quinta-feira, 24 de março de 2022

Nicolau Maria Raposo do Amaral (filho) e as plantas

 


Nicolau Maria Raposo do Amaral (filho) e as plantas

 

Nicolau Maria Raposo do Amaral (filho), que nasceu em Ponta Delgada, em 1770, e faleceu na mesma cidade, em 1865, foi Coronel de Milícias e seguiu as pisadas do pai, sendo um dos maiores negociantes de grosso trato dos Açores. Tal como o pai continuou com as sementeiras de pinheiros. Assim em 1809, acusa a receção de um barril de sementes de pinho manso, mas refere que precisa de três alqueires de sementes dos “brabos”.

 

No ano seguinte, a 17 de setembro, volta a pedir do continente seis alqueires de semente de pinho, tendo pouco depois reforçado o pedido para que possa continuar a “plantação na qual de dia em dia tenho maior gosto por ver a grande vegetação destas árvores, no terreno em que as mando plantar.”

 

Em 22 de julho de 1811, volta a pedir sementes de pinho para fazer depois a plantação num “sítio a meia légua distante da minha fazenda dos Ginetes, aonde tenho dado princípio ao pinhal”.

 

Em 1812, há mais do que uma carta a fazer referência ao envio de sementes de pinho e é também pedida sementes de pimenta da Índia.

 

As sementeiras continuaram em 1813 e em 1814 Nicolau Amaral volta a pedir 4 alqueires de semente de pinho para poder continuar as sementeiras e plantações.

 

Em 1817, pede por duas vezes sementes de pinho, num total de 5 alqueires. Numa das cartas, datada de 12 de fevereiro, menciona que “os pinheiros de 14 anos têm se altura 50-60 palmos”. Naquele ano, Nicolau Amaral possuía 320 limoeiros, 470 laranjeiras e 2050 álamos.

 

Numa carta dirigida a 4 de junho de 1828, a Pedro de Melo Breyner, Nicolau Amaral dá a conhecer as virtudes da faia, espécie nativa dos Açores. Dado o seu interesse abaixo se transcreve um longo extrato:

 

“Vejo o desejo que V.S.ª tem de lhe mandar faias daqui para abrigar o pomar de árvores de espinho que está plantando , à maneira do que os Micaelenses usam nos seus pomares, abrigo de muita utilidade, para a boa vegetação das laranjeiras, privando-as em grande parte de padecerem os estragos que lhes resulta dos grandes ventos assim como a fruta para não cair tanta, cuja falta de abrigo  dá motivo aos pomares de espinho desse reino não terem árvores do tamanho das nossas, e tão frondosas aumentando mais este mal, pelo uso constante de apanhar a fruta com parte da ramagem, mutilação esta mui sensível à árvore e que não pode deixar de ficar em miserável estado estando bem carregada de fruta, o que aqui se não pratica, e que V. Ex.ª pode experimentar em algumas e ver o efeito, por que pode ser que a vantagem das nossas seja só devido ao clima, e não ao que levo dito: porém de resto lhes não pode fazer mal os dois benefícios apontados, a favor da sua vegetação. Não só remeterei daqui a semente já pronta para semear, assim como faias em disposição de se plantarem, e. enviarei a V. Ex.ª uma norma da maneira de as plantar e semear para ser mais fácil ter pela semente melhor plantação do que pela enviada, porque sua transplantação para os caixões, passagem do mar, e de chegarem boas, e em tempo oportuno, tudo conspira a não surtir um tão bom resultado como pela semente, e uma vez nascida está à disposição do cultivador para a transplantar no tempo mais próprio, e o Sr. Luís da Câmara  se for da vontade de V. Ex.ª pode ir ao seu pomar explicar-lhe a maneira de se fazer os canteiros para se semear, distância de sua plantação do tapume, e de árvore a árvore, largura, e comprimento dos quartéis  que se devem fazer para ficarem as laranjeiras da parte de dentro de cada um, e por isso abrigadas, e desta maneira pela inteligência que tem o dito sr. Luís da Câmara, fica V. Ex.ª plenamente conhecendo como deve fazer esta plantação.”

 

Em 1841, em carta de 9 de fevereiro, Nicolau Amaral escreve que continua a aumentar “a plantação de pomares de espinho, assim como de pinheiros, e vinháticos em baldios, e matos que a sua casa tem, e de que já faço um bom rendimento.”

 

Em 1852, numa das cartas, afirma que não envia laranjas de São Miguel “porque todas as minhas quintas estão arruinadas do madito coccus hesperidium e chegando ao ponto de reduzir o terreno outra vez a cultura de pão, e por este causal seria a maior imprudência, o enviá-lo por estarem atacadas por aquele insecto”.

 

Dois anos depois, Nicolau Amaral está um pouco mais animado, pois a praga que atacava as laranjeiras não havia progredido. Na mesma carta, datada de 22 de abril, comunica que recebeu bolota de carvalho para semente.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32690, 23 de março de 2022, p. 9)

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