Nicolau Maria
Raposo do Amaral (filho) e as plantas
Nicolau Maria Raposo do Amaral (filho), que nasceu
em Ponta Delgada, em 1770, e faleceu na mesma cidade, em 1865, foi Coronel de
Milícias e seguiu as pisadas do pai, sendo um dos maiores negociantes de grosso
trato dos Açores. Tal como o pai continuou com as sementeiras de pinheiros.
Assim em 1809, acusa a receção de um barril de sementes de pinho manso, mas
refere que precisa de três alqueires de sementes dos “brabos”.
No ano seguinte, a 17 de setembro, volta a
pedir do continente seis alqueires de semente de pinho, tendo pouco depois
reforçado o pedido para que possa continuar a “plantação na qual de dia em dia tenho
maior gosto por ver a grande vegetação destas árvores, no terreno em que as
mando plantar.”
Em 22 de julho de 1811, volta a pedir sementes
de pinho para fazer depois a plantação num “sítio a meia légua distante da
minha fazenda dos Ginetes, aonde tenho dado princípio ao pinhal”.
Em 1812, há mais do que uma carta a fazer
referência ao envio de sementes de pinho e é também pedida sementes de pimenta
da Índia.
As sementeiras continuaram em 1813 e em 1814
Nicolau Amaral volta a pedir 4 alqueires de semente de pinho para poder
continuar as sementeiras e plantações.
Em 1817, pede por duas vezes sementes de pinho,
num total de 5 alqueires. Numa das cartas, datada de 12 de fevereiro, menciona
que “os pinheiros de 14 anos têm se altura 50-60 palmos”. Naquele ano, Nicolau
Amaral possuía 320 limoeiros, 470 laranjeiras e 2050 álamos.
Numa carta dirigida a 4 de junho de 1828, a
Pedro de Melo Breyner, Nicolau Amaral dá a conhecer as virtudes da faia,
espécie nativa dos Açores. Dado o seu interesse abaixo se transcreve um longo
extrato:
“Vejo o desejo que V.S.ª tem de lhe mandar faias daqui para
abrigar o pomar de árvores de espinho que está plantando , à maneira do que os
Micaelenses usam nos seus pomares, abrigo de muita utilidade, para a boa vegetação
das laranjeiras, privando-as em grande parte de padecerem os estragos que lhes
resulta dos grandes ventos assim como a fruta para não cair tanta, cuja falta
de abrigo dá motivo aos pomares de
espinho desse reino não terem árvores do tamanho das nossas, e tão frondosas
aumentando mais este mal, pelo uso constante de apanhar a fruta com parte da
ramagem, mutilação esta mui sensível à árvore e que não pode deixar de ficar em
miserável estado estando bem carregada de fruta, o que aqui se não pratica, e
que V. Ex.ª pode experimentar em algumas e ver o efeito, por que pode ser que a
vantagem das nossas seja só devido ao clima, e não ao que levo dito: porém de
resto lhes não pode fazer mal os dois benefícios apontados, a favor da sua
vegetação. Não só remeterei daqui a semente já pronta para semear, assim como
faias em disposição de se plantarem, e. enviarei a V. Ex.ª uma norma da maneira
de as plantar e semear para ser mais fácil ter pela semente melhor plantação do
que pela enviada, porque sua transplantação para os caixões, passagem do mar, e
de chegarem boas, e em tempo oportuno, tudo conspira a não surtir um tão bom
resultado como pela semente, e uma vez nascida está à disposição do cultivador
para a transplantar no tempo mais próprio, e o Sr. Luís da Câmara se for da vontade de V. Ex.ª pode ir ao seu
pomar explicar-lhe a maneira de se fazer os canteiros para se semear, distância
de sua plantação do tapume, e de árvore a árvore, largura, e comprimento dos
quartéis que se devem fazer para ficarem
as laranjeiras da parte de dentro de cada um, e por isso abrigadas, e desta
maneira pela inteligência que tem o dito sr. Luís da Câmara, fica V. Ex.ª
plenamente conhecendo como deve fazer esta plantação.”
Em 1841, em carta de 9 de fevereiro, Nicolau
Amaral escreve que continua a aumentar “a plantação de pomares de espinho,
assim como de pinheiros, e vinháticos em baldios, e matos que a sua casa tem, e
de que já faço um bom rendimento.”
Em 1852, numa das cartas, afirma que não envia
laranjas de São Miguel “porque todas as minhas quintas estão arruinadas do
madito coccus hesperidium e chegando ao ponto de reduzir o terreno outra vez a
cultura de pão, e por este causal seria a maior imprudência, o enviá-lo por
estarem atacadas por aquele insecto”.
Dois anos depois, Nicolau Amaral está um pouco
mais animado, pois a praga que atacava as laranjeiras não havia progredido. Na
mesma carta, datada de 22 de abril, comunica que recebeu bolota de carvalho
para semente.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores,
32690, 23 de março de 2022, p. 9)
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