quarta-feira, 28 de abril de 2021

O Primeiro de Maio em São Miguel no início do século XX (2)

 


O Primeiro de Maio em São Miguel no início do século XX (2)

 

Neste texto dou a conhecer o modo como foi comemorado, em alguns anos, o primeiro de maio, em São Miguel, entre 1913 e 1927.

 

Em 1913, a Federação Operária comemorou o primeiro de maio com várias iniciativas, de que se destacam, uma alvorada pelas 6 horas, anunciada com uma girandola de foguetes, um cortejo cívico que percorreu algumas ruas da cidade, com passagem pelo cemitério de São Joaquim, onde foi homenageado Antero de Quental e todos os sócios falecidos naquele ano. O cortejo terminou com um comício onde foram lidas várias reclamações que posteriormente foram remetidas ao governo. Pelas 15 horas, foi oferecido um jantar aos presos da cadeia de Ponta Delgada a que se seguiu um piquenique para todos os sócios, no Largo Gil Miranda.

 

Naquele dia viu a luz do dia pela primeira vez o jornal “O Proletário”. órgão da Federação Operária e do Operariado em Geral, dirigido por Luís Jacinto Teves, tendo como editor António Carlos Pacheco e administrador Manuel Augusto César.

 

O Protesto, órgão e propriedade do Centro Socialista Antero de Quental, de Ponta Delgada, no dia 27 de abril de 1918, publicou um texto sobre o 1º de maio, onde é afirmado que o mesmo não deve ser considerado como um “dia de festa, mas sim como uma data de altivo protesto e de afirmações de solidariedade internacional”.

 

No dia 31 de maio de 1918, “O Protesto” noticiou a comemoração do 1º de maio em Angra do Heroísmo. Naquele dia, o comércio fechou as suas portas, realizou-se um cortejo cívico com a participação de três mil pessoas e a incorporação de várias bandas de música. Para além de terem sido proferidos vários discursos, houve uma conferência na Associação dos Empregados do Comércio. No mesmo jornal, é divulgada a edição de um pequeno livro intitulado “1º de Maio”, da autoria de Gervásio Lima, escritor e investigador histórico da ilha Terceira, onde o autor “numa prosa viril e incisiva descreve o que significam as festas do 1º de maio e bem assim exterioriza fulgurantemente as reivindicações do proletariado e as diversas nuances da verdade que assiste às reclamações operárias”.

 

Em 1923, a Federação Operária festejou o primeiro de maio com diversas iniciativas. de que se destacam: uma salva de 21 tiros de morteiro; o desfile pelas ruas de Ponta Delgada da filarmónica “União Fraternal, tocando o hino do 1º de maio e um jantar na Cozinha Económica, cujos ingredientes foram oferecidos pela referida organização.

 

Em 1927, o tipógrafo João Duarte Botelho, que havia sido editor do jornal “O Estandarte, órgão dos obreiros micaelenses, da responsabilidade da Federação Operária, e que por tal motivo havia sido despedido do seu emprego, no nº 27 daquele jornal, de 26 de abril, lançou um apelo para que o 1º de maio não ficasse esquecido em São Miguel.

 

Logo a seguir ao apelo, o jornal publicou uma nota, apelando à concentração no Largo Mártires da Pátria, em Ponta Delgada, junto à sede da Associação das Classes Operárias, para mais tarde irem ao Cemitério de São Joaquim “depor um ramo de flores na sepultura do nosso Antero de Quental, e render homenagem aos nossos companheiros que a morte nos roubou”.

 

No número seguinte do jornal é feito um relato do que aconteceu no primeiro de maio de 1927, sendo dado destaque à concentração onde houve uma “alvorada com morteiros e fogo de artifício”. De tarde, pelas 14 horas uma comissão foi ao cemitério depositar flores no mausoléu de Antero de Quental e de “Francisco Canejo Botelho, que foi um brioso e distinto operário na sua vida, e primeiro presidente da Associação da Construção Civil.”

 

Em 1934, já no início do Estado Novo, e já depois de ter sido publicado o Decreto-Lei nº 23050, de 23 de setembro de 1933, que reorganizava os Sindicatos Nacionais e dissolvia as associações profissionais que não alterassem os estatutos para ficarem de acordo com a referida lei, as associações operárias de Ponta Delgada comemoraram o 1º de maio através da distribuição de carne e pão às viúvas necessitadas dos associados e aos desempregados.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32 421, 28 de abril de 2021, p.12)

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