Apontamentos
históricos sobre a apicultura nos Açores
Gaspar
Frutuoso, ao descrever a fertilidade da ilha de Santa Maria, refere que apesar
de bom, o mel já não era tão abundante como dantes e que “abelhas há já
poucas”. Ainda em relação ao assunto, aquele cronista escreve que em alguns
anos era possível encontrar muito mel em abelheiras e que “no de mil e
quinhentos e setenta e nove, dois tiros de besta da Vila do Porto, na Ribeira
Grande dos Moinhos, achou um homem uma, de que tirou quatro canadas de mel”.
No
que diz respeito a São Miguel, Gaspar Frutuoso faz referência a um Bartolomeu
Roiz, dos Fenais da Luz, que possuía “na serra, onde morava, e em seu pomar,
perto de seiscentas colmeias, de que tirava cada ano mais de uma pipa e um
quarto de mel.” Sobre os preços do mel, Gaspar Frutuoso refere quem em 1510,
uma canada valia vinte réis e em 1515, trinta réis
O
primeiro cronista dos Açores menciona a sua abundância, em 1510, na Ribeira
Grande, junto ao Porto de Santa Iria, onde exista “muito mato de sanguinhal”. Segundo
ele, um dos moradores quando queria mel ia buscá-lo “ao sanguinhal, nas tocas e
buracos das árvores e sanguinhos, onde as abelhas criavam muito.”
Em
relação à ilha Terceira, Gaspar Frutuoso não só refere a abundância de mel como
regista algumas plantas melíferas, nos seguintes termos:
“Há muito mel e
bom pasto para ele, como é alecrim, rosmaninho, erva ussa, ou timo, queiró,
poejos, cubres e muitas flores de árvores diversas, muito género de ervas, de
que usam os boticários e se fazem águas cheirosas, manjericões, trevo, rosas,
cravos e outras muitas infinidades de laranjeiras, cidreiras, limoeiros,
limeiras, pereiras e peros de várias castas, que duram boa parte do ano”.
Nas
Saudades da Terra, há também referências à presença de “muita quantidade de mel
de abelhas e cera”, nas ilhas de São Jorge e Pico.
Em
1567, o italiano Pompeo Arditi, citado pelo regente agrícola Luís Manuel Agnelo
Borges, no seu texto “Breve Notícia sobre a apicultura regional (Ilha de São
Miguel)”, publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do
Arquipélago dos Açores, nº 18, elogia a qualidade do mel de São Miguel nos
seguintes termos: “É excelente o mel de abelhas, não me parecendo que possa
haver melhor, nem sequer igual”.
Na
sua “História Insulana”, o Padre António Cordeiro ao descrever o interior da
ilha de São Miguel, mais precisamente o
Vale das Furnas, refere que os padres da Companhia de Jesus, que se terá
instalado na localidade, segundo Luís Agnelo
Borges, em 1637, possuem “um colmeal tão grande, que cada ano lhes dá um
quarto, ou meia pipa de mel, e alguns anos pipa inteira, e mais de pipa, e a
cera correspondente; e assim cera, como o mel, excede na perfeição ao de
qualquer outra parte, por também as ervas, as flores, e as águas excederem
muito a todas das desta ilha”.
No
século XIX, até ao momento, apenas encontramos uma breve referência à
apicultura no nº 3, de março de 1848, da revista “O Agricultor Micaelense”.
Na
publicação mencionada, da responsabilidade da Sociedade Promotora da
Agricultura Micaelense, são apresentados os trabalhos que devem ser feitos nas
colmeias nos fins de fevereiro e no mês de março, de que se destaca o seguinte:
“limpam-se os cortiços das abelhas, de favos secos, traça, ou quaisquer outros
insetos, que neles se tenham introduzido, trazendo bem varridas as pedras, em
que eles estão sentados. Esta limpeza faz-se com um instrumento de ferro a que
chamam crestadeira, advertindo, porém, que é necessário primeiro fazer fumo
àquela parte do cortiço, em que se quer trabalhar para que, retirando-se as
abelhas à outra parte oposta, não se lhes possa causar dano”.
No
início da década de 50 do século passado, a Junta Geral pretendeu impulsionar a
apicultura, tendo criado uma Secção Apícola, na Estação Agrária, de Ponta
Delgada. Foi seu primeiro responsável Luís Agnelo Borges que fez um estágio no
Posto Central de Fomento Apícola, em Lisboa.
Um
dos primeiros trabalhos da referida Secção foi um recenseamento, sendo os
resultados obtidos os seguintes, para a ilha de São Miguel: 238 apiários, com
568 colmeias e 103 cortiços.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32510 18 de agosto de 2021, p. 9)
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