraram o 1º de maio através da distribuição de carne e
pão às viúvas necessitadas dos associados e aos desempregados.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32 421, 28 de abril de 2021, p.12)
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