quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Sobre o “Eco dos Operários”

 


Sobre o “Eco dos Operários”

 

Entre 1 de novembro de 1921 e 15 de dezembro do mesmo ano, publicou-se, em Ponta Delgada, o jornal “Eco dos Operários”, propriedade das Associações Operárias Micaelenses, tendo como diretor o operário Francisco Canejo Botelho e como editor Artur d’Arruda.

 

O quinzenário que apenas viu a luz do dia por quatro vezes, tinha a redação e a administração localizadas na 2ª Travessa dos Mártires da Pátria, nº 13-D e era composto e impresso na Rua Manuel Inácio Correia (Rua do Valverde), nºs 30 e 32.

 

Através do texto “Duas palavras -a que vimos”, publicado no primeiro número, fica-se a saber que o jornal não pretende erguer “a bandeira rubra da peleja desordenada e violenta”, mas, pelo contrário, o seu lema é a “ordem consubstanciando as aspirações máximas da tolerância e da liberdade.”

 

Jornal do operariado e feito por operários, o seu objetivo principal é a “defesa dos fracos, a do operariado e em geral a de todos os que trabalham”. Um carinho especial é dedicado à educação dos operários “pela escola, pelo jornal e por palestras”.

 

Para além do referido, o jornal promete, por vezes ser rude e violento, mas nunca injusto e embora pretenda evitar discussões inúteis garante que não fugirá nunca quando for chamado à “luta num campo aberto e franco”.

 

De entre os colaboradores do jornal destacamos os nomes de Jacinto Eduardo Pacheco, coronel do exército, Silva Picanço, Manuel de Medeiros Cabral e Marcial Osório Cordeiro. No mesmo, há citações do Padre António Vieira, poemas assinados por Victor e um de Manuel Augusto de Amaral. No que diz respeito à colaboração com outros órgãos da comunicação social, regista-se a transcrição de um texto, sobre a situação política espanhola, publicado no jornal anarcossindicalista, lisboeta, “A Batalha”.

 

O colaborador mais assíduo e que assinou textos mais longos foi Jacinto Eduardo Pacheco que escreveu sobre “A educação do operário”.

 

Depois de, num primeiro texto, ter referido que, nos “países escandinavos e germanos”, o proletariado, por não ser vítima do analfabetismo, havia contribuído para o engrandecimento das suas pátrias, no segundo escreveu que não é possível existir uma sociedade bem organizada sem que todos tenham instrução e educação e acrescentou que a culpa é dos governos por não terem “procedido de modo a disseminar, por todo o país, o número suficiente de escolas a poderem derramar a instrução por todo esse povo analfabeto que, infelizmente, se encontra numa pavorosa percentagem”.

 

De entre as denúncias dadas a público pelo jornal, estão o elevado preço das rendas das terras e o elevado custo de vida que faz com que haja emigração. Sobre o assunto, podemos ler: “Como pois não hão de emigrar esses braços robustos do trabalho, se na terra que lhes foi berço somente os rodeia o desconforto e necessidades de toda a espécie?”

 

Do poeta, natural de Água de Pau, que foi professor do ensino particular, em Ponta Delgada, na Escola Minerva, Manuel Augusto de Amaral, transcrevemos o seu poema “Fortunas criminosas”:

“Lembram charcos de imundície

Certas fortunas no mundo:

- Muito brilho à superfície!

- E muito lodo no fundo!

 

Ó donos de bens alheios,

Ó ladrões ricos e nobres,

Vossos cofres estão cheios

De pranto e suor dos pobres …

 

Sobre a vida difícil, o já citado Victor, numa Gazetilha, escreveu:

 

Se a vida assim continua,

Só vejo uma solução:

Andar toda a gente nua,

À mãe Eva, e à pai Adão …

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32505, 11 de agosto de 2021, p.14)

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