quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O Halley entre nós em 1910


O Halley entre nós em 1910

Um cometa é um corpo celeste, com massa muito pequena quando comparada com a da Terra, formado por material rochoso e gelo.

De acordo com Carole Stott e Clint Twist “existem biliões de cometas em órbita do Sol, a uma distância aproximada de um ano-luz”(1).

Há cometas que devido à ação gravitacional dos planetas acabam por sair do sistema solar e outros que ficam a mover-se em torno do Sol com órbitas pequenas. Estes últimos, nas suas passagens periódicas nas proximidades do Sol ficam visíveis no céu noturno.

De todos os cometas, o mais famoso é o Halley, cujo nome se deve a Edmund Halley (1656-1742), astrónomo inglês que segundo Máximo Ferreira e Guilherme de Almeida calculou “a sua órbita com base nos elementos colhidos em passagens anteriores”.

A última aparição do cometa Halley, que regressa de 76 a 76 anos, ocorreu em 1985-86 e não despertou grande atenção pois foi dificilmente observável à vista desarmada. Talvez o que terá marcado esta última passagem foi lançamento de duas sondas que foram ao seu encontro com o objetivo de o conhecer melhor.

Desde a antiguidade o aparecimento dos cometas estava associado a catástrofes naturais e a muitas lendas e crendices. A título de exemplo, refiro o caso do Papa Calixto II que excomungou o cometa Halley em virtude daquele ser um instrumento do diabo e a acusação feita ao Halley, no Reino Unido, de ser responsável pela peste negra.

A passagem do cometa Halley próximo da Terra, em 1910, não foi esquecida por alguns jornais de São Miguel que a ele dedicaram vários textos.

O jornal Açoriano Oriental, de 14 de maio de 1910, relatou tentativas frustradas de observar o cometa Halley nos seguintes termos:

“Já fizemos duas tentativas para lobrigar o cometa d’Halley, que tem sido visível por sobre a serra de Água de Pau, mas não o conseguimos. D’uma vez estava o céu muito nublado; d’outra, tinham já dado 4 horas, e o cometa tornara-se invisível.

Como, porém, se diz que depois do dia 18 do corrente, tornar-se-á astro da tarde, esperamos tranquilamente por essa data.

E nada de sustos, gente timorata. Os sábios assim aconselham. As desgraças pela sua aparição passaram já”.

A 21 de maio de 1910, o Açoriano Oriental voltou a referir-se ao Halley e aos medos a ele associados do seguinte modo:

“Estão já sossegados os ânimos com respeito ao cometa d’ Halley. Passou o dia 18 e nada se deu que produzisse o menor abalo.

Em Espanha, segundo um telegrama para o “Correio Micaelense”, é que houve grande agitação, chegando a dar-se alguns suicídios em Madrid”.

O semanário “O Autonómico”, de Vila Franca do Campo, por seu lado, procurou, através de quatro textos assinados por C. Flammarion, dar uma explicação “científica“ sobre os cometas. No texto introdutório, o autor mencionou o facto do medo dos cometas ser “uma doença periódica” por persistir “na sociedade uma camada assaz intensa de ignorância” e acrescentou: “o medo irrefletido, o medo sem motivos é uma d’essas consequências e o medo é um conselheiro sem juízo”.,

(1) Ano-luz é a distância percorrida pela luz durante um ano (9,5 x 105 m).

Teófilo Braga
(Correio dos Açores 16 de novembro de 2016, p.16)

https://www.youtube.com/watch?v=ILyWUav4nfQ

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