quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Apontamentos históricos sobre a apicultura nos Açores

 


Apontamentos históricos sobre a apicultura nos Açores

 

Gaspar Frutuoso, ao descrever a fertilidade da ilha de Santa Maria, refere que apesar de bom, o mel já não era tão abundante como dantes e que “abelhas há já poucas”. Ainda em relação ao assunto, aquele cronista escreve que em alguns anos era possível encontrar muito mel em abelheiras e que “no de mil e quinhentos e setenta e nove, dois tiros de besta da Vila do Porto, na Ribeira Grande dos Moinhos, achou um homem uma, de que tirou quatro canadas de mel”.

 

No que diz respeito a São Miguel, Gaspar Frutuoso faz referência a um Bartolomeu Roiz, dos Fenais da Luz, que possuía “na serra, onde morava, e em seu pomar, perto de seiscentas colmeias, de que tirava cada ano mais de uma pipa e um quarto de mel.” Sobre os preços do mel, Gaspar Frutuoso refere quem em 1510, uma canada valia vinte réis e em 1515, trinta réis

 

O primeiro cronista dos Açores menciona a sua abundância, em 1510, na Ribeira Grande, junto ao Porto de Santa Iria, onde exista “muito mato de sanguinhal”. Segundo ele, um dos moradores quando queria mel ia buscá-lo “ao sanguinhal, nas tocas e buracos das árvores e sanguinhos, onde as abelhas criavam muito.”

 

Em relação à ilha Terceira, Gaspar Frutuoso não só refere a abundância de mel como regista algumas plantas melíferas, nos seguintes termos:

 

“Há muito mel e bom pasto para ele, como é alecrim, rosmaninho, erva ussa, ou timo, queiró, poejos, cubres e muitas flores de árvores diversas, muito género de ervas, de que usam os boticários e se fazem águas cheirosas, manjericões, trevo, rosas, cravos e outras muitas infinidades de laranjeiras, cidreiras, limoeiros, limeiras, pereiras e peros de várias castas, que duram boa parte do ano”.

 

Nas Saudades da Terra, há também referências à presença de “muita quantidade de mel de abelhas e cera”, nas ilhas de São Jorge e Pico.

 

Em 1567, o italiano Pompeo Arditi, citado pelo regente agrícola Luís Manuel Agnelo Borges, no seu texto “Breve Notícia sobre a apicultura regional (Ilha de São Miguel)”, publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 18, elogia a qualidade do mel de São Miguel nos seguintes termos: “É excelente o mel de abelhas, não me parecendo que possa haver melhor, nem sequer igual”.

 

Na sua “História Insulana”, o Padre António Cordeiro ao descrever o interior da ilha de São Miguel, mais precisamente o  Vale das Furnas, refere que os padres da Companhia de Jesus, que se terá instalado na localidade, segundo Luís Agnelo  Borges, em 1637, possuem “um colmeal tão grande, que cada ano lhes dá um quarto, ou meia pipa de mel, e alguns anos pipa inteira, e mais de pipa, e a cera correspondente; e assim cera, como o mel, excede na perfeição ao de qualquer outra parte, por também as ervas, as flores, e as águas excederem muito a todas das desta ilha”.

 

No século XIX, até ao momento, apenas encontramos uma breve referência à apicultura no nº 3, de março de 1848, da revista “O Agricultor Micaelense”.

 

Na publicação mencionada, da responsabilidade da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, são apresentados os trabalhos que devem ser feitos nas colmeias nos fins de fevereiro e no mês de março, de que se destaca o seguinte: “limpam-se os cortiços das abelhas, de favos secos, traça, ou quaisquer outros insetos, que neles se tenham introduzido, trazendo bem varridas as pedras, em que eles estão sentados. Esta limpeza faz-se com um instrumento de ferro a que chamam crestadeira, advertindo, porém, que é necessário primeiro fazer fumo àquela parte do cortiço, em que se quer trabalhar para que, retirando-se as abelhas à outra parte oposta, não se lhes possa causar dano”.

 

No início da década de 50 do século passado, a Junta Geral pretendeu impulsionar a apicultura, tendo criado uma Secção Apícola, na Estação Agrária, de Ponta Delgada. Foi seu primeiro responsável Luís Agnelo Borges que fez um estágio no Posto Central de Fomento Apícola, em Lisboa.

 

Um dos primeiros trabalhos da referida Secção foi um recenseamento, sendo os resultados obtidos os seguintes, para a ilha de São Miguel: 238 apiários, com 568 colmeias e 103 cortiços.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32510 18 de agosto de 2021, p. 9)

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