Um
amigo meu de longa data que muito tem contribuído para o conhecimento da fauna
açoriana, nomeadamente a existente nas grutas vulcânicas perguntou-me, há algum
tempo, se conhecia a existência, na ilha de São Miguel, de poços de maré com o
objetivo de tentar encontrar pequenos crustáceos subterrâneos. Segundo ele, a
presença de crustáceos subterrâneos, em poços de maré, já foi detetada nas
ilhas do Faial, do Pico e de Santa Maria.
Tendo
lançado um pedido de ajuda, através do correio eletrónico, fiquei a saber que a
esmagadora maioria das pessoas contatadas não tem qualquer conhecimento da sua
existência e alguns mesmos acharam que na ilha de São Miguel, dada a abundância
de água, nunca houve a necessidade de os construir.
Antes
de prosseguir, e para evitar a confusão com poças de maré, locais
onde as águas ficam paradas durante os períodos de maré baixa, esclarece-se que
os poços de maré são construídos pelo homem, em locais próximos do mar, podendo
a sua forma ser circular, retangular ou quadrangular.
Consultando vários textos da autoria do Dr. Carreiro da
Costa, poder-se-á concluir que Ponta Delgada nos primeiros tempos da sua
existência terá recorrido a poços de maré para o abastecimento dos seus
habitantes. Num dos textos, o Dr. Carreiro da Costa refere a presença de “poços
de água salobra”, em Ponta Delgada, e noutro ao falar na falta de água relata a
necessidade do recurso aos antigos poços, tendo enumerado “o poço do Areal (do
Areal de S. Francisco, junto à fortaleza de S. Brás), e “o poço de S. Pedro”.
Não estarão os nomes de alguns locais e ruas, como a rua do Poço,
em Ponta Delgada, e a canada do Poço e o largo do Poço Velho, em São Roque,
associados à presença de antigos poços de maré?
Vou continuar as minhas pesquisas bibliográficas e vou partir
para o terreno à procura de antigos poços de maré, pois tenho já indicações da
sua presença junto à Praia do Pópulo.
Os poços de maré são um marco da luta do homem pela sua
sobrevivência em locais onde não existiam nascentes nem ribeiras. Em São
Miguel, merecem ser inventariados (se ainda não o foram) e protegidos antes que
desaparecem por completo.
Teófilo Braga
(Terra Nostra, nº 577, 31 de Agosto de 2012)
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