quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Há política para além do voto?



19 Setembro 2012 

Em 1849, Proudhon, que foi deputado à Assembleia Nacional no seu país, escreveu que tinha ingressado naquele órgão com entusiasmo, o que tem qualquer principiante, e que fora assíduo, entrando pelas 9 horas da manhã e saindo ao anoitecer, “exaurido de cansaço e de desgosto”
Segundo ele, “absorvido pelas tarefas legislativas, perdia inteiramente de vista os acontecimentos do momento” e acrescentou “que só quem tenha “vivido naquela câmara de isolamento” podia “entender como, quase sempre, justamente os homens que mais completamente desconhecem a situação do país são aqueles que o representam”.
Não posso afirmar, categoricamente, se esta situação se mantém ainda hoje, mas pelas conversas que, esporadicamente, tenho mantido com alguns deputados, parece-me que não deve estar muito longe da realidade.
Preocupados com a “alta política”, muitos dos que dizem ser nossos representantes desconhecem, ou fingem desconhecer, a situação de penúria em que vive uma parte cada vez maior da população que, infelizmente, não se manifesta contra nada por ter sido “treinada” para estar calada, para estender a mão à caridade, para “roubar” a quem tem tão pouco ou um pouco mais do que eles.
Mas, tão grave como o desconhecimento é o silêncio que muitos deputados mantém perante os mais diversos temas. É porque não são os deputados escolhidos pelo seu partido para falar sobre o assunto. É porque não se informaram suficientemente e têm medo de por o pé na argola. É porque conscientemente ou pressionados estão ao serviço de interesses que não são o do bem comum. É porque têm receio de que as suas opiniões não sejam coincidentes com a “linha oficial” do partido. É porque vem aí as eleições e há que assegurar um bom lugar nas listas. É porque….
A propósito de listas, aqui apresento dois exemplos que gostaria que alguém me explicasse:
Que explicação, razoável para além da caça ao voto, existe para que o jornalista Pedro Moura (nada tenho contra o Pedro que sempre me deu tempo de antena no seu programa) esteja coloca do numa posição acima da do governante José Contente que já deu provas como político, goste-se ou não do que ele fez ou como o fez, partilhe-se ou não as suas ideias.
Como se explica a posição do deputado Rui Ramos na lista do seu partido? O seu desempenho ficou muito aquém do desejado? 
Muito antes da campanha eleitoral ter começado ouvi várias pessoas a apelar ao voto no seu partido. A distração ou a ânsia de chegar à Assembleia Legislativa Regional dos Açores é tanta que um dos partidos políticos já tem vários painéis publicitários a pedir o voto aos eleitores.
Mais comedidos, alguns colegas professores, em conversa sobre a situação da região e sobre as previsões dos resultados das próximas eleições regionais, por diversas vezes, sabendo que costumo ser abstencionista, já apelaram para que, independentemente da minha opção, vá votar. O argumento é o do costume: se não fores votar os outros decidem por ti.
Que motivação tenho para votar se vou escolher alguém que já foi escolhido pelos “comités centrais” de todos os partidos? 
Que motivação tenho para votar se o que vou fazer é sempre escolher o que eu penso que em determinado momento é o menos mau?
Que motivação tenho para votar quando sei que há pelo menos dois deputados que são eleitos com uma centena de votos? 
É certo que, neste momento, ainda não decidi se vou deslocar-me a uma mesa de votos. Mas, custa-me muito responder afirmativamente ao pedido que me fazem e porquê?
Porque não admito que me peçam o voto quando depois dele nunca mais querem saber a minha opinião.
Porque não aceito que até hoje não se tenham criado mecanismos para os cidadãos participarem efetivamente na vida social e política da região.

Teófilo Braga

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