A inauguração do Jardim António Borges como Parque da Cidade
“Entre
os mais belos jardins que conheço na Europa ocupam os de Ponta Delgada lugar
notável” … [o de António Borges] pela fantasiosa imaginação com que foi delineado
e plantado”. (Emygdio da Silva, 1893)
No
dia 11 de setembro de 1957, depois de mais um período de abandono, o Jardim
António Borges foi inaugurado como Parque da Cidade.
O
jardim foi comprado pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, presidida pelo Dr.
Manuel da Silva Carreiro, aos herdeiros de António Borges, nomeadamente o Dr.
José Jacinto de Andrade Albuquerque de Bettencourt e o seu filho o engenheiro
agrónomo Caetano de Andrade Albuquerque de Bettencourt.
Para
além das verbas da própria Câmara Municipal, a aquisição do jardim só foi
possível com o apoio da Junta Geral do Distrito, sendo governador o Dr. Carlos
de Paiva, que inscreveu no seu orçamento uma importante verba e a colaboração
do Ministério das Obras Públicas que também comparticipou financeiramente.
De
acordo com o discurso do Dr. Manuel Carreiro proferido na inauguração, os
principais trabalhos de restauração do jardim, que demoraram um mês e meio,
foram, entre outros, os seguintes: recuperação de muros em ruínas, demolição de
“construções motivadas pela exploração do cinema, que tanto desfeavam a entrada
do jardim”, beneficiação do “grande reservatório de água e o modelar sistema de
canalização”, regularização e revestimento de tetim das principais ruas,
desentulho e cimentação dos lagos, colocação de relva em alguns espaços,
fixação de bancos, construção de um parque infantil e vedação da parte sul.
Na
visita que se seguiu à cerimónia de inauguração, onde os convidados foram
acompanhados pelos membros da Câmara Municipal de Ponta Delgada e pelo Eng.
Estrela Rego, a reportagem do Diário dos Açores dá destaque a “uma «ficus», de
grandes e majestosas raízes aéreas, a “uma imponente araucária e outras árvores
e palmeiras de regiões tropicais”.
No
mesmo dia, durante a tarde, o jardim foi visitado por milhares de pessoas,
tendo o parque infantil sido “frequentadíssimo por inúmeras crianças de todas
as classes sociais, que deram largas à sua alegria.
Após
a abertura ao público, o espaço foi aproveitado para a dinamização cultural não
só das populações da cidade, mas também de outros locais da ilha, com a
realização de concertos por filarmónicas, o primeiro dos quais ocorreu no dia
15 de setembro, pela banda “Triunfo”, da Fajã de Baixo.
Como
não há bela sem senão, a pressa em abrir o espaço ao público mereceu alguns
reparos por parte de alguma comunicação social que criticou a ausência de
alguns equipamentos fundamentais. Assim, o Correio dos Açores, de 17 de
setembro de 1957, chamou a atenção para o seguinte:
“É
natural que se tivessem notado deficiências que registamos com apelo ao sr.
Presidente do Município, pelo que estamos certos de que as providências não se
farão esperar.
Assim,
é de extrema necessidade a construção de sanitárias para ambos os sexos e até
para crianças.
Muitas
famílias levam os seus farnéis, para ali passarem o dia. Nesta conformidade,
seria de grande utilidade a colocação em diversos pontos do Jardim, de
recipientes onde se pudessem deixar os resíduos dos farnéis e os papéis que os
envolvem”
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32409, 14 de abril de 2021)
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