quarta-feira, 14 de abril de 2021

A inauguração do Jardim António Borges como Parque da Cidade

 




A inauguração do Jardim António Borges como Parque da Cidade

 

“Entre os mais belos jardins que conheço na Europa ocupam os de Ponta Delgada lugar notável” … [o de António Borges] pela fantasiosa imaginação com que foi delineado e plantado”. (Emygdio da Silva, 1893)

 

No dia 11 de setembro de 1957, depois de mais um período de abandono, o Jardim António Borges foi inaugurado como Parque da Cidade.

 

O jardim foi comprado pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, presidida pelo Dr. Manuel da Silva Carreiro, aos herdeiros de António Borges, nomeadamente o Dr. José Jacinto de Andrade Albuquerque de Bettencourt e o seu filho o engenheiro agrónomo Caetano de Andrade Albuquerque de Bettencourt.

 

Para além das verbas da própria Câmara Municipal, a aquisição do jardim só foi possível com o apoio da Junta Geral do Distrito, sendo governador o Dr. Carlos de Paiva, que inscreveu no seu orçamento uma importante verba e a colaboração do Ministério das Obras Públicas que também comparticipou financeiramente.

 

De acordo com o discurso do Dr. Manuel Carreiro proferido na inauguração, os principais trabalhos de restauração do jardim, que demoraram um mês e meio, foram, entre outros, os seguintes: recuperação de muros em ruínas, demolição de “construções motivadas pela exploração do cinema, que tanto desfeavam a entrada do jardim”, beneficiação do “grande reservatório de água e o modelar sistema de canalização”, regularização e revestimento de tetim das principais ruas, desentulho e cimentação dos lagos, colocação de relva em alguns espaços, fixação de bancos, construção de um parque infantil e vedação da parte sul.

 

Na visita que se seguiu à cerimónia de inauguração, onde os convidados foram acompanhados pelos membros da Câmara Municipal de Ponta Delgada e pelo Eng. Estrela Rego, a reportagem do Diário dos Açores dá destaque a “uma «ficus», de grandes e majestosas raízes aéreas, a “uma imponente araucária e outras árvores e palmeiras de regiões tropicais”.

 

No mesmo dia, durante a tarde, o jardim foi visitado por milhares de pessoas, tendo o parque infantil sido “frequentadíssimo por inúmeras crianças de todas as classes sociais, que deram largas à sua alegria.

 

Após a abertura ao público, o espaço foi aproveitado para a dinamização cultural não só das populações da cidade, mas também de outros locais da ilha, com a realização de concertos por filarmónicas, o primeiro dos quais ocorreu no dia 15 de setembro, pela banda “Triunfo”, da Fajã de Baixo.

 

Como não há bela sem senão, a pressa em abrir o espaço ao público mereceu alguns reparos por parte de alguma comunicação social que criticou a ausência de alguns equipamentos fundamentais. Assim, o Correio dos Açores, de 17 de setembro de 1957, chamou a atenção para o seguinte:

 

“É natural que se tivessem notado deficiências que registamos com apelo ao sr. Presidente do Município, pelo que estamos certos de que as providências não se farão esperar.

 

Assim, é de extrema necessidade a construção de sanitárias para ambos os sexos e até para crianças.

 

Muitas famílias levam os seus farnéis, para ali passarem o dia. Nesta conformidade, seria de grande utilidade a colocação em diversos pontos do Jardim, de recipientes onde se pudessem deixar os resíduos dos farnéis e os papéis que os envolvem”

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32409, 14 de abril de 2021)

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