Sobre o “Eco dos Operários”
Entre
1 de novembro de 1921 e 15 de dezembro do mesmo ano, publicou-se, em Ponta
Delgada, o jornal “Eco dos Operários”, propriedade das Associações Operárias
Micaelenses, tendo como diretor o operário Francisco Canejo Botelho e como
editor Artur d’Arruda.
O
quinzenário que apenas viu a luz do dia por quatro vezes, tinha a redação e a
administração localizadas na 2ª Travessa dos Mártires da Pátria, nº 13-D e era
composto e impresso na Rua Manuel Inácio Correia (Rua do Valverde), nºs 30 e
32.
Através
do texto “Duas palavras -a que vimos”, publicado no primeiro número, fica-se a
saber que o jornal não pretende erguer “a bandeira rubra da peleja desordenada
e violenta”, mas, pelo contrário, o seu lema é a “ordem consubstanciando as
aspirações máximas da tolerância e da liberdade.”
Jornal
do operariado e feito por operários, o seu objetivo principal é a “defesa dos
fracos, a do operariado e em geral a de todos os que trabalham”. Um carinho
especial é dedicado à educação dos operários “pela escola, pelo jornal e por
palestras”.
Para
além do referido, o jornal promete, por vezes ser rude e violento, mas nunca
injusto e embora pretenda evitar discussões inúteis garante que não fugirá
nunca quando for chamado à “luta num campo aberto e franco”.
De
entre os colaboradores do jornal destacamos os nomes de Jacinto Eduardo
Pacheco, coronel do exército, Silva Picanço, Manuel de Medeiros Cabral e
Marcial Osório Cordeiro. No mesmo, há citações do Padre António Vieira, poemas
assinados por Victor e um de Manuel Augusto de Amaral. No que diz respeito à
colaboração com outros órgãos da comunicação social, regista-se a transcrição
de um texto, sobre a situação política espanhola, publicado no jornal
anarcossindicalista, lisboeta, “A Batalha”.
O
colaborador mais assíduo e que assinou textos mais longos foi Jacinto Eduardo
Pacheco que escreveu sobre “A educação do operário”.
Depois
de, num primeiro texto, ter referido que, nos “países escandinavos e germanos”,
o proletariado, por não ser vítima do analfabetismo, havia contribuído para o
engrandecimento das suas pátrias, no segundo escreveu que não é possível
existir uma sociedade bem organizada sem que todos tenham instrução e educação
e acrescentou que a culpa é dos governos por não terem “procedido de modo a
disseminar, por todo o país, o número suficiente de escolas a poderem derramar
a instrução por todo esse povo analfabeto que, infelizmente, se encontra numa
pavorosa percentagem”.
De
entre as denúncias dadas a público pelo jornal, estão o elevado preço das
rendas das terras e o elevado custo de vida que faz com que haja emigração.
Sobre o assunto, podemos ler: “Como pois não hão de emigrar esses braços
robustos do trabalho, se na terra que lhes foi berço somente os rodeia o
desconforto e necessidades de toda a espécie?”
Do
poeta, natural de Água de Pau, que foi professor do ensino particular, em Ponta
Delgada, na Escola Minerva, Manuel Augusto de Amaral, transcrevemos o seu poema
“Fortunas criminosas”:
“Lembram charcos de imundície
Certas fortunas no mundo:
- Muito brilho à superfície!
- E muito lodo no fundo!
Ó donos de bens alheios,
Ó ladrões ricos e nobres,
Vossos cofres estão cheios
De pranto e suor dos pobres …
Sobre
a vida difícil, o já citado Victor, numa Gazetilha, escreveu:
Se
a vida assim continua,
Só
vejo uma solução:
Andar
toda a gente nua,
À
mãe Eva, e à pai Adão …
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32505, 11 de agosto de 2021, p.14)
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