quarta-feira, 30 de novembro de 2016
PARQUES ZOOLÓGICOS OU BIOLÓGICOS ?
PARQUES ZOOLÓGICOS OU BIOLÓGICOS ?
“Sei que os bons jardins zoológicos são importantes
por muitas razões, mas aprendi o suficiente para me aperceber dos danos causados aos animais ao mantê-los cativos. E simplesmente não quis continuar”
Desmond Morris, responsável durante dez anos pelos mamíferos do Zoo de Londres
Com o texto que se apresenta, hoje, aos leitores do Açoriano Oriental pretende-se, por um lado, mostrar que são postos em causa alguns dos objectivos para que foram criados os Jardins Zoológicos e, por outro, dar a conhecer a experiência muito interessante de exposição de animais selvagens que é feita no Parque Biológico de Vila Nova de Gaia, a qual pretende não colidir com os princípios éticos e pedagógicos da Educação Ambiental.
De acordo com Barba e Ramis (2000), nos Zoológicos estão em causa a pretensa função educativa e o seu papel na conservação das espécies.
No que diz respeito à sua função educativa, o facto dos animais enjaulados em pequenos recintos apresentarem comportamentos anormais, em nada contribui para o real conhecimento das diversas espécies. Alguns pedagogos sustentam mesmo que o cinema, a televisão, as animações informáticas constituem um recurso muito mais útil do que os parques zoológicos.
A segunda ideia, a de que os jardins zoológicos contribuem para a preservação de algumas espécies com vista à sua reintrodução na natureza, é também posta em causa pelos autores que vimos citando. Com efeito, aqueles autores referem que são muito poucos os casos em que tal aconteceu e mencionam o facto de nos anos 90 das três mil espécies em cativeiro em zoológicos apenas 66 estavam em vias de extinção.
No ano passado, embora não haja um levantamento exaustivo da situação, calculava-se em mais de 50 o número de parques zoológicos existentes em Portugal, a maioria a funcionar de modo bastante precário. Assim, de acordo com Helena Freitas, presidente da Liga Para a Protecção da Natureza, “o que se verifica é que os parques zoológicos são meras instituições de actividades lúdicas e até de alguma exploração animal ligada a actividades financeiras, quase industrializadas.”
É verdade que, em todo o mundo, existem bons exemplos de Jardins Zoológicos que se têm modernizado e que apresentam bons resultados no campo da criação de animais em cativeiro e da educação ambiental.
Não sendo um parque zoológico, o Parque Biológico de Vila Nova de Gaia, com uma área de 35 hectares, possuiu 500 animais em cativeiro e semi-cativeiro espalhados por quarenta instalações e já recuperou e restituiu à natureza alguns milhares de animais selvagens.
A presença de animais em cativeiro, no Parque Biológico de Gaia, obedece a alguns princípios, de que se destacam:
1- Os animais presentes não podem sobreviver no estado selvagem ou porque já foram criados em cativeiro ou porque apresentam uma incapacidade permanente, isto é um ferimento ou habituação ao homem, ou são espécies domésticas.
2- A dimensão, a localização, o arranjo e a vegetalização das gaiolas são de modo a recriar as características do habitat natural e evitar o stress.
3- A observação dos animais é feita a partir de observatórios com informação sobre as espécies a serem observadas e que permitem a apreciação das espécies com comportamentos normais.
4- Em caso nenhum os animais são comercializados, para não incentivar essa prática.
Terminaríamos, apelando às entidades governamentais para que façam aprovar o mais cedo possível a legislação que adapta a Directiva Comunitária “relativa ao estabelecimento de normas mínimas para a manutenção de animais em jardins zoológicos” e a façam cumprir na íntegra. No caso dos Açores, é importante adaptar à Região o Decreto-Lei nº 565/99, de 21 de Dezembro e fazer aplicar a Resolução nº 148/98, de 25 de Junho que “visa limitar a possibilidade de disseminação através da evasão de espécimes, de espécies não indígenas, até à publicação da regulamentação sobre a detenção, criação em cativeiro e introdução de espécies exóticas”. Por último, chama-se a atenção para a necessidade da criação de Centros de Recuperação de Animais Selvagens, sobretudo para aves, na Região Autónoma dos Açores.
Bibliografia:
Anónimo, (2001), “500 Animais”, Parque Biológico de Gaia- Natureza em Festa”, Maio, pp. 12-13.
BARBA, C., RAMIS, S., (2000), “Serão hoje necessários?”, Ozono, Novembro, pp.29-32.
LUCAS, H., (2000), “Parques Zoológicos em Portugal”, Ozono, Novembro, pp.33-34.
Resolução nº 148/98, de 25 de Junho.
Decreto-Lei nº 565/99, de 21 de Dezembro.
(Publicado no Açoriano Oriental, 8 de Outubro de 2001)
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