quarta-feira, 5 de setembro de 2012

POÇOS DE MARÉ EM SÃO MIGUEL






Um amigo meu de longa data que muito tem contribuído para o conhecimento da fauna açoriana, nomeadamente a existente nas grutas vulcânicas perguntou-me, há algum tempo, se conhecia a existência, na ilha de São Miguel, de poços de maré com o objetivo de tentar encontrar pequenos crustáceos subterrâneos. Segundo ele, a presença de crustáceos subterrâneos, em poços de maré, já foi detetada nas ilhas do Faial, do Pico e de Santa Maria.
Tendo lançado um pedido de ajuda, através do correio eletrónico, fiquei a saber que a esmagadora maioria das pessoas contatadas não tem qualquer conhecimento da sua existência e alguns mesmos acharam que na ilha de São Miguel, dada a abundância de água, nunca houve a necessidade de os construir.
Antes de prosseguir, e para evitar a confusão com poças de maré,  locais onde as águas ficam paradas durante os períodos de maré baixa, esclarece-se que os poços de maré são construídos pelo homem, em locais próximos do mar, podendo a sua forma ser circular, retangular ou quadrangular.
Consultando vários textos da autoria do Dr. Carreiro da Costa, poder-se-á concluir que Ponta Delgada nos primeiros tempos da sua existência terá recorrido a poços de maré para o abastecimento dos seus habitantes. Num dos textos, o Dr. Carreiro da Costa refere a presença de “poços de água salobra”, em Ponta Delgada, e noutro ao falar na falta de água relata a necessidade do recurso aos antigos poços, tendo enumerado “o poço do Areal (do Areal de S. Francisco, junto à fortaleza de S. Brás), e “o poço de S. Pedro”.
Não estarão os nomes de alguns locais e ruas, como a rua do Poço, em Ponta Delgada, e a canada do Poço e o largo do Poço Velho, em São Roque, associados à presença de antigos poços de maré?
Vou continuar as minhas pesquisas bibliográficas e vou partir para o terreno à procura de antigos poços de maré, pois tenho já indicações da sua presença junto à Praia do Pópulo.
Os poços de maré são um marco da luta do homem pela sua sobrevivência em locais onde não existiam nascentes nem ribeiras. Em São Miguel, merecem ser inventariados (se ainda não o foram) e protegidos antes que desaparecem por completo.
Teófilo Braga
(Terra Nostra, nº 577, 31 de Agosto de 2012)

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